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02/11/15

a guerra (ganha) das calças

.... ou ... de como quem luta, às vezes vence!

a mulher -  o outro
Vem isto a propósito de um recorte de jornal (dos anos 60 do século passado), que alguém publicou no facebook : A mulher vai ganhar a "guerra" das calças (excerto e foto abaixo).

Pois acontece que eu (a 'antiguidade' é lixada!..) sou desse tempo em que os podres poderes se arrogavam o direito de ditar o que cada um (uma, no caso!) podia e não podia vestir. 
Agora legislam sobre o aborto ou o casamento homossexual como se um direito assim lhes assistisse, como se não fossem estas questões, apenas, do foro pessoal e uma responsabilidade individual. 
Dantes era a roupa, e os argumentos prendiam-se com a "decência", que o mesmo é dizer a moral e os "bons costumes" tão caros à Igreja Católica e ao Estado Novo. Tempos de um Salazar acolitado por um Cerejeira, bafientos os dois, mais a sociedade que assim controlavam, amarfanhando-a, tolhendo-a de regras castradoras e de culpabilidades. As mulheres como alvos a domesticar, a abater nas suas veleidades igualitárias.

Eu era pré-adolescente e lembro-me bem: gostava de andar correndo, subia às árvores, trepava por tudo quanto fosse muro. Tinha até, com as minhas amigas, um clube secreto inspirado nos livros dos Cinco e dos Sete, coisa arriscada de intrepitudes incompatíveis com esses artifícios "femininos" chamados saias, pior ainda, vestidos. Que eu, de resto, odiava. Lembro-me de convencer a minha muito-p'ra-frente-mãe a comprar-me calças de rapaz, as únicas que então se encontravam no recém-criado "pronto-a-vestir". E lá fui andando, "calç-ada", até que, jovem aluna, cheguei ao Liceu Nacional de Viseu. Frio de rachar naqueles invernos, neve todos os anos, e, de repente, a proibição: as raparigas não podem usar calças! Já nem sei se fui chamada ao reitor, se lhe visitei o gabinete por iniciativa própria, os meus "porquês" de sempre, ainda hoje. A explicação, que na altura mal-percebi: «As calças, usadas pelas raparigas, despertam pensamentos lascivos nos rapazes.» Ora toma! Se, até aos meus verdíssimos 11, 12 anos, o conceito de "concupiscência" me era totalmente alheio, depois da reitoral proibição-justificação ele passou a fazer parte do meu imaginário pecaminoso, inocentemente equacionado, depois, em torturas confessionais.

De notar, no artigo abaixo, a proibição, não só de calças, mas também de ... imagine-se, botas!! A imagem idealizada (e imposta!) da "fada do lar" - bibelot, mulher que se quer asséptica e acéfala, abonecada e abnegada, servil . E o tanto que, desde então, se evoluiu, fruto da luta de tantas! A "guerra" das calças, como anos depois viria a ser a da recusa do sutiã, alegorias de uma consciencialização daquele valor maior inscrito na Declaração dos Direitos Humanos ou, ainda antes, nos princípios da Revolução Francesa: IGUALDADE.

A que .... de resto, os homens, neste particular dos "usos e costumes", não ..... aspiram?
Enquanto as mulheres conquistaram o direito de se vestirem como muito bem lhes apetece, desfazendo a fronteira do "masculino-feminino" no que respeita às indumentárias, os homens continuam, década após década, presos a um modelo identificatório da sua "masculinidade", a moda que não inova nem arrisca. Um direito ao cor-de-rosa, enfim ... e não passa praticamente disso.
Sempre achei uma injustiça, isso de os homens não poderem vestir-se fora do cinzentismo dominante, sem que lhes venham depreciar a orientação sexual! A gravata, então ( ... ) acho-a um perfeito instrumento de tortura! E o mesmo se aplica à maquilhagem! Porque é que as mulheres podem e os homens não? Parece-me que, aí, meus amigos, a culpa é vossa. Os homens lutaram muito pouco por esse direito, essa igualdade! Pior, regrediram! Era só ver-vos o colorido aí pelo século XVII! Conquistas para esses lados, só mesmo no tocante ao comprimento dos cabelos, vá lá! E ... não, não estou a ser, nem sarcástica, nem irónica. Uma ânsia de rebelião, apenas, pelos meus e os vossos, pelos direitos de todos.


- artigo de  Maria João Leitão,
excerto:
 « (…) a explosão do uso das calças provocou, nas últimas semanas, em Portugal, certa controvérsia nos liceus, escolas e empresas, pois nem em toda a parte se sabe exactamente da existência (ou não) de qualquer disposição oficial sobre o assunto. 
«Não existe nenhuma regulamentação oficial que as proíba», esclareceu-nos o Ministério da Educação. «Há, apenas, uma disposição dizendo que as alunas e professoras se devem apresentar vestidas com dignidade e decência, não especificando o que se considera menos digno ou indecente». 
Foi assim que alguns estabelecimentos permitiram há pouco tempo o uso de calças, tanto pelas alunas como pelas suas professoras. «Na escola onde lecciono – explica uma jovem professora – já há autorização, mas ainda ninguém se atreveu a vesti-las». 
(…) 
Uma das telefonistas de uma empresa, cujo horário rotativo a faz trabalhar até à meia-noite, apareceu, há dias, com calças compridas, para se proteger do frio. Foi-lhe dito que, segundo ordens superiores, era proibido às empregadas vestirem-se daquela maneira. 
Numa outra grande empresa, o uso das calças também não é consentido. Nem sequer o das botas! Um superior, vendo uma empregada de botas, perguntou: «Acha que isto é alguma cavalariça?»  

........ e .... surpresa!!
Só em 2013 foi revogada uma lei (de 1800*) que proibia as mulheres de usarem calças compridas em ... Paris!!
ler aqui
 *
instaurada logo após a Revolução Francesa, que exigia a mulheres que se quisessem vestir como homens que pedissem autorização à polícia

___________ e, aqui, uns homens que me dão razão! ;)
«O objetivo dos membros de Hommes en Jupe (pg. no facebook) é liberalizar o guarda-roupa masculino. Eles se inspiram na luta das mulheres há algumas décadas pelo direito de usar calças e querem fazer com que as saias possam ser usadas no dia-a-dia como uma peça normal do vestuário masculino.
Consideram a saia confortável, agradável, não querem passar o resto da vida limitados ao uso de calças e alegam que a moda masculina hoje é “pobre” e sem imaginação.»

06/07/15

Se eu fosse Tsipras, filosofava

..... in English at the bottom ......

Afrodite de Cnido
Se eu fosse Tsipras, saía já, já, do euro. Mandava o Banco da Grécia (suponho que exista lá um ..) fazer dinheiro, dracmas sem fim. E emprestava-o depois aos bancos, aos agiotas, com os mesmos juros que eles cobram às pessoas.
E mandava o tal banco fazer mais dinheiro ainda (Pois não é tudo isto uma abstracção? O que se ganha e se perde, em esferas bolsistas, virtuais?) .. E distribuía riquezas pelo povo: a cada um segundo as suas necessidades, basicamente: primeiro os pensionistas, que dele bem devem precisar, depois todos os mal-pagos e explorados trabalhadores, privados ou públicos. Dava emprego a quem goste de trabalhar, aos outros subsidiava-os, filósofos fossem, e humanistas.
Se eu fosse Tsipras, ia ver os "sinais exteriores de riqueza" e taxava os ricos. Cobrava-lhes justamente pelas várias casas, os carros de luxo, os esbanjamentos e as muitas riquezas em offshores. E investia o que lhes retirasse nos sectores-chave do Estado: a Saúde Educação Cultura, a Habitação e os Transportes, o Saneamento básico.
Se eu fosse Tsipras, promovia bem-promovido o sol e a música e as artes, no estrangeiro frio e sisudo. Sim ... o que sabemos nós dos gregos-hoje, afinal? Que escritores conhecemos? Que pintores? Que filósofos?
Se eu fosse Tsipras, vendia este estar assim inteiro, vertical, que muitos mundos demos ao mundo e outros ainda lhe havemos de dar. A todos os homens e às mulheres de boa vontade pediria uma contribuição -- só-a-quem-queira-e-possa. E.. ohhhhh , ensinava-os a dançar, sim, que se eles dançassem ... primeiro os alemães e os franceses, e depois os belgas, holandeses, finlandeses, tanto que parecem precisar!

Se eu fosse Tsipras, cobrava -- com boa cara -- tudo o que os gregos desde a Antiguidade nos ensinaram. Fazia da Europa inteira um de-boa-vontade-ainda-que-obrigado-mecenas, mais abnegados e generosos os que da solidariedade, da dignidade e da coragem tão sem remorso e em consciência se afastaram.
Se eu fosse Tsipras, eu ... filosofava.
...................
Tivesse ganho o NAI/Sim, e o futuro que teríamos todos os espoliados desta Europa-que-se-queria-outra seria um caminhar no escuro ad eternum, um apagar a luz ao fundo do túnel. Um futuro sem túnel, a bem dizer. Seria fazer o que mal-fazemos hoje, os portugueses, enfiar a cabeça na areia e vergar, e aguentar, aguentar. Nobre povo? Nação valente? Deixem-me rir!

Tivesse ganho o Nai do referendo grego, e seria este aceitarmos a canga vil "sem uma rebelião, um mostrar de dentes". Seria admitirmos que já nem voz temos, uma que seja divergente e que grite e que se faça ouvir. Seria este aceitarmo-nos escravos no século XXI, humildes e macambúzios, seria este des-ser que em Portugal se agiganta, único futuro devir, a servidão. Seria dizermos que a emigração é coisa natural, e a fome e o perder a casa, e o trabalho-escravo e o desemprego e as pensões irrisórias dos velhos, quem lhes vale a eles, que já nem força têm para "sacudir as moscas"?
Tivesse ganho o Nai, e seria deixarmos esvaírem-se-nos estes direitos tão duramente adquiridos, como uma fatalidade ou uma canga que pesa e nos afunda mais e mais, o focinho a comer o pó dos dias e do chão, e ainda assim se aceita como inevitável, necessária, o que se deve (mas quem deve e a quem?!) tem de se pagar custe o que custar, OMG!
Tivesse ganho o Nai, e seria renunciarmos todos, os PIIGS e os outros, a sermos gente, nós que da dignidade não percebemos nem já o sentido, da alegria perdidos, pobres sísifos e jós, marionetas de um jogo sujo que nos subjugou, apalermados e macambúzios. -- mas pagamos ao senhor Durão Barroso (132 mil euros por ano!) e não bufamos, achamos .. natural? Um destino?, enquanto nos esganiçamos contra os perdulários dos gregos, uma cabeleireira com reforma meio-antecipada, onde já se viu? (pois ... pensem se gostavam .. , o dia inteiro de pé mais as tintas e os secadores..) Mas porque insistem eles em bater nas mesmas, estafadas teclas?!
Se eu fosse Tsipras, mandava-os a todos bugiar. E mandava o Banco da Grécia fazer o-dinheiro-que-faz-falta. Muito, todo o necessário para calar os bufos de que eu não gosto, passos-e-cavaco-e-rangel-e-outros-da-mesma-laia. Se eu fosse Tsipras ..
Se eu fosse Tsipras, filosofava.

.... e "Mais que isto ", segundo Fernando Pessoa,  " É Jesus Cristo, / Que não sabia nada de finanças / Nem consta que tivesse biblioteca..."

ou, como disse o grande filósofo português, Agostinho da Silva,
"que o homem possa passar à sua verdadeira vida, que é a de contemplar o mundo, ser poeta do mundo, e o mundo poeta para ele, de tal maneira que nunca mais ninguém se preocupe com fazer tal ou tal obra, mas por ser tal ou tal objecto no mundo, a identidade dele, a única."
...............................
.
If I were Tsipras I would go out of the euro zone, right, right away. I would command the Bank of Greece (suppose they have one there..) to make money, loads and loads of dracmas. And I’d then lend it to the banks, the loan-sharks, at the same interest rates they use with people. 
And I’d instruct that bank to make still more money – after all, isn’t this all an abstraction? What you win and lose in virtual markets and stock exchanges? And I would distribute wealth among the people: to each one according to his needs, basically: first of all, to pensioners who are most likely to need it, then to all the overworked, underpaid workers, private or public. I’d give a job to whoever would want it, subsidize the rest, yet philosophers they should be, and humanists. 

If I were Tsipras, I’d check all “external signs of richness” and I' d tax the rich. I’d very justly tax them for the extra houses, the luxury cars, the extreme spending and the immense amounts in offshores. And I would invest the taxed wealth in key sectors of society: health, education, culture, housing and public transports, sanitation. 

If I were Tsipras, I would well-promote the sun and the music and the arts within those cold, stern foreign countries. What do we know about today’s Greeks, by the way? Which writers, which painters do we know? Which philosophers? 

If I were Tsipras, I’d sell this being whole that is theirs, this being vertical, 'cause many worlds have we given to the world and many more will we give them. To all the good-willed men and women I’d ask for a contribution – only to those who can and are willing to. And .. ohhh yes, I’d teach them to dance. If only they danced .. first the Germans and the French, then the Belgians, Dutch, Finnish ... and so needy do they appear to be! 

If I were Tsipras, I’d collect – brave-facedly – all that the Greeks since Antiquity have taught us. I’d make the whole Europe a willingly-even-though-forced maecenas, the more consciously and free of remorse driven from these values, the more abnegated and generous . If I were Tsipras, I would ... philosophise. 
................................. 

Had the Nai/Yes won, and the future of all the excluded people in this other-Europe-we’ve-longed-for would be an ad eternum path into the dark, a turning off the light at the end of the tunnel. A future without a tunnel, to put it bluntly. It would be what we, the Portuguese, badly do, to press our necks to the ground and bend and endure and endure. Noble people? Valiant nation? Don’t kid me! 

Had the Nai won in Greece’s referendum, it would mean accepting the vile yoke “without a rebellion, a grin, a bark”. It would be admitting you don’t even have a voice, one that is divergent and yells and is heard. It would mean accepting we are XXI century slaves, humble and mourning, it would mean this giant perception of not-being that we have in Portugal, servitude being our only future. It would mean that emigration is a natural thing, and so are hunger and losing your home and slave-work and unemployment and the derisory pensions -and who will help them, poor old chaps who lack the strength to even “brush off the flies”? 

Had the Nai won, and it would mean having these rights we've so painfully acquired fade away, as a fatality or a yoke that weighs and sinks us more and more, our maul eating the dust of days and ground and still accepting it as inevitable, necessary, what you owe (but who owes what to whom?!) must be paid back at any cost, OMG! 

Had the Nai won, and it would mean that we all (PIIGS and others) would renounce to be people, all lost from dignity and joy, silly and sad puppets on a vicious string we would be, poor sisyphuses and jobs. – We, who pay mr. Durão Barroso 132.000 euros a year and find it ... natural? A fate?, while we screech over the extravagant Greeks, a hairdresser with an early retirement, fancy that! (well, just try standing all day, all the stinking dies and the noisy driers..) But why on earth do they insist on the same, tired arguments? 

If I were Tsipras, I’d tell them all to bugger off. And I’d instruct the Bank of Greece to make all the necessary money. A lot of it, surely enough to shut up the snitches I don’t like, passos-e-cavaco-e-rangel-and-alike. If I were Tsipras .. 
If I were Tsipras, I would philosophise.

23/06/15

"Demasiado lampeiros para serem sérios"

no Público,
20/06/2015 

por José Pacheco Pereira 

de Leonora Carrington
Então como é? O país está mal ou não está? Está. Então deixem-se de salamaleques politicamente correctos. 

Depois há a Grécia. “Não queremos a Grécia fora do euro” significa, por esta ordem, “queremos derrubar o governo do Syriza”, “queremos o Syriza humilhado a morder o pó das suas promessas eleitorais”, “queremos os gregos a sofrerem mais porque votaram errado e têm que ter consequências”, “queremos a Grécia fora do euro”. O que é que disse pela voz do Presidente? Na Europa “não há excepções”. Há, e muitas. A França por exemplo, que violou o Pacto de Estabilidade. A Alemanha que fez o mesmo. 23 dos 27 países violaram as regras. Consequências? Nenhumas: foi-lhes dado mais tempo para controlar as suas finanças públicas. Mas ninguém tenha dúvidas: nunca nos passou pela cabeça empurrar a Grécia para fora do euro, até porque na Europa “não há excepções”. Lampeiros é o que eles são. Lampeiros.

Este tipo de campanha eleitoral é insuportável, e suspeito que vamos ver a coligação a “bombar” este tipo de invenções sem descanso até à boca das urnas. O PS ainda não percebeu em que filme é que está metido. Continuem com falinhas mansas, a fazer vénias para a Europa ver, a chamar “tontos” ao Syriza, a pedir quase por favor um atestado de respeitabilidade aos amigos do governo, a andar a ver fábricas “inovadoras”, feiras de ovelhas e de fumeiro, a pedir certificados de bom comportamento a Marcelo e Marques Mendes, a fazer cartazes sem conteúdo – não tem melhor em que gastar dinheiro? – e vão longe.

Será que não percebem o que se está a passar? Enquanto ninguém disser na cara do senhor Primeiro-ministro ou do homem “irrevogável” dos sete chapéus, ou das outras personagens menores, esta tão simples coisa: “o senhor está a mentir”, e aguentar-se à bronca, a oposição não vai a lado nenhum. Por uma razão muito simples, é que ele está mesmo a mentir e quem não se sente não é filho de boa gente. Mas para isso é preciso mandar pela borda fora os consultores de imagem e de marketing, os assessores, os conselheiros, a corte pomposa dos fiéis e deixar entrar uma lufada de ar fresco de indignação.

Então como é? O país está mal ou não está? Está. Então deixem-se de rituais estandardizados da política de salão e conferência de imprensa, deixem-se de salamaleques politicamente correctos, mostrem que não querem pactuar com o mal que dizem existir e experimentem esse franc parler que tanta falta faz à política portuguesa.

Mas, para isso é preciso aquilo que falta no PS (e não só), que é uma genuína indignação com o que se está a passar. Falta a zanga, a fúria de ver Portugal como está e como pode continuar a estar. Falta a indignação que não é de falsete nem de circunstância, mas que vem do fundo e que, essa sim, arrasta multidões e dá representação aos milhões de portugueses que não se sentem representados no sistema político. Eles são apáticos ou estão apáticos? Não é bem verdade, mas se o fosse, como poderia ser de outra maneira se eles olham para os salões onde se move a política da oposição, e vêm gente acomodada com o que se passa, com medo de parecer “radical”, a debitar frases de circunstância, e que não aprenderam nada e não mudaram nada, nem estão incomodados por dentro, como é que se espera que alguém se mobilize com as sombras das sombras das sombras?

Enquanto isto não for varrido pelo bom vento fresco do mar alto, os lampeiros vão sempre ganhar. As sondagens não me admiram, a dureza e o mal são sempre mais eficazes do que o bem e muito mais eficazes do que os moles e os bonzinhos.

29/01/15

27/01/15

"hoje como ontem, somos todos gregos"!

no Público,
27/01/2015

por José Vítor Malheiros 

1. A grande novidade das eleições legislativas gregas é que a Grécia vai ter finalmente um Governo grego, composto por gregos que se preocupam com a vida dos cidadãos gregos e não um Governo de capatazes, preocupados acima de tudo em não indispor os poderes financeiros do mundo e em obedecer às directivas das forças ocupantes.

O líder do partido espanhol Podemos, Pablo Iglesias, usou esta imagem, e ela é correcta. Até agora, na Grécia, como em Portugal, temos tido Governos que ascenderam ao poder para manter os seus países acorrentados à dívida. Governos que juraram vassalagem aos mais ricos para poderem beneficiar um dia dos seus favores, sacrificando para isso a liberdade, a dignidade, o bem-estar, a vida e o futuro de milhões de cidadãos. 

Governos que tentaram destruir por dentro o Estado que construímos com o nosso trabalho e que não hesitam em delapidar o património que não lhes pertence na esperança de que, um dia, possam voltar a ajudar o inimigo a atacar de novo as muralhas da cidade e as possam encontrar mais enfraquecidas.

Governos que venderam a soberania nacional, que ofendem a memória de todos os que se sacrificaram em defesa da democracia, que escarnecem daqueles que acreditam que todos os indivíduos nascem livres e iguais em direitos. Fazem-no em troca de uns lugares em futuros conselhos de administração, ébrios de alegria por poderem ombrear com os ricos e com a consciência imperturbada dos que consideram que a conta bancária é a medida de todas as coisas e a vida dos pobres algo negligenciável.

Não há nada mais vil do que esta traição que, não por acaso, durante milénios, em todas as latitudes e em todos os povos, conheceu a mais radical das punições.

E, por isso, é com alegria que saudamos a queda do Governo de Antonis Samaras, como saudaremos com alegria o dia da queda de Passos Coelho, o primeiro-ministro cuja ambição mais exaltante é ser o cãozinho de regaço da chanceler alemã.


2. O Governo grego de coligação Nova Democracia-Pasok-Dimar, agora derrotado nas urnas, foi constituído e empossado em nome da necessidade de “estabilidade” do país, como já o anterior Governo de Papademos tinha sido e outros antes destes. Sabemos aonde levou esta “estabilidade”: desemprego de 25 por cento, desemprego jovem de 60 por cento, dívida de 317 mil milhões de euros ou 177% do PIB, a uma sociedade à beira do caos, com apoios sociais praticamente inexistentes para uma população com uma pobreza crescente, ao êxodo de profissionais, a uma economia destruída e sem motor de arranque à vista, a uma sociedade desesperada e descrente.

A vitória de anteontem do Syriza, segundo inúmeros analistas financeiros, politólogos e muitos solícitos comentadores anónimos de vários Governos europeus, corre, porém, o risco de aumentar a “instabilidade” da situação grega.

Apetece brincar e dizer que, se Samaras era a “estabilidade”, é urgente experimentar a “instabilidade”, mas é evidente que uma situação, por má que seja, pode sempre piorar e não faltará por certo na extrema-direita económica que governa a Europa quem queira aproveitar a vitória do Syriza para dar uma lição à esquerda e às veleidades de autodeterminação dos povos e para mostrar que não se devem eleger políticos de quem os bancos não gostam, cortando radicalmente o financiamento a Atenas e recusando todas as negociações.

É, no entanto, de esperar que algum bom senso prevaleça e que a Grécia não seja transformada no barril de pólvora que pode incendiar a União Europeia. Mas falemos desta “estabilidade” que a direita tanto aprecia e da “instabilidade” que ela tanto receia.

É evidente que, numa situação de paz, de progresso e justiça social, a estabilidade é um valor. Mas quando a situação é a desagregação social e a injustiça da Grécia, quando a situação é a desigualdade e a pobreza crescente que vemos no nosso país, quando a situação são os probemas estruturais da economia e a carência de financiamento dos dois países, é evidente que não é ética e politicamente admissível defender a “estabilidade”, porque essa “estabilidade” é apenas a paz podre onde os pobres morrem de fome sem reclamar.

Nos países em crise, a situação actual exige instabilidade porque exige mudanças drásticas. Não a destruição mascarada de estabilidade que vemos em Portugal, onde a calma apenas esconde uma operação de pilhagem do património público em nome da necessidade de “revitalizar a economia” com as privatizações, a par de uma campanha de ataque aos direitos laborais denominada “reformas estruturais”, mas uma instabilidade criativa, onde se admite a necessidade de inventar verdadeiras soluções que sirvam as populações. Uma instabilidade inventiva e honesta, onde será necessário correr riscos, mas onde os riscos que se correm terão uma razão de que nos poderemos orgulhar.

Este é o desafio que nos lança a Grécia de hoje. Um desafio a que respondemos com alegria porque, hoje como ontem, somos todos gregos.
fonte

09/03/14

As reformas são um direito inalienável?

... pelos vistos. Na Alemanha, que não aqui!!!

da Associação Sindical dos Juízes Portugueses:
PENSÕES. NA ALEMANHA AS REFORMAS SÃO SAGRADAS. 
VEJA COMO É EM PORTUGAL  --  aqui

- pelo direito à indignação 
- e porque nunca é demais lembrar

recebido via e-mail: 
de Jeronimus Bosch


«Tribunal Constitucional alemão não vai em cantigas 

O Tribunal Constitucional alemão equiparou as pensões à propriedade, pelos que os governos não podem alterá-las retroactivamente. A Constituição alemã, aprovada em 1949, não tem qualquer referência aos direitos sociais, pelo que os juízes acabaram por integrá-los na figura jurídica do direito à propriedade. A tese alemã considera que o direito à pensão e ao seu montante são idênticos a uma propriedade privada que foi construída ao longo dos anos pela entrega ao Estado de valores que depois têm direito a receber quando se reformam. Como tal, não se trata de um subsídio nem de uma benesse, e se o Estado quiser reduzir ou eliminar este direito está a restringir o direito à propriedade. 

Este entendimento acabou por ser acolhido pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Seguindo esta filosofia, taxar de forma continuada uma pensão, de forma a reduzi-la, de facto, para além de ser uma habilidade, configura uma imoral e desumana violação dos direitos humanos.(no I online, Dez. 2013)

Enquanto isso…

…Pensões dos portugueses podem ir a vida!  

Risco de perda de pensões é bem real.
A iniciativa partiu de Victor Gaspar, ou seja, do PSD, e António José Seguro, do PS, ainda não exigiu a revogação da medida.
De facto, está em curso o roubo da Segurança Social, através dos fundos depositados pelos trabalhadores e entidades patronais e geridos pelo IGFSS. Neste momento, 40% desses fundos estão aplicados em dívida pública portuguesa. E Victor Gaspar, como presente de saída, deixou o diploma que vai autorizar – ou melhor, vai obrigar – o IGFSS a vender 50% aplicados noutros fundos e comprar mais dívida pública portuguesa. 
Ou seja, 90% do dinheiro que entregámos ao Estado para gerir as nossas reformas, vai passar a ser garantido por dívida pública de Portugal. 
Ou seja, em caso de perdão da dívida… lá se vai a massa. Nada mal pensado. Se esta decisão fosse tomada por um gestor de uma seguradora, seria motivo para processo judicial, dado que, como se sabe, as reservas das seguradoras – garantia do cumprimento das suas obrigações – têm regras rígidas de aplicação. E são fiscalizadas pelo ISP.
Aliás, qualquer economista, logo no 1.º ano, aprende que aplicar 90% de reservas de garantia no mesmo produto, qualquer que ele seja, é suicídio económico. E em dívida pública na actual situação, pior ainda.
Na verdade, tudo isto acontece porque os políticos portugueses e Europeus, “SABEM” que o Povo Português é de uma ignorância e passividade à prova de bala.»

18/04/13

.. uns caloteiros, estes alemães! - dívidas da 1ª guerra

.
.
in Expresso.Sapo

Alemanha deve 2,3 mil milhões de euros a Portugal 
por indemnizações da I Guerra 

por Paulo Gaião
Sexta, 12 de Abril de 2013 
img. daqui


Não é só a Grécia que tem dinheiro a receber da Alemanha por indemnizações da II Guerra Mundial. 

Portugal também é credor da Alemanha por compensações financeiras da I Guerra. 

O historiador Filipe Ribeiro de Meneses recorda que o Tratado de Versalhes fixou em cerca de mil milhões de marcos-ouro o valor a pagar pela Alemanha a Portugal. Porém, "pouco deste dinheiro entrou nos cofres do Estado devido às sucessivas revisões da dívida alemã" adianta o historiador. 

Este valor de mil milhões de marcos-ouro corresponderá hoje a cerca de 2,3 mil milhões de euros, o equivalente a 1,8 do PIB português (números apurados pelo jornalista do Expresso João Silvestre). 

Dava para cobrir o valor do chumbo do Tribunal Constitucional às normas constitucionais do OE 2013 e ainda sobravam mil milhões de euros. 

Filipe Ribeiro de Meneses relembra que as pretensões de Afonso Costa, representante português em Versalhes, em relação à Alemanha eram de 8 mil e 500 milhões de marcos-ouro, oito vezes mais que o valor obtido, "pois a guerra tinha causado - alegadamente - a morte de 273.547 portugueses da metrópole e colónias, uma cifra que os Aliados rejeitaram por completo". 

Afonso Costa ainda recorreu à arbitragem internacional mas a Alemanha acabou por ganhar a batalha legal.

Parece evidente que Portugal apresentou números de vítimas de guerra totalmente fantasiosos (terão morrido na I Guerra Mundial entre 10 mil e 15 mil portugueses) mas os valores monetários apurados no Tratado de Versalhes também deverão estar áquem do que Portugal teria direito mas que como país pouco influente não teve peso para impor. 

Portugal recebeu apenas 0,75 do total das compensações financeiras a serem pagas pela Alemanha, segundo refere Ribeiro de Meneses. Mais um factor que a Alemanha terá que ponderar quando chegar a altura de o nosso país renegociar o actual pacote de resgate financeiro. [terá / teria / mas não vai!, digo eu..]

a Europa em 1914 (antes da guerra)
 A primeira Grande Guerra: 1914 - 1918

Para quem queira saber da 1ª Guerra Mundial (e devíamos, todos..), aqui ficam as ligações para dez capítulos de um documentário com a garantida qualidade da BBC.
Até agora, vi todo o primeiro 'capítulo' e partes do último. 
As minhas notas: 
  • quem começa a guerra é a Áustria-Hungria (assim lhe chamam) em retaliação pelo assassinato do herdeiro do império (ironicamente um acérrimo defensor da paz nos Balcãs) . 
  • A Áustria-Hungria pede apoio à Alemanha, prevenindo um ataque da Rússia, principal aliada da Sérvia (o país a que a Áustria-Hungria declara guerra), mas também da França. 
  • No 10º capítulo já não se fala da "Áustria-Hungria". É a Alemanha que, no fim, aparece como a grande responsável pala Primeira Grande Guerra: não vi ainda o que mudou entretanto para alterar protagonismos.. [da Wikipedia: Desastrosa durante grande parte da guerra, a participação italiana acabou sendo importante, na medida em que o país derrotou e forçou o Império Austro-Húngaro à capitulação na batalha de Vittorio Veneto, causando a desagregação do mesmo. A capitulação da Áustria-Hungria foi um duro golpe na Alemanha, que passaria a lutar sozinha - fonte]
  • É aqui (10º e última parte) que se fala de compensações a pagar aos 'Aliados', condições de rendição tão duras para a Alemanha, que explicariam o germinar do nacional-socialismo, que viria a dar origem à 2ª guerra mundial, isto depois de quase 20 anos de uma república democrática (a República de Weimar, instituída depois de o kaiser se exilar na Holanda)
  • O armistício é assinado em 11 de Novembro, 1918. 
  • A população alemã festejou nas ruas o armistício e celebrou o derrube do seu kaiser. O próprio exército se virou contra ele e recusou investir sobre os manifestantes revolucionários que exigiam o fim da guerra, corria o ano de 1918. 

a Europa em 1919 (depois da guerra)
Bem interessante! A bem dizer, um documentário a não perder por inteiro! São 10 capítulos legendados em português-brasileiro, cada um durando cerca de 50 minutos.
do youtube:
«Excelente série de documentários da TV Inglesa BBC sobre o Primeiro Grande Conflito Mundial, que ocorreu entre os anos de 1914-1918. Diferentemente dos documentários produzidos até hoje, que sempre retrataram a Primeira Guerra Mundial sob a óptica norte-americana, este retrata diferentes visões do conflito, mostrando a guerra na Rússia, na Arábia, em África, entre outros países. A Primeira Guerra Mundial não se ateve somente aos seus 4 anos cronológicos, teve conseqüências muito graves para além dos milhares de mortes que causou. A pior dessas conseqüências foi a preparação para o maior conflito armado que a humanidade já viveu.»

1ª parte: 
2ª parte: 
3ª parte: 
4ª parte (onde, nos países do império Otomano, se fala já em Jihad!): 
5ª parte: 
6ª parte: 
7ª parte: 
resumo aqui
8ª parte (onde se fala em revoluções no interior dos países envolvidos na guerra- e da vontade de lhe pôr fim; os revolucionários dos respectivos países passaram a ser encarados como "o inimigo número um", mais ainda que os países do 'outro lado' *)- 1917: as tropas russas param de lutar 
9ª parte: a última jogada da Alemanha (basicamente p/ dar cabo dos ingleses) 
10ª parte: 

* tal como, de resto, viria a acontecer na 2ª Guerra Mundial: a enorme desconfiança em relação à aliada União Soviética culminando na prova de força "indispensável" que constituiu o lançamento das duas bombas atómicas no Japão (a de Nagasaki apenas 3 dias depois da  terrível, chocante devastação de Hiroxima!) - um acto terrorista de que os EUA não se retrataram nunca!

1ª Grande Guerra em espanhol, com boas fotos:
nas trincheiras, c/ máscaras anti-gás
http://html.rincondelvago.com/primera-guerra-mundial_33.html
Confederação Germânica
Áustria-Hungria 
Império Russo
Império Otomano
Sérvia
cronologia da 1ª Guerra Mundial

No Congresso de Viena de 1815 (que estabeleceu o Concerto da Europa como uma tentativa de conservar a paz depois dos anos das Guerras Napoleónicas), estiveram presentes as 'grandes potências' europeias da época: Reino Unido, Áustria, Prússia, França, e Rússia -- fonte

Os objectivos que levaram os responsáveis políticos portugueses a entrar na guerra saíram gorados na sua totalidade. A unidade nacional não seria conseguida por este meio e a instabilidade política acentuar-se-ia até à queda do regime democrático em 1926. -- fonte
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07/04/13

Os inimigos aqui tão perto

no Público, aqui
05/04/2013
por  Lígia Amâncio*

Os inimigos aqui tão perto

O estado calamitoso a que chegou o que até há pouco se chamava União Europeia e que agora se designa tristemente de Europa porque de união nada tem, deixa qualquer pessoa minimamente informada à beira de um ataque de nervos. A cada reunião de dirigentes europeus sucedem-se anúncios de decisões que são alteradas nos dias seguintes, promessas de favores segredadas por ministros de países ricos a ministros de países pobres, afirmações em conferências de imprensa que também virão a ser desmentidas. Como se isto não bastasse, chegou-se ao ponto de decidir taxar os depósitos dos bancos de Chipre abaixo dos cem mil euros, em violação das regras definidas pelas próprias instituições europeias. Uma decisão tomada, ao que parece, por unanimidade e que vigorou por escassas horas. 

Perante a passividade dos parceiros europeus e das próprias instituições europeias, a Alemanha tem conseguido subordinar a gestão da crise ao seu calendário eleitoral e à sua agenda interna, complementando cada decisão punitiva e desfavorável aos países em situação económica difícil com os comentários indecorosos do seu ministro das Finanças que desconhece todo e qualquer preceito de diplomacia internacional. 

Esta posição dominante que perverte o próprio projecto europeu em cuja construção a Alemanha tanto se empenhou, suscita da parte das opiniões públicas dos outros países legítimas reacções de repúdio. Mas não pode justificar a associação da líder alemã a Hitler, nem do poder actual do Governo alemão ao do nazismo. Este regime não foi um acontecimento banal e permanece até hoje um fenómeno único na história da humanidade, na sua capacidade de destruição, na organização política e industrial da morte, na dimensão de horror e bestialidade que atingiu. 

Como dizia Michel Foucault, o poder exprime-se numa relação e não está localizado nem constitui um atributo dos dominantes. Para ser eficaz precisa que os dominados se identifiquem com ele, lhe confiram sentido e internalizem as práticas que garantem a reprodução da dominação. Nada mais evidente na situação que actualmente se vive na Europa. Quem foi que propôs a taxação dos depósitos abaixo de cem mil euros, no Chipre, senão o próprio Presidente cipriota, aparentemente para não penalizar demasiado os grandes depositantes a quem ele se sente obrigado?  

Enquanto a sra. Merkel manifesta, na sua gestão política, um grande respeito pelo Tribunal Constitucional alemão, evitando tomar decisões que possam ir contra as normas constitucionais, por cá faz-se exactamente o contrário, ano após ano, e só falta pedir que se suspenda a Constituição da República Portuguesa e, com ela, a separação de poderes e a democracia. Enquanto a sra. Merkel toma decisões que vão ao encontro do interesse dos seus eleitores e faz as afirmações que tanto lhes agradam ouvir, por cá o ministro das Finanças dirige-se a membros do partido maioritário referindo-se aos ‘vossos’ eleitores, sem esconder o desprezo que a democracia e os seus concidadãos lhe suscitam. 

Quando, durante a última campanha eleitoral, um turista finlandês abordou o então candidato a primeiro-ministro, em campanha na Madeira, dizendo-lhe que esperava não ter que ser ele a pagar-lhe o almoço, a história foi apresentada pela imprensa como mais uma prova da bancarrota a que o país chegara e que alimentava o discurso de quem queria chegar ao poder na altura. E as reacções a uma tal humilhação ficaram-se pelos sorrisos de compreensão e cumplicidade. Quando os dirigentes nacionais se assumem como líderes de um protectorado, tutelado por forças externas onde não existem eleitores, nem regras da democracia, nem política que não seja a da obediência a outros líderes europeus, não é preciso ir muito longe para encontrar os verdadeiros inimigos do país. 

* Psicóloga social e professora catedrática do ISCTE

28/03/13

a saúde mental dos portugueses

ARTIGO DE PEDRO AFONSO, MÉDICO PSIQUIATRA SOBRE A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES, transcrita por Luísa Lopes
na pg facebook de António Pinho Vargas (Notas) 
- Sexta-feira, 16 de Março de 2012

Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Su Blackwell, while U were sleeping

Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É naturalque assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinzeanos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresassólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e acasa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente àactividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.

Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.

E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que sehá-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.

Pedro Afonso 
Médico psiquiatra

11/11/12

viver acima das possibilidades: olha para o q eu digo, ...

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Há quem tenha valor por si próprio, pelo que é, pelo que faz..
E há quem, não o tendo intrinsecamente, precise de ornamentos que lho ostentem ..
Ora comparai:

Quarta-feira, 17 de Outubro de 2012
 - notícia aqui

 Holanda: Políticos vão de bicicleta para o trabalho


Primeiro-ministro Mark Rutte (esquerda) e líder parlamentar Stef Blok
chegam ao Catshuis, a residência oficial do primeiro-ministro, de bicicleta


  Portugal:
o novo carro de Passos Coelho   : 140 mil euros
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  • Passos Coelho tem 31 carros do Estado ao seu serviço 10/11/2012 - aqui    [aposto que é por isso que precisa (!!!) de 11 motoristas.. ]
  • Frota de carros do Governo tem 208 automóveis. (17 Setembro 2012) - aqui


 pergunta:  
o governo não anda a viver acima das nossas possibilidades?!

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17/10/12

no Prós e Contras, sem papas na língua

Nascido no Brasil, filho de português transmontano, colega de Passos Coelho no liceu Pedro Nunes, micro-empresário desde os 22 anos  - sem papas na língua e a ouvir, absolutamente!

  • «Portugal, Grécia, faliram por CORRUPÇÃO DO ESTADO!»
  • «Temos um presidente da República que é economista e sabia perfeitamente que o BPN servia para lavar dinheiro
 

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04/10/12

a confusão ético-económica de Carlos Moedas, Portugal e a Suécia


«óbvia e assumida ironia: ISTO ESTÁ A CORRER MUITO BEM!»

entrevista a Carlos Moedas (secretário de estado adjunto do PM), ontem, na TVI 24: vídeo aqui:


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Pois é, senhor secretário de estado, a mim parece-me que o senhor, ou é muito distraído / ignorante, ou tem por aí umas noções um tanto baralhadas, por exemplo do que deveria ser a ética política .. 

Ora compare.. Emagrecimento do Estado, que não dos já pobres cidadãos, é isto:
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POLÍTICOS SEM MORDOMIAS
  

e já sei .. 
  •  por um lado, o vídeo acima (Um país sem mordomias) não é recente. Não me consta, apesar disso, que os aspectos nele referidos tenham mudado. 
  • por outro lado, (e também sei!) a Suécia afinal não será o completo paraíso que muitos de nós imaginávamos. Os romances de Stieg Larsson e Lars Kepler (pseudónimo literário da dupla Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril), bem como uma série televisiva recentemente exibida ("O Novo Homem" - anos 50 do século XX) vieram dar-nos um retrato bem pouco abonatório do até então mítico país dos filmes de Ingmar Bergman .. (ver pormenores aqui) . 

Nada deste 'novo olhar' sobre a Suécia é irrelevante. 

Nada disto, por outro lado, deita por terra as reconhecidas boas práticas políticas ou o exemplar regimento parlamentar de um dos mais sólidos pilares da verdadeira Social-Democracia.  

Chego até a desconfiar (..) se tanta recente e basicamente negativa informação sobre a Suécia não servirá  o obscuro propósito de lhe ofuscar as qualidades, menorizar as comparações (nomeadamente as tais mordomias dos políticos) com outros países de regimes ditos democráticos .. o nosso, mais concretamente!

Já agora, vejam ainda.. e comparem:

COMO VIVEN LOS POBRES EN SUECIA
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16/09/12

para que se saiba e não se esqueça!


o silêncio sobre a Islândia -- porquê?!



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Publicado em 02/09/2012 por Zlia BR

A recusa do povo da Islândia a pagar a dívida que as elites abastadas tinham contraído com a Grã Bretanha e a Holanda gerou muito medo no seio da União Europeia. Prova deste temor foi o absoluto silêncio na mídia sobre o que aconteceu. Nesta pequena nação de 320.000 habitantes a voz da classe política burguesa tem sido substituída pela do povo indignado perante tanto abuso de poder e roubo do dinheiro da classe trabalhadora. O mais admirável é que esta guinada na política sócio-económica islandesa aconteceu de um jeito pacífico e irrevogável. Uma autêntica revolução contra o poder que conduziu tantos outros países maiores até a crise atual.
Este processo de democratização da vida política que já dura há dois anos é um claro exemplo de como é possível que o povo não pague a crise gerada pelos ricos.

-- aqui .. a Troika, o Passos ..


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DESTROIKA - MITOS E DESMITOS DA TROIKA.
Porque é importante ouvir o que nos dizem, o que é a realidade e como é preciso dizer que já chega de tanta mentira e mal-viver, só para que a riqueza continue a ir parar às mãos dos de sempre.

04/08/12

protestar é preciso!

A cena do vídeo passa-se num banco do Brasil e tem a ver com tempo em filas de espera. A senhora (que só pode causar admiração) fala de um país em que a única lei parece ser a procura do lucro, o interesse pessoal do 'peixe graúdo': isto só no Brasil, não é pessoal?
Pois. NÃO!
Ora experimentem ir aqui ao hipermercado Continente, o do Colombo em Lisboa, por exemplo! E feitas as compras, preparem-se para desesperar: dezenas de caixas instaladas, menos de um terço em funcionamento. O sr. Belmiro de Azevedo não tem dinheiro para contratar mais pessoal? E POR QUE É QUE OS PORTUGUESES NÃO PROTESTAM, NÃO PEDEM UM LIVRO DE RECLAMAÇÕES, NADA???????????!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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vejam .. e aprendam como se faz!
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10/04/12

Governo admite que os suicídios vão aumentar

retirado daqui

pormenor de Guernica, Picasso
A nota deixada pelo pensionista grego que se suicidou em frente ao parlamento consternou o mundo, mas em Portugal também há quem aponte o dedo à crise antes de pôr termo à vida. Em 2010 já houve mais suicídios que mortes nas estradas e o secretário de Estado da Saúde diz que com o agravar da crise e do desemprego "é possível e imaginável" que cada vez mais pessoas se suicidem.

Artigo | 8 Abril, 2012 - 18:06

(...)
Antes da intervenção da troika, a Grécia tinha a taxa de suicídio mais baixa da Europa, mas hoje já ocupa um dos lugares cimeiros. Só no último ano houve um aumento de 40% no número de suicídios registados. O caso do pensionista grego de 77 anos que pôs termo à vida na manhã de quarta-feira na praça Syntagma, trouxe ao primeiro plano o desespero das vítimas das políticas de austeridade. Dimitris Christoulas escreveu uma nota responsabilizando o Governo e comparando-o aos militares que administravam o país para os nazis durante a II Guerra Mundial: "Não vejo outra solução senão pôr, de forma digna, fim à minha vida, para que eu não me veja obrigado a revirar o lixo para assegurar o meu sustento. Eu acredito que os jovens sem futuro um dia vão pegar em armas e pendurar os traidores deste país na praça Syntagma, assim como os italianos fizeram com Mussolini em 1945”, escreveu o antigo farmacêutico de Atenas.

Em Portugal, também há notícia de casos igualmente trágicos de desespero. Em setembro passado, Pedro e Cristina, dois irmãos de 53 e 57 anos, lançaram-se para a frente de um comboio da linha de Cascais, na estação de Paço de Arcos. Segundo a notícia então publicada no Correio da Manhã, no bolso de Pedro estava uma carta a explicar a razão do duplo suicídio. Depois de trabalhar numa empresa de publicidade, Pedro estava desempregado e vivia em Lisboa com a irmã, igualmente desempregada, e a mãe, até esta falecer aos 88 anos. O senhorio despejou-os e ficaram a viver na rua por alguns meses, até à noite em que puseram um ponto final na sua história. "Estava escrito que se sentiam abandonados e viviam em pobreza extrema devido à crise económica", disse uma fonte policial citada pelo Correio da Manhã.

13/02/12

da tragédia grega à portuguesa ..

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Grécia: crianças que morrem de fome e de frio, pais que se imolam porque não conseguem pagar a prestação da casa, famílias inteiras que agora vivem na rua ..
Nós .. somos ainda uma sombra do desespero grego. Lá chegaremos .. e eu pergunto-me como vão os nossos políticos manter as suas mordomias, os boys e as girls os seus milionários ordenados, quando não restar mais ninguém para pagar-lhos ..

 .
Dimanche 12 février 2012 

Un désastre humanitaire en Grèce,
des enfants meurent sur les bancs d'école 
 .
- aqui (em francês)


*

foto retirada daqui
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"Reajustamento da troika 
é mais dívida e mais miséria"- Francisco Louçã

«Sobre os ajustes ao programa da troika, sugeridos pela conversa de Vítor Gaspar com o ministro alemão na reunião do Eurogrupo e este fim-de-semana por Eduardo Catroga, Louçã diz que “não é possível continuar a pagar à pirataria financeira juros incomportáveis que criam mais dívida por cada dia que passa”. E que por isso “o único reajustamento de que precisamos é de correr com os agiotas”. » - ler mais

*
-- do blogue de Manuel Salgado Alves, Auditing
Sexta-feira, 11 de Novembro de 2011
O HOLOCAUSTO GREGO
Segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2012
 .

19/01/12

Ruin'Arte


Carregado por ExpressoMultimedia em 16/10/2009

«"Ruin'Arte" é um projecto de livro que já conta com fotografias de perto de centena e meia de estruturas deixadas ao abandono. É um retrato desolador do país, ainda que marcado por uma beleza decadente.» O fotógrafo chama-se Gastão de Brito e Silva


10/01/12

a crise longe ou o temido 'estado social'


Paul Klee, 1914
Vive na Suíça há uns 30 anos. É uma dos inúmeros imigrantes portugueses nesse país. Trabalha como empregada de mesa num café do aeroporto de Genève e não terá, calculo, habilitações para além da escolaridade obrigatória. Ganha 4.000 francos suíços (CHF) por mês, dos quais desconta 500. Fica com 3.500 limpos.
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Tem dois filhos a estudar, um com 17, outro com 13 anos. O mais velho está a tirar um curso profissional, depois seguirá, talvez, para a universidade. Pelo estágio do presente curso pagam-lhe 750 CHF/mês.
Apesar disso, esta imigrante portuguesa (que, tanto quanto percebi, tem já também a nacionalidade suíça) recebe abono de família pelos dois filhos: 400 francos suíços por um e 300 pelo outro (1 CHF = 0,82346 EUR). Abono esse que dura até eles acabarem os estudos, em princípio aos 25 anos. «E em 2012 vai aumentar. Lá tiram, aqui aumentam!», esclarece, enquanto eu faço um esforço para não deixar cair o queixo. (Não sei se se lembram, mas aqui retiraram o fantástico abono de família aos privilegiados que auferem um salário superior a 600 euros)
O marido deixou-a, anos atrás. «Agora está bem arrependido!». Voltou para Portugal e não pagou nunca pensão de alimentos e o mais que era suposto para ajudar a criar os filhos. «Ele não dá nada, o estado Suíço paga-me.». Não perguntei quanto, mas, a julgar pelos números anteriores, a deserção do marido foi a sorte grande que lhe calhou..
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Pois é.. a Suíça. O meu filho é médico lá desde Outubro passado (antecipou-se aos conselhos do nosso PM sobre "descartagem de cérebros"), está a tirar a especialidade. Ganha dois ordenados mínimos (3.200 CHFx2). Desconta, para impostos e seguros (obrigatórios) uma percentagem maior que a senhora do café de Genève. Ainda assim, leva para casa bastante mais do dobro do que eu. Muitas vezes trabalha 12 horas por dia. Se calha estar "de banco" dois dias seguidos, sábado e domingo, por exemplo, folga à 2ª feira. Volta e meia tem uma semana de férias, viaja: os voos são muito baratos para países próximos, França, Itália, Bélgica... Os comboios são caros (+/- 50 euros por uma viagem de 100 km) para os turistas, mas os residentes (ainda que estrangeiros) têm direito a uma espécie de passe com viagens a preços reduzidos. 
O meu filho paga mais ou menos 250 euros por um quarto que lhe arranjou a entidade empregadora, num edifício anexo ao hospital onde trabalha. Almoça na cantina do hospital (se não me falha a memória, menos de 9 euros por uma refeição completa). Calcula poder poupar uns 1500 euros por mês. Voltar para Portugal não lhe passa sequer pela cabeça.
...
Eu .. talvez vá trabalhar uns tempos para a Suíça, quando a reforma que já espero me seja insuficiente para viver. Eu, professora, licenciatura de 5 anos, 34 ao serviço do estado português.

imagem retirada daqui