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02/11/15

a guerra (ganha) das calças

.... ou ... de como quem luta, às vezes vence!

a mulher -  o outro
Vem isto a propósito de um recorte de jornal (dos anos 60 do século passado), que alguém publicou no facebook : A mulher vai ganhar a "guerra" das calças (excerto e foto abaixo).

Pois acontece que eu (a 'antiguidade' é lixada!..) sou desse tempo em que os podres poderes se arrogavam o direito de ditar o que cada um (uma, no caso!) podia e não podia vestir. 
Agora legislam sobre o aborto ou o casamento homossexual como se um direito assim lhes assistisse, como se não fossem estas questões, apenas, do foro pessoal e uma responsabilidade individual. 
Dantes era a roupa, e os argumentos prendiam-se com a "decência", que o mesmo é dizer a moral e os "bons costumes" tão caros à Igreja Católica e ao Estado Novo. Tempos de um Salazar acolitado por um Cerejeira, bafientos os dois, mais a sociedade que assim controlavam, amarfanhando-a, tolhendo-a de regras castradoras e de culpabilidades. As mulheres como alvos a domesticar, a abater nas suas veleidades igualitárias.

Eu era pré-adolescente e lembro-me bem: gostava de andar correndo, subia às árvores, trepava por tudo quanto fosse muro. Tinha até, com as minhas amigas, um clube secreto inspirado nos livros dos Cinco e dos Sete, coisa arriscada de intrepitudes incompatíveis com esses artifícios "femininos" chamados saias, pior ainda, vestidos. Que eu, de resto, odiava. Lembro-me de convencer a minha muito-p'ra-frente-mãe a comprar-me calças de rapaz, as únicas que então se encontravam no recém-criado "pronto-a-vestir". E lá fui andando, "calç-ada", até que, jovem aluna, cheguei ao Liceu Nacional de Viseu. Frio de rachar naqueles invernos, neve todos os anos, e, de repente, a proibição: as raparigas não podem usar calças! Já nem sei se fui chamada ao reitor, se lhe visitei o gabinete por iniciativa própria, os meus "porquês" de sempre, ainda hoje. A explicação, que na altura mal-percebi: «As calças, usadas pelas raparigas, despertam pensamentos lascivos nos rapazes.» Ora toma! Se, até aos meus verdíssimos 11, 12 anos, o conceito de "concupiscência" me era totalmente alheio, depois da reitoral proibição-justificação ele passou a fazer parte do meu imaginário pecaminoso, inocentemente equacionado, depois, em torturas confessionais.

De notar, no artigo abaixo, a proibição, não só de calças, mas também de ... imagine-se, botas!! A imagem idealizada (e imposta!) da "fada do lar" - bibelot, mulher que se quer asséptica e acéfala, abonecada e abnegada, servil . E o tanto que, desde então, se evoluiu, fruto da luta de tantas! A "guerra" das calças, como anos depois viria a ser a da recusa do sutiã, alegorias de uma consciencialização daquele valor maior inscrito na Declaração dos Direitos Humanos ou, ainda antes, nos princípios da Revolução Francesa: IGUALDADE.

A que .... de resto, os homens, neste particular dos "usos e costumes", não ..... aspiram?
Enquanto as mulheres conquistaram o direito de se vestirem como muito bem lhes apetece, desfazendo a fronteira do "masculino-feminino" no que respeita às indumentárias, os homens continuam, década após década, presos a um modelo identificatório da sua "masculinidade", a moda que não inova nem arrisca. Um direito ao cor-de-rosa, enfim ... e não passa praticamente disso.
Sempre achei uma injustiça, isso de os homens não poderem vestir-se fora do cinzentismo dominante, sem que lhes venham depreciar a orientação sexual! A gravata, então ( ... ) acho-a um perfeito instrumento de tortura! E o mesmo se aplica à maquilhagem! Porque é que as mulheres podem e os homens não? Parece-me que, aí, meus amigos, a culpa é vossa. Os homens lutaram muito pouco por esse direito, essa igualdade! Pior, regrediram! Era só ver-vos o colorido aí pelo século XVII! Conquistas para esses lados, só mesmo no tocante ao comprimento dos cabelos, vá lá! E ... não, não estou a ser, nem sarcástica, nem irónica. Uma ânsia de rebelião, apenas, pelos meus e os vossos, pelos direitos de todos.


- artigo de  Maria João Leitão,
excerto:
 « (…) a explosão do uso das calças provocou, nas últimas semanas, em Portugal, certa controvérsia nos liceus, escolas e empresas, pois nem em toda a parte se sabe exactamente da existência (ou não) de qualquer disposição oficial sobre o assunto. 
«Não existe nenhuma regulamentação oficial que as proíba», esclareceu-nos o Ministério da Educação. «Há, apenas, uma disposição dizendo que as alunas e professoras se devem apresentar vestidas com dignidade e decência, não especificando o que se considera menos digno ou indecente». 
Foi assim que alguns estabelecimentos permitiram há pouco tempo o uso de calças, tanto pelas alunas como pelas suas professoras. «Na escola onde lecciono – explica uma jovem professora – já há autorização, mas ainda ninguém se atreveu a vesti-las». 
(…) 
Uma das telefonistas de uma empresa, cujo horário rotativo a faz trabalhar até à meia-noite, apareceu, há dias, com calças compridas, para se proteger do frio. Foi-lhe dito que, segundo ordens superiores, era proibido às empregadas vestirem-se daquela maneira. 
Numa outra grande empresa, o uso das calças também não é consentido. Nem sequer o das botas! Um superior, vendo uma empregada de botas, perguntou: «Acha que isto é alguma cavalariça?»  

........ e .... surpresa!!
Só em 2013 foi revogada uma lei (de 1800*) que proibia as mulheres de usarem calças compridas em ... Paris!!
ler aqui
 *
instaurada logo após a Revolução Francesa, que exigia a mulheres que se quisessem vestir como homens que pedissem autorização à polícia

___________ e, aqui, uns homens que me dão razão! ;)
«O objetivo dos membros de Hommes en Jupe (pg. no facebook) é liberalizar o guarda-roupa masculino. Eles se inspiram na luta das mulheres há algumas décadas pelo direito de usar calças e querem fazer com que as saias possam ser usadas no dia-a-dia como uma peça normal do vestuário masculino.
Consideram a saia confortável, agradável, não querem passar o resto da vida limitados ao uso de calças e alegam que a moda masculina hoje é “pobre” e sem imaginação.»

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