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10/06/13

«não sei em que país vive o dito Gaspar..»

recebido via e-mail: 

8 de Junho de 2013
em As Minhas Leituras

NÃO SEI EM QUE PAÍS vive o dito Gaspar. Talvez um país habitado por gnomos, fadas, ministros alemães e jogadores do Benfica. Ou por sujeitos de fato e grava­ta que emergem dos carros e mergu­lham nas garagens e nos gabinetes e daí para os hotéis e condomínios fechados, ou os aviões, e nunca encontram gente. Dessa que paga impostos, taxas e contri­buições de solidariedade para ajudar as pessoas que precisam, ou seja, eles mesmos entre outros. Não me chateia que o Benfica perca jogos, nem por solidariedade com o dito Gaspar, chateia-me que quando vou arrumar o carro venha não o arrumador do costume, um chunga a fazer pela vida, e sim um reformado. Um velhote, uns são mais tesos do que outros, que fica agradecido pelo euro e dá um grande bom-dia em troca. Conviria mandar para cima destes trocos uma taxa de arrumação gratuita, ou colocar os jovens da EMEL, a ganhar à multa, viva o empreendedorismo, a multar os arrumado­res reformados. Fica aqui a ideia. E podem acrescentar os porteiros, guardas, choferes, moços de recados e ajudantes com mais de 75 anos. Há muitos. Chateia-me a senhora que amanhece no néon da costuraria, agora chamada de retoucherie por todos os centros comer­ciais, e que me diz que nunca sabe se vai ter ordenado. Teria idade para estar reformada mas enquanto existirem óculos de ver ao perto, devidamente não comparticipados, ao contrário do pacemaker grátis do homem mais rico de Portu­gal, que ficou chocado por o sistema nacional de saúde lho oferecer, oh indig­nação oh abominação, mas não se lem­brou de devolver o dinheiro ou doá-lo ao hospital. Conviria verificar se a costureira ganha o salário mínimo, porque o salário mínimo, na opinião do dito Borges, é demasiado. Quem quer bons salários vai fazer consultoria de privatizações e não corte e costura. Empregos de mulheres ociosas. A costura, não a consultoria. Na caixa do supermercado estou sempre a ver caras novas nos mesmos dias da semana, ou seja, ou têm empregados a mais ou têm contratados a menos. É um emprego com grande agilidade e mobili­dade, ninguém fica por ali a aquecer o lugar. Será como noutras lojas em que os empregados trabalham seis meses e a seguir são despedidos e vem uma nova leva, fresca e prontinha a ser despedida? Chateia-me o miúdo de 20 anos que guiava o táxi e disse que trabalhava de noite para ver se conseguia continuar a estudar de dia. De noite, era mais perigo­so. O que lhe fazia impressão era trans­portar a malta da idade dele que andava pelo bairro a divertir-se, miúdos e miú­das mais ricos, alguns embriagados, que nem o viam nem viam a idade dele. Se eles soubessem como gostaria de não estar ali, àquela hora, ao volante de um carro de aluguer.

O Gaspar e os que o acompanham, com os seus mestrados de luxo, chamam a isto falta de iniciativa, ser pobre. Não é, é só falta de dinheiro. Nunca ninguém se lembrará de convidar um pobre para falar sobre a pobreza num seminário da universidade. São sempre os ricos, os abastados, os privilegiados, que falam em nome deles. Que escrevem tratados e compêndios em nome deles. Que inventam a solidariedade em nome deles, mas não a solidariedade que o Gaspar nos pede por causa da derrota do Benfica, outra. E ficam agastados quando o pobre não é virtuoso e agradecido e quer gastar dinheiro nas mesmas coisas que um rico, sei lá, um concerto ou uma viagem. Chateia-me a gente de olhos baixos. A gente de olhos mortos, que espera cansada por qualquer coisa que não se vai materializar. A gente que teme pelos pais e pelos filhos, e que vive amedrontada. A gente carimbada como excedentária, parasitária, protozoária. A gente pária. Perdulária. Portugal resolvia-se se tivesse menos cinco milhões de pessoas e se os reforma­dos, funcionários públicos envelhecidos, doentes com doenças exorbitantes, desem­pregados e outros subsidiados e excluídos, jovens com sonhos de educações superio­res, simplesmente desaparecessem mor­rendo ou emigrassem vivendo. Se metade da população portuguesa fosse dizimada pela peste isto resolvia-se. Reconvertia-se. Sobreviviam os empreendedores, os filósofos do empreendimento, os financia­dores e financeiros, os teólogos da austeri­dade e respetivas famílias, mesmo velhas e excedentárias, as grávidas, os católicos e demais religiosos reprodutivos, os funcio­nários superiores e os consultores. E seus assessores. E os jogadores do Benfica que comovem o dito Gaspar. Mais meia dúzia de artistas oficiais patrocinados e restaura­dores da confiança nacional. Com os banqueiros e os grandes industriais e retalhistas. As pequenas e médias empre­sas não falidas, porque o país está em processo de… reconversão. Ajustamento. Consolidação. Estas coisas da reconversão são como os filmes de Hollywood, aca­bam sempre bem. O mesmo não se dirá dos jogos do Benfica.

Clara Ferreira Alves

12/04/13

«A madrasta-Gaspar»

retirado do facebook
publicado por Amadeu Homem 
11 de Abril de 2013

EMBRULHAR O GASPAR

Na historieta da "Gata Borralheira" , aparecia uma madrasta, resmungona e de maus fígados, que desejava a todo o custo que o sapato que essa Cinderela tinha perdido no baile, depois de bailar com o príncipe, servisse no sapato de uma das filhas, durázias e feias, mas desejosas de vir a ser princesas. O Gaspar das Finanças acaba de ocupar o lugar da madrasta malévola. Ele gostaria de ter um idílio com os juízes do Tribunal Constitucional. Mas estes, com a Constituição à cintura, disseram ao Gaspar que ele não tinha o porte suficiente para valsar. Fartava-se de pisar os calos aos concidadãos, fazendo-o inconstitucionalmente, ou seja, de forma ilegal. A madrasta-Gaspar agarrou no sapato do orçamento e fez esforços inauditos para nos convencer a todos, nós que somos seus filhos e filhas - porque pagamos a factura - , que o sapato do OE era justo e adequado. Como o Tribunal Constitucional desenganou Gaspar, este tratou de se vingar, que é o caminho sempre seguido pelos infinitamente pequenos. E vai daí, este Gigante das Finanças, este Ciclope dos gráficos, disse para os seus botões : "Ah, escumalha, vocês vão já ver como elas vos mordem". E ejaculou um despacho que dá bem a dimensão liliputiana do seu gigantismo... Nos termos dele, todos os serviços oficiais precisarão de pedir uma autorização prévia para adquirirem bens essenciais, desde as hortaliças para se fazerem as sopas dos estudantes, até ao papel higiénico , com o qual todos os juízes ( e não só) limpam o respeitável traseiro. 

E foi assim que todos nos vemos, depois do baile oferecido a Gaspar e demais tropa fandanga governamental pelos juízes constitucionais, sem alfaces, sem pepinos e sem papel higiénico onde possamos ... embrulhar o Gaspar. 

O Gaspar bolsou um despacho vingativo. Ora bem : é imperioso que nós nos vinguemos do Gaspar ( e dos outros ) embrulhando-o. Embrulhando-os de vez.

fonte

22/02/13

o inferno, por Vítor Gaspar

publicado em esquerda.net
em 21/02/2013

por  Luís Branco


Dignidade e honra 


"Temos dignidade e honra. Foi o povo que nos confiou o poder e hoje devolvemo-lo", afirmou ontem o primeiro-ministro búlgaro, na hora da demissão do Governo contestado nas ruas por causa do aumento brutal do preço da eletricidade e da corrupção. 

Ouvidas em Portugal, as palavras de Boiko Borissov soam estranhas. Assim de repente, estão a ver algum governante contestado por não cumprir os seus compromissos, falhar todas as metas a que se propôs e fazer no Governo o contrário do que prometeu em campanha, a demitir-se invocando a sua "dignidade e honra"? 

Em vez disso, temos um Governo acossado pelo povo onde quer que vá, indiferente à realidade que desmente dia após dia as suas previsões: no défice e a dívida, no impacto da austeridade na recessão económica, no desemprego. Falhanço após falhanço, chegámos ao ponto em que estamos. 

Ao mesmo tempo que Borissov anunciava a sua demissão em Sófia, o ministro Vítor Gaspar admitia perante os deputados em São Bento que a recessão da economia portuguesa será o dobro da que previu há dois meses. Quanto à previsão para o desemprego, que também será revista em alta, Gaspar entende que ela "é quase indiferente para a vida das pessoas". 

As palavras do ministro das Finanças são um recado explícito a mais de 1 milhão de pessoas que vivem sem emprego em Portugal e a tantos outros que vivem sob a ameaça do despedimento: se procuram alguma esperança de ver a vida melhorar, então deixem de olhar para as previsões porque elas serão cada vez piores. 

As próximas semanas serão decisivas para o futuro do governo da troika. Os funcionários do FMI, BCE e UE virão a Lisboa benzer mais cortes e dar a sétima nota positiva à catástrofe social instalada. Mas o povo irá mostrar nas ruas a 2 de março que é ele quem mais ordena e que a ordem é agora muito clara: demissão imediata deste Governo que nunca soube o que é honra e muito menos dignidade. -- fonte

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07/01/13

Os fantasmas

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de Paula Rego, Salazar vomitando a pátria- ou será Gaspar?


-- recebido por e-mail, um texto que recomendo..

por Luís Manuel Cunha *
in “Jornal de Barcelos” de 10.10.2012 

 Os fantasmas
Esta coisa de escrever crónicas “é um jogo permanente entre o estilo e a substância”. Uma luta entre “o deboche estilístico” do gozo da escrita e “a frieza analítica” do pensamento do cronista. Por isso, enquanto cidadão, só posso ver este governo como uma verdadeira praga bíblica que caiu sobre um povo que o não merecia. Mas, enquanto cronista, encaro-o como uma dádiva dos céus, um maná dos deuses, “um harém de metáforas”, uma verdadeira girândola de piruetas estilísticas.

Tomemos como exemplo o ministro Gaspar. Licenciado e doutorado em Economia, fez parte da carreira em Bruxelas onde foi director do Departamento de Estudos do BCE. Por cá, passou pelo Banco de Portugal, foi chefe de gabinete de Miguel Beleza e colaborador de Braga de Macedo. É o actual ministro das Finanças. Pois bem. O cronista olha para este “talento” e que vê nele? Um retardado mental? Uma rábula com olheiras? Um pantomineiro idiota? Não me compete, enquanto cidadão, dar a resposta. Mas não posso deixar de referir a reacção ministerial à manifestação de 15 de Setembro que, repito, adjectivava os governantes onde se inclui o soporífero Gaspar, como “gatunos, mafiosos, carteiristas, chulos, chupistas, vigaristas, filhos da puta”. Pois bem. Gaspar afirmou na Assembleia da República que o povo português, este mesmo povo português que assim se referia ao seu governo, “revelou-se o melhor povo do mundo e o melhor activo de Portugal”! Assumpção autocrítica de alguém que também é capaz de, lucidamente, se entender, por exemplo, como um “chulo” do país? Incapacidade congénita de interpretar o designativo metafórico de “filhos da puta”? Não me parece. Parece-­me sim um exercício de cinismo, sarcástico e obsceno, de quem se está simplesmente “a cagar” para o povo que protesta. A ser assim, julgo como perfeitamente adequado repetir aqui uma passagem de um texto em forma de requerimento “poético” de 1934. Assim: “A Nação confiou-­lhe os seus destinos?... / Então, comprima, aperte os intestinos. / Se lhe escapar um traque, não se importe… / Quem sabe se o cheirá-­lo nos dá sorte? / Quantos porão as suas esperanças / Num traque do ministro das Finanças?... / E quem viver aflito, sem recursos / Já não distingue os traques dos discursos.” [+  aquiProvavelmente o sr. ministro desconhecerá a história daquele gajo que era tão feio, tão feio, que os gases andavam sempre num vaivém constante para cima e para baixo, sem saber se sair pela boca se pelo ânus, dado que os dois orifícios esteticamente se confundiam. Pois bem. O sr. ministro é o primeiro, honra lhe seja concedida, que já confunde os traques com os discursos. Os seus. Desta vez, o traque saiu-lhe pelo local de onde deveria ter saído o discurso! Ou seja e desculpar-me-ão a grosseria linguística, em vez de falar, “cagou-­se”. Para o povo português. Lamentavelmente.


Outro exemplar destes políticos que fazem as delícias de um cronista é Cavaco Silva. Cavaco está politicamente senil. Soletra umas solenidades de circunstância, meia-dúzia de banalidades e, limitado intelectualmente como é, permanece “amarrado à âncora da sua ignorância”. Só neste contexto se compreende o espanto expresso publicamente com “o sorriso das vacas”, as lamúrias por uma reforma insuficiente de 10 mil euros mensais, a constante repetição do “estou muito preocupado” e outros lugares-comuns que fazem deste parolo de Boliqueime uma fotocópia histórica de Américo Tomás, o almirante de Salazar. Já o escrevi aqui várias vezes. Na cabeça de Cavaco reina um vácuo absoluto. Pelo que, quando fala, balbucia algumas baboseiras lapalicianas reveladoras de quem não pode falar do mundo complexo em que vivemos com a inteligência de um homem de Estado. Simplesmente porque não a tem. Cavaco é uma irrelevância de quem nada há a esperar, a não ser afirmações como a recentemente proferida aquando das comemorações do 5 de Outubro de que “o futuro são os jovens deste país”! Pudera! Cavaco não surpreenderia ninguém se subscrevesse por exemplo a afirmação do Tomás ao referir-­se à promulgação de um qualquer despacho número cem dizendo que lhe fora dado esse número “não por acaso mas porque ele vem não sequência de outros noventa e nove anteriores…” Tal e qual.

Termino esta crónica socorrendo-me da adaptação feliz de um aforismo do comendador Marques de Correia e que diz assim: “Faz de Gaspar um novo Salazar, faz de Cavaco um novo Tomás e canta ó tempo volta para trás”. É que só falta mesmo isso. Que o tempo volte para trás. Porque Salazar e Tomás já os temos por cá.

P.S.: Permitam-me a assumpção da mea culpa. Critiquei aqui violentamente José Sócrates. Mantenho o que disse. Mas hoje, comparando-o com esse garotelho sem qualquer arcaboiço para governar chamado Passos Coelho, reconheço que é como comparar merda com pudim. Para Sócrates, obviamente, a metáfora do pudim. Sinceramente, nunca pensei ter de escrever isto. 

* Professor 

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29/11/12

Notas sobre finanças (e chimpanzés)


na Visão
Quinta feira, 29 de Novembro de 2012 

por Ricardo Araújo Pereira  


Após alguma reflexão sobre o assunto, ocorreu-me que talvez fosse importante que alguém apresentasse Vítor Gaspar a um ser humano. 

Podia ser um encontro discreto, a dois, só com um terceiro elemento que começasse por fazer as honras: "Vítor, é o ser humano. Ser humano, é o Vítor." E depois ficavam a sós, a conviver um bocadinho. 

Perspicaz como é, o ministro haveria de reparar que, entre o ser humano e um algarismo, há duas ou três diferenças. O ser humano comparece com pouca frequência nas folhas de excel, ao contrário do algarismo. E o algarismo não passa fome nem morre, ao contrário do ser humano. 

É raro encontrarmos uma lápide, no cemitério, com a inscrição: "Aqui jaz o algarismo 7. Faleceu na sequência de um engano numa multiplicação. Paz à sua alma." Mal o ministro tivesse percebido bem a diferença entre o ser humano e os números, poderia voltar às suas folhas de cálculo. Admito que se trata de uma experiência inédita, mas gostaria muito de a ver posta em prática. 

Houve um tempo em que quem não soubesse de economia estava excluído da discussão política. Felizmente, esse tempo acabou. Os que percebem de economia são os primeiros a errar todos os cálculos, falhar todas as previsões, agravar os problemas que pretendiam resolver. 

As propostas de um leigo talvez sejam absurdas, irrealistas e inexequíveis. Não faz mal: as do ministro também são. Estamos todos em pé de igualdade. 

A realidade não aprecia economistas. Se um chimpanzé fosse ministro das Finanças, talvez a dívida aumentasse, o desemprego subisse e a recessão se agravasse. Ou seja, ninguém notava. 

Como toda a gente, também tenho uma sugestão para reduzir a despesa. Proponho que Portugal venda uma auto-estrada para o Porto. Temos três, e não precisamos de todas. Há-de haver um país que esteja interessado numa auto-estrada para o Porto. Não há nenhuma auto-estrada para o Porto no Canadá, por exemplo. Nem na Noruega. (Eu confirmei estes dados.) São países ricos, aos quais uma auto-estrada para o Porto pode dar jeito. Fica a proposta. Não é a mais absurda que já vi. (fonte
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24/10/12

Pela boca morreu Passos

no Público de 24 de Outubro de 2012


por Santana Castilho *


O orçamento de Estado para 2013 quer tapar à bruta três enormes buracos: um enorme buraco resultante de uma enorme derrapagem do orçamento de 2012; um enorme buraco orçamental previsto para 2013; e um enorme buraco que resultará de uma enorme derrapagem na execução de 2013, prevista por antecipação, passe a redundância, no próprio orçamento de 2013. Com efeito, lá estão alguns milhares de milhões de “almofada”: para uma receita que, embora orçamentada, não será cobrada; para responder ao desemprego que esconde; e para suprir um corte na despesa que, embora orçamentado, acabará por não ser feito. Com 3 milhões de pobres e os restantes exaustos pelo confisco fiscal, com o PIB a cair entre 2,8 e 5,3 por cento (FMI dixit), só fanáticos suicidas orçamentam assim. É preciso pará-los. 

A credibilidade técnica de Vítor Gaspar foi um mito com pés de barro. Estimou que as receitas do IVA subiriam 11,6 por cento e acabaram caindo 2,2. Previu, em Março passado, que o encargo do Estado com o desemprego cresceria 3,8 por cento e, em Agosto, já ia em 23. O consumo público contraiu 3,2 por cento em 2011 e a Comissão Europeia estima que contraia 6,2 este ano. O consumo privado caiu 4,2 por cento em 2011 e a CE prevê que caia 5,9 este ano. E Gaspar ignora, quando orçamenta e taxa. E ignora o Tribunal Constitucional. E volta a ignorar, com arrogância e desprezo, o presidente da República e o próprio FMI. Ignora tudo e todos. E ignora o “melhor povo do mundo”, que esmaga com impostos em 2013. 

Mas a credibilidade política de Passos Coelho não vai melhor. Em Novembro de 2010, Passos Coelho clamou para o país uma “nova cultura de responsabilidade”, num jantar partidário em Viana do Castelo, promovido pelo PSD de Barcelos. Da sua intervenção saltou para o debate público, via Lusa, a defesa que fez da necessidade de responsabilizar os políticos, civil e criminalmente, por aquilo que fazem. “Quem impõe tantos sacrifícios às pessoas e não cumpre, merece ou não merece ser responsabilizado civil e criminalmente pelos seus actos?”, perguntou então Passos Coelho. E, na mesma altura, afirmou: “Se nós temos um Orçamento e não o cumprimos, se dissemos que a despesa devia ser de 100 e ela foi de 300, aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa também têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos e pelas suas acções. … Não podemos permitir que todos aqueles que estão nas empresas privadas ou que estão no Estado fixem objectivos e não os cumpram. Sempre que se falham os objectivos, sempre que a execução do orçamento derrapa, sempre que arranjamos buracos financeiros onde devíamos estar a criar excedentes de poupança, aquilo que se passa é que há mais pessoas que vão para o desemprego e a economia afunda-se…”. 

Quando assim falou, Passos Coelho pensava na Lei 34/87 (crimes de responsabilidade dos titulares de cargos políticos), sucessivamente alterada em 2001, 2008 e 2010 (leis 108, 30 e 41, respectivamente). O que Passos disse de outros caiu-lhe agora em cima. Porque não cumpriu nada do que prometeu e porque falhou grosseiramente os objectivos orçamentais, Passos disse que Passos deve ser responsabilizado civil e criminalmente. Passos morreu pela boca de Passos. 

A obsessão de Gaspar e Passos para iludirem o óbvio, substituindo a racionalidade básica pela fé dos alienados, matou-os. O velório virá logo que Portas acabe de tirar as fotocópias. 
É óbvio que o problema de Portugal, sendo a dívida grande, não é a dívida. É a ameaça de não a poder pagar, com uma economia que não cresce e um desemprego imparável. 

É óbvio que chegámos aqui empurrados por gente trapaceira, protegida por uma justiça injusta. 

É óbvio que só a promoção do investimento produtivo, o aumento do que vendemos lá fora, a diminuição do que compramos cá dentro e a recondução do Estado ao seu papel de árbitro justo de interesses opostos nos poderá arrancar às garras de uma máfia de especuladores e agiotas, a que alguns chamam mercado. 

É óbvio que esta austeridade não muda o futuro

A nossa democracia (e a democracia da Europa, importa sublinhá-lo) resume-se a rituais eleitorais, cada vez menos concorridos, que sujeitam a vida pública a modernas formas de ditadura. Guardadas as urnas, os pilares da democracia (a informação e a participação) são amordaçados e domados pelos vencedores, que passam o ciclo a bramir a legitimidade que o voto lhes conferiu. Mesmo que a tenham perdido grosseiramente, por fazerem o contrário daquilo que prometeram quando o disputaram. Mesmo que a mentira sem pudor se lhes cole à cara sem vergonha. Passos Coelho é um belo exemplo do que afirmo. Dificilmente encontramos quem mais gravemente tenha ferido a confiança dos que acreditaram nele. 

* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt) 
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17/10/12

a estória de 'desencantar' de José T. Duarte

 
fotos e texto roubados daqui:

por José Teófilo Duarte, do

www.blogoperatorio.blogspot.com


PEDRO E O LOUCO: história de desencantar

Pedro tem um conhecimento específico da política. Não conhece a realidade das pessoas que fazem as suas terras, vivendo as suas vidas. Sempre esteve ligado ao aparelho de propaganda de uma organização estranha, dita social-democrata, mas que se inscreve à direita. Paradoxo? Claro, mas é o que é. Uma confusão que premeia muita habilidade. 
Pedro, depois do período da propaganda juvenil, passou a gerir empresas privadas de amigos seus, companheiros de partido, que engendravam negócios a partir de contactos que os envolvimentos políticos permitiam. Uma espécie de neoliberalismo institucional, chamemos-lhe assim, que as coisas lá fora, nas empresas a sério, que fazem pela vida, a coisa é muito mais difícil. São navios em águas demasiado agitadas. 
Foi neste conforto que Pedro cresceu. Já crescido, tentou ainda a carreira de cantor de variedades em espectáculos da nova revista à portuguesa. Mas, homem avisado e experiente, Lá Féria não se encantou com os seus préstimos. A política foi mesmo a escolha definitiva. Foi então que decidiu: já que estou nisto, o melhor é chegar ao pote. 
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Eleito líder do tal partido estranho que se diz social-democrata, juntou um raminho de criaturas e começou a preparar o assalto ao palacete de São Bento. Primeiro-ministro, pois então. Desencadeou, juntamente com os seus cúmplices fiéis - Miguel Relvas acompanhava-o sempre que não tinha aulas na universidade - uma ofensiva contra o Governo de então, recheado de homens e mulheres sem qualidade, que nada faziam pelo bem-estar das populações. Era preciso correr com aquela gente. 
Pedro pediu desculpa ao povo pelo estado em que se encontrava o país. Prometeu nunca reduzir reformas ou subtrair subsídios. Disse que havia um limite para as contenções impostas às pessoas. Comoveu-se em público com a pobreza dos idosos. Assegurou que o problema não vinha de uma crise exterior, mas era sim culpa exclusiva do tal Governo. Convenceu um eleitorado que sempre balança entre estas emoções e decide as vitórias eleitorais. Enfim, fez trinta por uma linha. Conseguiu finalmente chegar ao pote. 
Pedro chamou para lhe fazer a contabilidade um ignoto financeiro que, apesar de não se lhe conhecerem preocupações políticas ou sociais, foi apresentado como um génio da aritmética capaz de "endireitar" isto. Reuniu pouco mais de meia dúzia de pessoas, chamou-lhes ministros, e apresentou-os a Cavaco. Cavaco deu posse à trupe como Governo da Nação.

Gaspar começou a fazer a contabilidade. Quis tirar aos pobres para dar aos menos pobres e aos ricos. Mas até estes últimos desconfiaram da medida. Foi então que teve uma ideia genial: aumentar a totalidade das contribuições. Há gente desesperada? Paciência, não há outro caminho. Caminhamos para o desastre? E então, o que querem que se faça. Melhor é impossível. Vão ter de empobrecer custe o que custar. 
como a vida lhes deve ir mal!!, coitados.. (legenda minha)
Foi entretanto contratado um assessor bronco e mal disposto que nos chama ignorantes por não irmos nos seus futebóis. Os mal agradecidos não lhe acharam graça. Gaspar é um missionário. Nasceu para servir a Pátria. E agradece a formação que a Pátria lhe facultou desempenhando as funções que desempenha. Muito agradecido. A conversa da treta é ilimitada. 
Agora, Pedro está só. O louco e o bronco estão convencidos da magia das suas propostas, mas nem todos os seus amigos que se sentam na Assembleia da República estão convencidos da eficácia das prepotentes reduções. Um país não se governa apenas com reduções e prepotências. Um país tem pessoas lá dentro. Gente que quer viver para além da troika. 
Pedro e o louco ensombram a nossa vida e o nosso futuro. Esta história tornou-se um pesadelo. Mais cedo ou mais tarde vamos todos ter de acordar. Antes que seja tarde. 

José Teófilo Duarte,

20/04/12

sr. ministro, J'ACCUSE!!!

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Acuso-o de ser um mentiroso, falso, perjuro!
E venha desmentir-me se puder!

olhem-me só a lata deste pedante!!!!!

Vítor Gaspar durante a sua apresentação na sede do FMI
(Foto: Yuri Gripas/Reuters)

no Público de hoje -aqui
O ministro das Finanças afirmou que as medidas de austeridade não afectam  os grupos mais vulneráveis da populaçãoNo meu país, as pessoas estão completamente dispostas a sacrificar-se e a trabalhar mais para que o programa de ajustamento seja um sucesso desde que esse esforço seja repartido de forma justa” , disse. “Temos tido o cuidado de proteger os menos favorecidos e os mais vulneráveis  ao definir os cortes na Segurança Social e no sistema de saúde quando aumentámos os impostos. Esse é um elemento-chave do sucesso do programa.” 
  • as medidas (...) não afectam ???????!!!!!!!!! - quer dizer .. o IVA a 23%, os cortes em tudo o que é serviço público, o preço dos transportes, da comida, da electricidade e do gás... tudo pormenores despiciendos???!!! os grupos mais vulneráveis da população ??????!!!!!!!!!!! --- ou seja .. os pensionistas, por exemplo?????!!!!!!!!!!!!!!!
  • as pessoas estão completamente dispostas a sacrificar-se ??????!!!!!!!!!!! --- olhem que não, FMI e BM, olhem que não !!!!!!!!!!!!! O senhor é mesmo um cretino!! E saiba que o estado de nervos em que as suas declarações me estão a pôr já seriam motivo mais que suficiente para processá-lo, vivesse eu aí onde o senhor faz essas declarações!
  • esforço repartido de forma justa ???!!!! -- qual forma justa, senhor ministro ??????? !!!!!!!!!
  • proteger os menos favorecidos e os mais vulneráveis ?????? !!!!!!! -- ai sim???!!!!!!!!!!!!!!!! Quando??? Onde??? 
  •   o sucesso do programa ?????? !!!!!!! Qual sucesso???? Sucesso para quem????????? 
Mas que país é o seu que eu não conheço, senhor Vítor Gaspar ???
E que tal uma consulta à população antes de vomitar barbaridades destas, hein?
E .. sabe, só lhe  desejo uma coisa: que um dia venha a estar na mesmíssima situação dos  "mais vulneráveis" portugueses, que o senhor venha a ter a mesmíssima "protecção" de que eles são alvo - por sua parte e do seu governo!
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J'accuse (em português 'eu acuso') é o título do artigo redigido por Émile Zola quando do caso Dreyfus e publicado no jornal L'Aurore do 13 de janeiro de 1898
Émile Zola (1840 — 1902) foi presumivelmente assassinado por desconhecidos em 1902, quatro anos depois de ter publicado o famoso artigo J'accuse, em que acusa os responsáveis pelo processo fraudulento de que Alfred Dreyfus foi vítima. -- fonte
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