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10/01/12

a crise longe ou o temido 'estado social'


Paul Klee, 1914
Vive na Suíça há uns 30 anos. É uma dos inúmeros imigrantes portugueses nesse país. Trabalha como empregada de mesa num café do aeroporto de Genève e não terá, calculo, habilitações para além da escolaridade obrigatória. Ganha 4.000 francos suíços (CHF) por mês, dos quais desconta 500. Fica com 3.500 limpos.
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Tem dois filhos a estudar, um com 17, outro com 13 anos. O mais velho está a tirar um curso profissional, depois seguirá, talvez, para a universidade. Pelo estágio do presente curso pagam-lhe 750 CHF/mês.
Apesar disso, esta imigrante portuguesa (que, tanto quanto percebi, tem já também a nacionalidade suíça) recebe abono de família pelos dois filhos: 400 francos suíços por um e 300 pelo outro (1 CHF = 0,82346 EUR). Abono esse que dura até eles acabarem os estudos, em princípio aos 25 anos. «E em 2012 vai aumentar. Lá tiram, aqui aumentam!», esclarece, enquanto eu faço um esforço para não deixar cair o queixo. (Não sei se se lembram, mas aqui retiraram o fantástico abono de família aos privilegiados que auferem um salário superior a 600 euros)
O marido deixou-a, anos atrás. «Agora está bem arrependido!». Voltou para Portugal e não pagou nunca pensão de alimentos e o mais que era suposto para ajudar a criar os filhos. «Ele não dá nada, o estado Suíço paga-me.». Não perguntei quanto, mas, a julgar pelos números anteriores, a deserção do marido foi a sorte grande que lhe calhou..
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Pois é.. a Suíça. O meu filho é médico lá desde Outubro passado (antecipou-se aos conselhos do nosso PM sobre "descartagem de cérebros"), está a tirar a especialidade. Ganha dois ordenados mínimos (3.200 CHFx2). Desconta, para impostos e seguros (obrigatórios) uma percentagem maior que a senhora do café de Genève. Ainda assim, leva para casa bastante mais do dobro do que eu. Muitas vezes trabalha 12 horas por dia. Se calha estar "de banco" dois dias seguidos, sábado e domingo, por exemplo, folga à 2ª feira. Volta e meia tem uma semana de férias, viaja: os voos são muito baratos para países próximos, França, Itália, Bélgica... Os comboios são caros (+/- 50 euros por uma viagem de 100 km) para os turistas, mas os residentes (ainda que estrangeiros) têm direito a uma espécie de passe com viagens a preços reduzidos. 
O meu filho paga mais ou menos 250 euros por um quarto que lhe arranjou a entidade empregadora, num edifício anexo ao hospital onde trabalha. Almoça na cantina do hospital (se não me falha a memória, menos de 9 euros por uma refeição completa). Calcula poder poupar uns 1500 euros por mês. Voltar para Portugal não lhe passa sequer pela cabeça.
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Eu .. talvez vá trabalhar uns tempos para a Suíça, quando a reforma que já espero me seja insuficiente para viver. Eu, professora, licenciatura de 5 anos, 34 ao serviço do estado português.

imagem retirada daqui

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