- as imagens das colunas laterais têm quase todas links ..
- nas páginas 'autónomas' (abaixo) vou recolhendo posts recuperados do 'vento 1', acrescentando algo novo ..

escritores

por Helena Vasconcelos [14.03.2012]
http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=302028

A luz incandescente de Maria Teresa Horta

Diante da sua nova antologia de poesia erótica, As Palavras do Corpo, Maria Teresa Horta recapitula uma vida inteira de risco e de exposição, de leitura e de escrita: “Para mim, escrever é voo e sobressalto, incêndio e desmesura”
Maria Teresa Horta, poeta, ficcionista, activista, feminista, é uma das mais importantes figuras da literatura portuguesa, conjugando na perfeição a luta feroz pelas causas que defende e o fulgor da escrita. Ao longo de uma vida apaixonante e apaixonada, Maria Teresa Horta conheceu o peso da ditadura e foi penalizada por ser mulher, livre e escritora. Com um vasto e diferenciado corpus literário que inclui poesia e prosa, a autora acaba de publicar uma antologia de poesia erótica intitulada As Palavras do Corpo (Dom Quixote), depois de ter ganho o Prémio D. Dinis - Casa de Mateus 2011 pelo romance histórico As Luzes de Leonor (Dom Quixote).

Fale-me da sua infância.

MTH
A minha infância foi arrebatada. Dividida entre a beleza da minha mãe e a inteligência do meu pai; entre o quarto da minha mãe e o escritório do meu pai. Protegida, defendida, compreendida por uma espantosa avó paterna que vivia connosco, a primeira mulher, aliás, que frequentou o liceu em Portugal. Sufragista, frequentava as reuniões feministas da histórica "casa-jardim", onde eu, menina pequena, ia com ela.

A minha infância foi a fundura do poço e o golpe de asa. O conhecimento do anjo e a queda. Uma espécie de história de fadas, com uma deslumbrante mãe abandonatória, um pai distante, gelado e inflexível, e uma madrasta como a da Branca de Neve, que me deu a comer várias maçãs envenenadas. A minha infância foi o começo exaltado e fulgurante da leitura e o início maravilhado do prazer da escrita; com o escritório do meu pai como paraíso proibido, onde me escondia, me perdia a olhar as lombadas dos livros nas prateleiras das estantes a que não chegava. Livros de que a minha avó me lia pedaços, a meu pedido, reclamando: "Mas não é leitura para a tua idade, não vais perceber nada..." E eu acabava sempre por lhe garantir no final: "Não interessa se não percebi, é tão bonito!"

Li, algures, que a Maria Teresa aprendeu a ler sozinha...

Digamos que sim, embora tivesse a ajuda da minha avó, que com uma imensa paciência sempre acedia quando lhe rogava para me ler esta ou aquela palavra, e repetir o nome de cada uma das letras que as compunham. Nessa altura as crianças só iam para a escola aos sete anos; ora, na altura em que isto aconteceu, eu deveria ter por volta dos quatro. Quando, pasmado, o mau pai se apercebeu de que melhor ou pior eu sabia ler, contratou uma professora para pôr ordem naquele meu saber bastante caótico e para me ensinar a escrever. Aí conheci outra das grandes paixões da minha vida: a escrita. E tudo mudou, tomou um rumo diferente e amotinado.       ------  (ler mais)
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José Luís Peixoto
publicado inicialmente no 'Esagbib',13/2/2009

 
E agora, como prometido (.!.) José Luís Peixoto, escritor português, galardoado com o prémio José Saramago em 2001*
 
Conheço-o há pouco tempo. Até agora li 2 livros seus, o 'Nenhum Olhar' * e 'O Cemitério de Pianos'. Já comprei o 'Cal'..
  • dele sei .. que tem a idade do "25 de Abril", muitos piercings, tatuagens qb.
  • que tem um blogue (a q. vai m.to pouco mas onde deixa uns textos deliciosos..), um site (coming soon).. ; que está no My Space.
  • que de si diz : Tenho um punk dentro de mim, debaixo da minha pele ...(não percam o texto:!! - 'Not dead ' - 4º post, aqui)
  • que às vezes não usa maiúsculas e 'reflexivou' o verbo parar: ele, ela, parou-se, nem mais..
  • que parece ser uma pessoa encantadora, e tímido, tímido (apesar de punk ..:)
  • que a tristeza infinita daquele olhar nas contra-capas se tem vindo a esbater..
  • que tem um humor surpreendente, delicioso: e um texto ** q o ilustra: a ler, absolutamente (aqui ao fundo)

Sei que há-de vir à ESAG (Março?) e que não vos perdoo se não me convidarem a assistir ( alô 10.º B!! .. :-)))

Sei também que José Luís Peixoto é fã
(penso q incondicional) do escritor argentino Julio Cortázar, (clicar para ver post) de quem, de resto, prefaciou a edição portuguesa de "Rayuela/o jogo do mundo". Que fielmente, amorosamente, lhe adoptou/adaptou as transgressões estruturais no romance 'O Cemitério de Pianos'. 

sei, sobretudo, 
  • que escreve .. como que com o corpo todo. 
  • que cada palavra inserta é tão absolutamente a palavra certa, que dir-se-ia ter sido sonhada antes.
  • que os seus personagens são de uma humanidade enternecedora. 
  • sei que a sua prosa é tão.. mas tão .. intensamente poética 
  • e que a sua escrita é bela e flui , que é insinuante e dolorosa , que sem apelo toma conta de nós como um 'mal de vivre' que. (Isto é uma das coisas q ele faz, acabar as frases deste modo impossível e no entanto tão rico de hipóteses, de leituras ..)


       Deixo-vos com ..

      • uma fotografia surpreendente, por aqui (+/- a meio da página, têm de procurá-la ;))

      e já agora .. nesta importada celebração q dá pelo nome de Valentine's Day, com um seu - lindíssimo - poema de amor:

      "...a tua ausência é, em cada momento, a tua ausência.
      não esqueço que os teus lábios existem longe de mim.
      aqui há casas vazias. há cidades desertas. há lugares.

      mas eu lembro que o tempo é outra coisa, e tenho
      tanta pena de perder um instante dos teus cabelos.

      aqui não há palavras. há a tua ausência. há o medo sem os
      teus lábios, sem os teus cabelos.
      fecho os olhos para te ver
      e para não chorar..."

      .
      e ainda.. o tal texto, referido em cima **

      José Luís Peixoto na sua saborosíssima crónica – Verdades quase verdadeiras, no JL (Jornal de Letras),
      acerca das pessoas que dormem nas conferências dos encontros literários:
      (...)
      «No entanto, numa ou outra circunstância, quando estou nessa mesa de microfones e os vejo dormir, sinto uma ternura por eles que só pode ser comparada ao amor.
      É uma ternura imensa e absoluta. Não sei ainda se esse sentimento existe por identificação, porque gostaria de estar no lugar deles, a dormir sem rugas na pele, ou se existe por inequívoca impossibilidade.
      Sei sim que é um sentimento de família, como se, implicitamente, essas pessoas fossem meus irmãos, irmãs, pais, filhos. É como uma necessidade de cuidar deles, de pousar-lhes uma manta sobre as pernas, uma almofada sob o pescoço perdido.
      É como uma vontade de falar baixo para que não despertem, para que tenham a sua tranquilidade assegurada por mais um instante, nem que seja por mais um instante…
      De um modo geral, aqueles que dormem são uma minoria da assistência. Em situações excepcionais, já identifiquei dois, três, ou mesmo quatro, numa só sala. Mas continuo a participar em encontros literários e continuo a ter esperança. Aguardo com paciência pelo dia em que toda a sala adormeça.
      Três ou quatro autores e teóricos, sentados a uma mesa com garrafas de água e um arranjo floral, a falarem muito baixinho para não acordar a assistência, que dorme mais ou menos profundamente: uma sinfonia de respirações, paz.
      O aplauso mais puro a ser o contrário de palmas. Mundos e sonhos possíveis a desenrolarem-se por de trás dos rostos. Seria comovente e maravilhoso.»

      *

      valter hugo mãe


      Como se atravessa uma ponte, de regresso ao que, para sempre e inexoravelmente, deixou de ser? Como voltar agora ao caminho tranquilo dos livros ‘normais’, depois de dias e dias passados em fascínio, do outro lado? Depois de ter permanecido padecido perecido, lá onde cada linha é um desafio, um mergulho, um salto no escuro; um ser-se - apaixonadamente; um descobrir-se, desabituado de uma linguagem que nos sacode, e que adivinhamos Lugar, e Nascimento. Construção absolutamente nas margens, e ainda assim perceptível. Revolucionarizante,< e apesar disso coerente de códigos e regras.


      É assim. Há Autores que nos renovam e nos agitam. Que irremediavelmente nos desassossegam. Que nos fazem, também, sentir pequenos, pequenos, pequenos. Este é Um e chama-se valter hugo mãe.Dele quis ler “o apocalipse dos trabalhadores”, que li recomendado como ‘um livro excepcional’. Esgotado, em toda a parte. Do Autor encontrei então um outro romance, edição de bolso com letra de tamanho minúsculo, mesmo assim irrecusável: “o remorso de baltazar serapião”, ganhador, em 2007, do prémio José Saramago, que o apelida de ‘tsunami’. Citando esse outro Grande Transgressor: «Este livro é um tsunami, não no sentido destrutivo, mas da força. Foi a primeira imagem que me veio à cabeça quando o li. […] Tem de ser lido, porque traz muito de novo e fertilizará a literatura

      Não vou desvendar enredos, nem deter-me em análises pessoais. Não vou, sequer, referir Cortázar, ou a literatura africana de expressão portuguesa, como influências que, a espaços, me parece descortinar. Deixo-vos com dois excertos, para que possam ajuizar sozinhos, para que (confio ..) em deslumbramento vos cresçam apetites inadiáveis:

      « […] nós éramos os sargas, o aldegundes sarga, dos sargas, diziam. ele é sarga, é dos sargas cara chapada. nada éramos os serapião, nome da família, e já nos desimportávamos com isso. dizia o meu pai, o povo simplifica tudo e a nós vêem-nos com a vaca e lembram-se dela, que é mais fácil para se lembrarem de nós e nos identificarem. a vaca era a nossa grande história, pensava eu, como haveria de nos apelidar a todos e servir de tema de conversa quando perguntavam pela mãe, pelo pai, perguntavam pela vaca, magra, feia, tonta da cabeça, sempre pronta a morrer sem morrer. e riam-se assim com o nosso disparate de ter um animal tão tratado como família, e não entendiam muito bem. […]»

      «[…] aproximei-me dos dois, grande e imbatível como uma pedra de ódio construída no exercício do meu bom amor, e me pus diante deles tão pequenos. afastaram-se da minha ermesinda que, imóvel, respirou menos, respirou menos, respirou menos, não respirou. a sarga mugiu de modo lancinante. e eu abati-me sobre os dois abrindo lado a lado os braços de punhos fechados. um só golpe certeiro sobre as suas cabeças. um só golpe com a violência da pedra mais furiosa do mundo. sobraram no chão como mais nada ali estivesse. […] »


      Notas:
      Esqueci-me de dizer: Valter Hugo Mãe não usa maiúsculas – em nada, alegadamente por achar não serem algumas palavras mais importantes que as outras. Mas isso é, apenas, um pormenor, e absolutamente despiciendo.

      - tem uma página web, onde se pode ler uma autobiografia deliciosa:
      aqui
      - um blogue: casadeosso
      - está também aqui, juntamente com outros dois prémios J. Saramago



      .
      *

      PAUL AUSTER

      «Para mim, escrever não é já um acto de vontade. É uma questão de sobrevivência».
      Esta é a frase que abre o seu site definitivo - clicar aqui para ver 'tudo' sobre este autor, uma das minhas paixões maiores..

      Paul Auster, que é considerado 'o mais europeu dos escritores americanos' parece ser menos conhecido e menos apreciado no seu próprio país do que na Europa ...

      Em entrevistas ao jornal El Periódico de Catalunya e ao El País: 'Os Estados Unidos vivem uma guerra civil de ideias', explica:

      "Tenho mais leitores na Alemanha, na França e em Espanha , porque são países onde as pessoas ainda se interessam pela literatura. A este nível, os Estados Unidos são um deserto ".
      E continua: "A culpa desta situação é do sistema educativo herdeiro da política de Bush, que foi o pior que podia ter acontecido a este país. Neste momento estamos a criar uma geração para quem ler não tem o mínimo valor."

      No vídeo abaixo (passem a parte do apresentador), Paul Auster lendo excertos do seu último romance, 'Man in the dark'. No fim há a conversa com o público, talvez a parte mais interessante, porque desvenda o homem por detrás do autor (modesto, tímido, tímido, que dói - apetece dar-lhe colo ... a ele e ao rapaz que lhe faz as 1ªs perguntas ... uns queridos ... nova-iorquinos, claro, uma 'sobre-espécie' dentro dos EU) 



      sobre "Man in the Dark":
      «Há uma guerra civil em que se disparam sobretudo ideias, e que se leva ao limite». Mortíferas, tão devastadoras como balas. Ler aqui a entrevista do autor ao El País: - interessantíssima, elucidativa: «Nos EU há dois mundos que não comunicam entre si!»
      O tema deste romance de Paul Auster 'nasce' de um inconformismo, uma não-aceitação do 'estado das coisas', no seu país: «Há oito anos, desde o golpe de estado legal que derrotou Al Gore, que sinto como se vivesse num mundo paralelo que acabou por tornar-se real, e tudo só tem vindo a piorar!»
      Não é casualidade que a guerra civil de Brick (o 'homem no escuro') comece com a independência de Nova York. "E não é piada: há muita gente que pensa que NY deveria ser um Estado independente; tanto que, após o 11 de Setembro, houve uma revista de poesia que escreveu, na 1ª página: 'USA out of NYC'; muitos outros odeiam NY pelo que representa, com 40% da população vinda de fora...".
      Acrescente-se que Auster votará em Obama ("em condições normais, tendo a Administração de Bush funcionado tão mal, Obama deveria ganhar, mas há a questão de ser negro: em 4 de Novembro veremos o quão racistas são os EU") - Paul Auster, ao El País

      O livro, interessantíssimo, não está ainda traduzido em Portugal. Encontram-no na Fnac (ou podem encomendá-lo aqui ) na versão original. O Inglês é muito acessível. E .. recomendo-o vivamente! Vão ver que o lêem de um fôlego!:-)
      .
      Apaixonado também pelo cinema, Paul Auster escreveu o argumento de 'Smoke' , um filme de Wayne Wang, com quem depois co-realizaria 'Blue in the Face'. Duas delícias, de 1995. Em 1998, realizou o seu primeiro filme, 'Lulu on the Bridge'.
      Em 2006 esteve em Portugal para a rodagem do último filme em que foi argumentista e co-realizador, 'The inner life of Martin Frost'. Ver entrevista aqui .
      Também o seu perturbante, estranho e belíssimo romance, 'The Music of Chance' , foi adaptado ao cinema em 1993.


      Livros do Paul Auster  que recomendo (mais) vivamente:
      (clicar para ver sinopse)
      - Mr Vertigo
      - A Música do Acaso
      - Man in the Dark (ainda ñ traduzido em Portugal)
      - A Noite do Oráculo
      - O Livro das Ilusões
      - As Loucuras de Brooklyn

      postado por ana lima


      *

      a força transgressora de Julio Cortázar (1) 

      «Julio Cortázar, escritor e intelectual argentino (1914-1984) é considerado um dos autores mais inovadores e originais do seu tempo», lê-se na informação sobre o autor constante do livro recém-editado em Portugal, 'O Jogo do Mundo' (Rayuela), da cavalo de ferro.
      Pois eu (que até leio umas coisas..) não conheço ninguém mais original, mais ousado, mais transgressor dos cânones académicos que enformam (espartilham?) a criação literária. Dir-se-ia, pelo que dele conheço e que se resume a um livro, Rayuela (e perdoar-me-ão a blasfémia ..) uma esquizofrenia intelectual, uma construção narrativa eivada de um lsdismo tão indissociável desses gloriosos anos 60 do século passado..

      tenho de esclarecer que adorei conhecer este autor. que deste seu romance que são dois, li tudo, incluindo os 'capítulos dispensáveis'. que me deslumbrou, precisamente, isso a que chamo 'esquizofrenia'. que ñ parei de me surpreender com a ousadia deste homem, com as impensáveis transgressões, capítulo a capítulo. só mesmo alguém muito consciente da sua genialidade. alguém muito louco, e é um elogio. alguém com um sentido de humor único. alguém que ama tanto a literatura, que com ela se entretém em permanentes - quase eróticos - jogos recreativos. alguém a quem não importa um mínimo (a palavra ideal ñ seria esta, mas ñ vou ferir susceptibilidades..) a opinião dos outros (e é, novamente, um elogio). alguém no limiar da vida, e da morte, e de tudo.

      aviso aos alunos no geral e às pessoas susceptíveis em particular:
      NÃO LER as partes a azul-esverdeado deste post!

      os outros ... podem dar uma olhadela aos:
      exemplos de transgressões presentes no romance 'O Jogo do Mundo'

      1.
      «Julio Cortázar, escritor e intelectual argentino, é considerado
      tenho de esclarecer que adorei conhecer este autor.
      um dos autores mais inovadores e originais do seu tempo»
      que deste seu romance que são dois, li tudo.
      2.
      não parei de me surpreender com a housadia deste homem, com as himpensáveis transgressões
      3.
      tenho de esklarecer ke adorei konhecer este autor. ke deste seu romance ke são dois, li tudo
      4.
      as inhpençáveis trãsgreçõins, capitllo a capitlo. só mesmo alguenhe muito conssiente da sua xeniali dá-de


      perplexos? qq dúvida, é só deixarem um comentário! :-)
      no próximo capítulo, não percam: excertos (sem transgressões:-) de rayuela = jogo da macaca = jogo da amarelinha = o jogo do mundo : aqui

      postado por ana lima em no 'ESAGBIB' (Dez. 2008):

      comentário meu:
      .
      (...) há muito mais para além de um pequeno capítulo com 2 histórias contadas em linhas alternadas, alguns parágrafos em q palavras improváveis começam por 'h' ou por 'k', uma ou outra passagem com palavras 'revestidas'(vestidas de novo?!/%&), com erros ortográficos, o q se queira..
      Há transgressões tb na organização dos capítulos, na mistura surpreendente de linguagem, como há, poesia da melhor e outra à beira da náusea, uma enorme sensibilidade, uma dureza q magoa, filosofia estonteante, uma erudição rara.
      só sei q me senti transportada para o espírito dos anos 60 e da sua magia (aqui foram os 70). E vieram-me à memória os ciclos de cinema do Bergman, do Godard.. e as tertúlias depois, as análises mirabolantes..
      AL , 19/12/2008
       
      *


      Numa altura em que a chamada 'prosa light' prolifera pelas livrarias como maçãs envenenadas, vamos aqui, periodicamente, dedicar alguns posts à divulgação, sim, mas da boa literatura.
      E ... gracias! - aos bons autores e aos bons livros, que nos preenchem: de sonhos, de sombras, e de vida ...

      Comecemos, então, pelo senhor ao lado: João de Melo (além de escritor, também professor, actualmente Conselheiro Cultural na Embaixada de Portugal em Madrid e principal responsável pela Mostra da Cultura Portuguesa)

      João de Melo é um mago das palavras, que entretece com uma mestria rara (muito rara..), num registo intimista e quase sempre comovente. Escreve como se, sussurrando ao ouvido do leitor, se confessasse . Ou como se compusesse música: às vezes uma sinfonia, uma sonata (- appassionata...), às vezes um requiem.

      A sua prosa é intensamente poética, de uma sensibilidade primordial, à flor da pele. Mesmo quando, “um cão revolvendo-se-lhe no estômago ou nos pulmões”, se entrega - inteiro, desnudo, ao relato de experiências terríveis - vividas ou imaginadas. É assim, por exemplo, no conto “A Esposa”, mas sobretudo nesse inigualável “ Autópsia de um Mar de Ruínas”: um romance visceral, 'dorido e doloroso', a um tempo belo e cruel. A palavra em carne viva, a memória enferma da guerra colonial em Angola, onde (citando Nuno Bragança) "foi - para salvar vidas." Um livro que dói como uma perda, ou uma pedra. Um livro que não conseguimos - que não podemos - deixar de ler.

      Depois ... em João de Melo há também Lisboa, a cidade onde viveu grande parte da sua vida – uma cidade que ele vê em arco, onde 'é' ..."O Homem Suspenso". E há Évora, que ama 'como a si mesmo'. Há as ilhas. E as frágeis criptomérias, sempre tão carentes de amor …
      E há o mar (oh, sim, o mar!...) : o branco, dos Açores, o de Madrid, do seu último romance, e sobretudo, o outro, do conto “O Gémeo e a Sombra”. Do mais bonito que alguma vez li…


      Então..? Imperdoável não conhecer este escritor, verdad ? Perguntem por ele na Fnac, nas livrarias da Baixa, na Byblos (conhecem? - boa oportunidade para uma visita, não? Fica em frente às Amoreiras, em Lisboa).
      - clicar para ler aqui, uma carta lindíssima, lindíssima , de um personagem da "Autópsia de um Mar de Ruínas" 
      Notas:
      - os contos acima referidos estão no livro “As Coisas da Alma” - [não deixem de ler!!]
      - das criptomérias, de Évora e de outros amores fala João de Melo no seu “Dicionário de Paixões” - [óptimo, também]
      - "O Homem Suspenso" é um dos romances seus que prefiro

      postado por ana lima em 4 de Outubro de 2008, em 'ESAGBIB'