- as imagens das colunas laterais têm quase todas links ..
- nas páginas 'autónomas' (abaixo) vou recolhendo posts recuperados do 'vento 1', acrescentando algo novo ..

deste estar professor..

página onde reponho os posts sobre o que é, hoje, ser-se professor nas escolas públicas deste país..

Este post é uma resposta à Em@.. É também, e sobretudo, o comentário que, por nojo, na altura não consegui fazer, sobre as notícias relativas ao suicídio do professor de Sintra, a falácia dos títulos nos meios de comunicação,  a desumanidade e a hipocrisia das declarações de pais e professores, o insulto à pessoa que morreu, a vitimização dos agressores (tudo aqui)

Amiga, tu sabes, eu sei, ambas sabemos que todos sabem.
Estas agressões a professores (maioritariamente verbais, às vezes físicas) são o pão-nosso-de-cada-dia na imensa maioria das nossas escolas, sobretudo as dos grandes centros urbanos e respectivas periferias. No próprio dia em que ouvi a notícia do suicídio, houve uma colega que me contou: um aluno - daqueles que já estão retidos por faltas (dezenas delas, e disciplinares) mas continuam a poder frequentar a escola - resolveu aparecer-lhe na aula, depois de tempos de ausência. Entrou a meio,  foi lá com o expresso, único intuito de chatear. Interrompeu, gritou, desestabilizou tudo e todos dentro da sala. Quando a professora o mandou sair, ele, essa inocente "criança cuja vida tem de estar acima dos debates" (sic, Isabel Alçada) responde-lhe, e cito, "não estou para te aturar, puta de merda!" Assim, tu cá, tu lá. O pão nosso de cada dia, repito, mais coisa, menos coisa .. A queixa, a participação disciplinar (desta, de milhares de ocorrências como esta)  é feita, 1, 2, quinhentas vezes; o aluno vai uns dias suspenso para casa (quando vai!..) , está dentro da escolaridade obrigatória, volta quando lhe dá na real gana. Este de que sei é do 7º ano, como ele há mais 'n', do 7.º, 8.º, 9.º .... às vezes até do 10.º, 11.º..

O Estatuto do Aluno 'ata-nos' de mãos e pés, o resto dos professores (muitos, demasiados..) é tudo menos solidário, acho que para esconderem as próprias fragilidades: 'comigo não, que sou tão bom professor!', estás a ver o estilo, Em@? Serão eles candidatos à avaliação de 'excelente', e enquanto há um que é exposto, massacrado, e logo logo, presumido culpado, 'folgam-lhes as costas' ..
Tal como a ministra, os directores/ CAPs evitam a todo o custo que a escola fique  'manchada' no seu bom nome, apelam à calma, ao bom senso, o povo é sereno.
Tal como aquela outra professora de música colega do Luís, que, contrariando as declarações de um EE da mesma escola, «.. um deles leva tareia todos os dias» -  diz que «...não há casos de violência, só as coisas normais.» , tal como os outros, que recusaram a associação do suicídio com o comportamento dos alunos, e logo apontaram o dedo acusatório à depressão do colega..
Tal como eles - quase todos, pais e respectivas associações incluídos,  se conluiem na negação da evidência:  um problema de que não se fala é um problema que não existe!

Até um dia em que já não se aguenta mais. O suicídio raramente será a saída por que se opta, mas o ME (que tão urgentemente pretende analisar as causas que levaram ao acto desesperado deste professor), que investigue seriamente, que apure quantos outros professores - professoras sobretudo, são clientes assíduas de psiquiatras, quantas só sobrevivem ao dia-a-dia das escolas porque encharcadas em anti-depressivos, ansiolíticos, calmantes vários.
O ME que procure também saber quantos atestados médicos, periódicos ou permanentes, se devem a depressões causadas pelo stress que resulta da indisciplina, da má educação dos alunos, da pouca solidariedade dos pares (tutela incluída, não é, sra. MLR?) da ausência de soluções para uma agressão que é diária e assume uma imensa diversidade de contornos.

Venha este post a ser alvo de comentários,  e sei, vão talvez insultar-me, rebater-me com toda a certeza, muitos: "violência? na minha escola não!! antidepressivos? só se for você!!" - qualquer coisa assim. Tudo vai bem no reino das avestruzes.

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na imagem ao lado, que pertence a um memorial em Paris, cada luzinha poderia representar cada um dos professores portugueses - agredidos fisicamente e/ou na sua dignidade, defraudados nas suas expectativas, transformados em "burocratas de serviço" numa profissão adulterada, vilipendiados, fartos, cansados até à exaustão, perdendo a alma, morrendo aos poucos..

Em@ disse...

ó Ana, sabes que estes professores que assim falam, me parecem extraterrestres??? é a isto que eu chamo indiferença. o colega era calado, parecia introvertido e não havia ninguém que se aproximasse dele? e o conselho de turma e o grupo disciplinar? raios!
há uma funcionária na minha escola que quando ouve alguém criticar outro diz sempre: "deixa que o teu bocado está guardado e já aí vem a caminho..."
Dizes bem! Nojo é o que eu também sinto!
14 de Março de 2010 03:03 

mais comentários ao post original: aqui

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alguns dos comentários que me chegaram ao post 'perder a alma' .. (ler)
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«Tudo o que dizes é a verdade nua e crua... a nossa vida de professores atingiu o nadir... e como me dói a tua dor... entendo perfeitamente que queiras fugir e que o faças efectivamente... eu também gostaria, porém tenho apenas metade do teu tempo de serviço... portanto, a minha almejada "liberdade" está a anos-luz de ser atingida... mas fico feliz por/se a conseguires já...»
Um forte abraço solidário, do colega José Couto
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«como te compreendo!!! este ano sou, pela 1ª vez desde 1994, diretor de turma. o inquérito de caraterização, para voltar a 'conhecer' os mesmos alunos que conhecia no ano passado, a extrema burocracia - planos de acompanhamento, de recuperação, de turma, de PESES, de reuniões de pais... Ando há 1 semana a tentar ter tempo para organizar uma visita de estudo com os meus miúdos do surf, que andam entusiasmadíssimos. tenho as minhas colegas da física a pedir ideias para o nosso clube recém criado onde trabalho probono. mas chego a casa, trato dos miúdos e estou estoirado. deito-me. não leio, não pesquiso, não planeio. apenas durmo. para no dia seguinte voltar a ter de pensar no mesmo. este está a ser o ano mais complicado e desmotivante desde há muitos anos. e não quero senti-lo assim... adoro dar aulas, adoro os meus alunos, crescer com eles, sair com eles, planificar com e para eles. mas este ano está a ser difícil... ainda não posso pedir reforma antecipada mas, pela 1ª vez desde que sou professor, sinto que talvez não me importasse de ser outra coisa qualquer...» -  Carlos Milho
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«Podemos perder muita coisa, mas a alma... não! Podem deitar-nos abaixo, mas abater-nos, não! Por isso levanta a cabeça e segue em frente. Tenho 57 anos, 34 de serviço, fiz tudo o que havia para fazer numa escola e desde Dezembro que espero a reforma. Agora gozo a liberdade de querer sair, de ir embora, de dizer 'Não quero mais'. Afinal, estamos vivas!»  - Judite
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Obrigada, queridos amigos, pela solidariedade, as palavras de apoio, o vosso carinho..
Sei que somos muitos neste 'barco'.. acho que soçobra quem, precisamente, se dedicou/dedica de alma e coração, quem está na escola pelos alunos, quem leva a profissão a sério e a vê tão adulterada.
Não sei se vos falta o ar como a mim, agora, todos os dias.
Ontem, ao sair da escola, deixei positivamente que uma carrinha me batesse no carro. Vi-a fazer marcha atrás, eu ali parada sem ter por onde escapar. Esperei que o condutor se desse conta, fui incapaz de reagir, apitar. Bateu-me. Fui-me embora sem reclamar nada, desimportando-me da amolgadela, do espelho torcido.
Tudo o que queria era fugir dali, encontrar um refúgio.

Assim estou, mais morta que viva. E não sei se ainda vou a tempo de recuperar a alma.. – Ana Lima

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«Também estou contigo! Compreendo-te perfeitamente! Também eu era uma professora empenhada e apaixonada pelo que fazia até há seis anos atrás.» (antes de MLR) - Júlia

dying slowly - Tindersticks

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«Uma pequena correcção, sem qualquer "parti pris", não foi o Passos Coelho que cortou, a si como a mim, dos tais "chorudos" 2000 euros líquidos para os actuais 1800, foi ainda o outro "Pinóquio". Ocorreu a partir de Janeiro de 2011 e as eleições foram só em Junho. Pode ser é que não fique por aqui.
Tudo o mais, na "mouche" - e damos connosco a colaborar neste massacre suicidário.»  - António J. F.
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Tem razão, António, foi ainda o outro pinóquio, lapso meu .. O actual, para além de metade do 13º mês, cortou-nos outra coisa, talvez mais importante: cortou-nos a esperança de que alguma coisa poderia mudar, com as suas colagens a SC, as suas promessas vãs em tempos de oposição. E 'corta-nos' tudo este ministro de opereta - que mantém o insustentável, que à 3ª desdiz o que na 2ª afirmou, sem um mínimo vislumbre de como 'agir Educação' .. E é verdade, somos todos cúmplices: comemos e comemos e calamos e tudo aceitamos - até ao estrebuchar final, 'sem apelo e sem agravo' - AL
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    via e-mail:
    «Olá Ana, como te compreendo. Fiz um comentário para o teu blog mas não foi publicado, talvez porque não assinei...
    Tb tenho 56 anos e estou saindo com um grande corte, pois entreguei o pedido em Dezembro. Estou mesmo quase a sair. Não dá para aguentar, e é revoltante fazerem-nos sair de rastos.
    Beijos, amiga. E cuida de ti o melhor possível, sem qualquer remorso. O que já ofereceste de ti à escola e aos alunos ao longo de tantos anos, para além do que era devido, dá-te o direito de procederes agora de modo a proteger a tua saúde, mental e física, através de alguns períodos de baixa ou o que for necessário e possível.»
    Um grande abraço. Eduarda

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    com. deixado no FB:
    «Tenho 62 anos e também estou de saída. Não pela minha vontade. Quando iniciei, era para ir até ao topo e ao limite da idade. Assim, com penalização, sinto que saio pela porta do cavalo. Desiludido, desencantado, defraudado e acima de tudo enganado, compelido e descartado.» - Reinaldo A.


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    23/09/2011
    a insustentável perspectiva
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    Hoje faltei. Não suportei a perspectiva de ficar 12 horas na escola, as últimas 3 em sofrimento atroz - e não exagero! - o que me causam agora as reuniões, todas as reuniões - um massacre sistematicamente infligido, como se fossem necessárias, como se fossem úteis, importantes. Não são. Não nestes moldes de obrigatoriedade e excesso, de impossibilidade anímica.
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    Ainda pensei ir dar as aulas, meter depois o artigo 102 para justificar 4 tempos (2 por cada reunião) - que equivaleriam a um dia de faltas. É esta a situação dos professores: leis absurdas que nos subjugam, que, mais assustador ainda, a maioria nem sequer contesta. Que os sindicatos ignoram, tal como o ministro.

    Hoje. Estava a preparar materiais para os meus alunos desde as 6 da manhã, quando me dei conta já passava das 8, impossível chegar a tempo, começava às 8.15. Dez minutos de atraso (no auge da febre-mlr chegaram a ser 2!!!, nesta escola onde estou ..) e terei de justificar 45 ou 90, dependendo se é ao 1º tempo ou noutros. Posso até estar na escola - a trabalhar, e não me dar conta de que o tempo de entrada passou (não há toques), ou a vomitar na casa de banho, e não chegar a tempo: 2 tempos de faltas, os 90 minutos que dura cada uma das minhas aulas.

    Hoje. Faltei. Tenho estado intermitentemente a preparar materiais para os meus alunos. Que lhes envio por mail, que poderei ainda colocar na plataforma moodle. Nos intervalos durmo, fujo, ainda que tenha pesadelos que me representam encurralada, labirintos sem escapatória possível. Praticamente não como, sinto-me enfartada, as digestões que faço mal. Escrevo num intervalo, quero dar testemunho deste des-ser. Escrevo e falta-me o ar, o meu eu consciente assombra-me de remorsos pelos meus alunos, por não ter estado lá, hoje. Talvez por isso vou trabalhando para eles num dia penalizado com falta a descontar no período de férias. Como provavelmente trabalharei no sábado, e no domingo.

    Evito agora a minha família, não quero preocupar sobretudo a minha mãe, deixar que se aperceba deste mal-estado. Há dias uma colega confidenciou fazer o mesmo, em relação ao dinheiro que lhe falta: a prestação da casa, as propinas do filho. Carreiras congeladas há anos, ordenados com actualizações muito inferiores aos níveis de inflação, por várias anos aumentos zero para a Função Pública, de que os professores seriam um grupo à parte, daí o ECD. E são-no, relativamente às faltas, por exemplo: 7 por ano para nós (não mais do que um dia ou 4/ 5 tempos por mês, depende), 11 para eles, com possibilidade de 2 dias por mês.

    Quando comecei a dar aulas (e nunca achei que tivesse uma 'vida regalada'!!), podia dar 24 dias de faltas por ano (2 por mês), justificáveis ao abrigo do que era então o artigo 4.º. O 1.º ECD com que nos brindaram em 1988 reduziu-os logo para metade, retirou-nos o direito às fases, às diuturnidades. O 2.º, para 5 (menos de metade) - obra da mulher que, para "ganhar o país, perdeu os professores" - aviltando-os e espezinhando-os com prazer sádico. Uma mulherzinha ressaibiada que devia estar presa por danos irreversíveis a toda uma classe, e eu diria mesmo, por homicídio/classicídio premeditado!! A ministra dos sorrisos e do pouco pensar alargou os 5 dias para 7. O actual nem se deu ao trabalho de fazer contas. Saberá ele da disparidade relativamente ao resto da FP? Duvido. Como, decerto, não saberá que uma falta a uma reunião, num dia livre que um professor tenha, equivale a um inteiro dia de faltas - descontável no período de férias, sem direito a subsídio de refeição (4 euros e uns cêntimos). Acho que ele também não sabe - nem isso lhe interessará minimamente - que um professor pode repor uma, 'n' aulas que não tenha dado, e muitos o fazem agora a bem da sua avaliação e para massacre dos alunos, que entretanto terão tido uma farsa de substituição.. As faltas que o professor deu, apesar de as ter reposto, mantêm-se, e as inerentes penalizações também.

    Hoje faltei. Era-me insustentável a perspectiva de permanecer 12 horas no meu local de trabalho, da tortura destas reuniões sem sentido, ao fim do dia, no limite do cansaço. Não estive fisicamente doente, ainda que haja doenças tão ou mais incapacitantes que as físicas, tão ou mais mortíferas. Se até ao fim do mês chegar atrasada a uma aula terei de justificar a falta com atestado médico, assim é a lei. Não posso 'prolongar' as aulas, repor os 10 minutos como outros profissionais, não posso invocar que trabalhei em casa muito mais horas do que as que me pagam, que uma coisa devia compensar a outra.
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    Conviver diariamente com o absurdo, tentar sobreviver a todos os eternizados processos "monstruosos e kafkianos"  (e a ADD é apenas um exemplo!) que o PM  prometeu suspender e descartou sem remorso e que o ME ignora ou despreza. Ser professor é também isto. É, agora, sobretudo isto. Não devia.
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    o quadro é de Júlio Resende , falecido na 4ª feira passada (ler)


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    11/01/2010
    ESCOLA PÚBLICA: os pontos nos ii

    sobre uma frase da Lídia Jorge, num post aí abaixo:
    « a escola pública portuguesa precisa de proceder a uma revolução nos métodos de trabalho.»

    Pois.. não sei se a 'revolução' de que a escola pública precisa' é mesmo ao nível dos métodos de trabalho. Não me parece.

    Sempre que há mudança de partido no governo, a escola, o sistema educativo, sofrem revoluções / involuções - precisamente e apenas, a nível dos métodos / metodologias de trabalho e de ensino.

    Sempre os vários governantes partem de um mesmo pressuposto/ falácia : a de que os responsáveis pelo insucesso do sistema são os professores, dos quais invariavelmente se espera que se adaptem e se renovem ao ritmo dos apetites de quem decide os destinos da educação.

    Nos meus mais de 30 anos de serviço já experimentei ou aprendi sobre métodos e teorias das mais variadas, algumas perfeitamente mirabolantes: a sugestopedia, aquela com que me brindaram no estágio, e que era, ao tempo, o último grito das pedagogias em ciências da educação made in Boston, agora a novel e omnipresente revolução tecnológica ..

    A tudo os professores vão dando resposta, acções de formação sobre acções de formação, trabalho de casa sistemático, malabarismos/ contorcionismos indiciadores de uma invulgar capacidade de adaptação/renovação que qualquer ME sério e atento aplaudiria de pé.

    No entanto, e apesar - ou por causa de - tanta experimentação, melhorias palpáveis, realistas, no que concerne às aprendizagens dos alunos, honestamente .. nenhumas. Corolário lógico: a culpa, ao contrário do que pretendem os vários podres poderes, alguns  iluminados personagens da nossa praça, não é dos professores.

    Alteram-se os métodos de trabalho, as metodologias de ensino, a prática pedagógica. Um vector, no entanto, permanece:  a 'macro-visão' do sistema educativo, mais as suas vertentes operacionais: os curricula e o sistema de transição dos alunos durante todo o período da  escolaridade obrigatória, minado de disposições facilitistas apoiadas por uma rede burocrática 'infurável'.

    Vejamos algumas aberrações, no que respeita ao sistema de transição:
    • os alunos do ensino básico (2.º e 3º ciclos, do 5º ao 9.º) podem transitar, ano após ano, com avaliação negativa a 3 disciplinas, que, previsivelmente, até serão sempre as mesmas..
    • duas dessas disciplinas podem ser, por exemplo, a matemática e o inglês - ano após ano, até concluírem o 9.º
    Que ilações retiraria qualquer pessoa sensata destas circunstâncias? Que consequências advêm deste sistema de progressão? Basicamente, duas: iliteracia funcional e interiorização do facilitismo, por parte, quer dos próprios alunos, quer dos seus encarregados de educação, ambas, por seu lado, conduzindo a outras situações perversas:
    • o elevadíssimo insucesso no 10.º ano /abandono escolar no ensino secundário, porque regido por diferentes regras; 
    • o desinteresse e a indisciplina - em pelo menos 3 disciplinas - factores predominantemente inibidores das aprendizagens, e que grassam nos ciclos de escolaridade obrigatória. Estendê-la ao 12.º ano será um erro crasso enquanto não forem corrigidas as disposições que agora vigoram.

    E vem-me à memória um inquérito do jornal Público, em que se inquiriam 'personalidades' sobre as causas do insucesso escolar (efectivo) em Portugal.
    A pergunta era: «Acha que a culpa do insucesso é dos professores?»
    A resposta de uma das inquiridas, Inês Pedrosa, escritora e directora da Casa-Museu Fernando Pessoa, mais ou menos isto :
    « É óbvio que a culpa é dos professores! Os alunos não hão-de ser todos burros!»

    pois..
    da boçalidade da resposta não vou nem falar..
    Mas tem razão a senhora: os alunos, na sua grande maioria, de 'burros' não têm nada. Nem, de resto, os alunos que reprovam são os que têm 'dificuldades de aprendizagem'.
    Os alunos que reprovam são aqueles que não querem saber da escola para nada - secundados e incentivados nesta perspectiva pelos seus EE.
    Os alunos que reprovam são os que se portam muito mal e fazem da sala de aula uma extensão do recreio, prejudicando-se a si e aos colegas.
    Os alunos que reprovam são aqueles cujos pais só aparecem na escola para insultarem os professores, carrascos implicantes que traumatizam os seus impolutos 'anjos'.

    Os alunos que reprovam, em última análise, são os que, inteligentemente, intuíram os valores de facilitismo e auto-desresponsabilização subjacentes ao sistema educativo - desenhado e mantido ao longo das últimas décadas - pelo ministério da educação.



    comentário:

    Brindo primeiro ao discurso.
    Agora sim, poderei partilhar que muitas das afirmações já citadas, fazem todo o sentido.
    Os alunos têm todos capacidades individuais e não são "burros". Nem todos terão formação para serem académicos,mas sim técnicos.
    E é preciso não esquecer que um bom técnico faz muita falta no nosso país .
    Quanto à culpa ...
    Os professores vão fazendo o seu melhor ,adaptando-se às reformas consoante a sua elasticidade.Lá vão motivando, por vezes pouco motivados .
    Mas não tenho dúvidas, as boas turmas ( já raras) brilham na mão de qualquer professor, enquanto que as outras ( mais comuns)fazem sombra no currículo do professor.

    Ana branchies