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06/02/13

uma escola ferida de morte-morrida

recebido via e-mail:

-- CARTA ABERTA

do Pessoal Docente e Não Docente da Óscar Lopes 

Morreu um de nós: um daqueles que zelava pela segurança de todos (alunos, funcionários e professores); o nosso elo mais forte, em pleno exercício das suas funções. 
de Munch, img esticada
Para evitar que um aluno maltratasse um colega fazendo perigar a sua vida, durante a aula, mesmo perante a pronta ação do professor e de um funcionário, foi pedida a intervenção dos vigilantes da escola para que aquele fosse conduzido à Direção Executiva, a fim de que esta acionasse os técnicos da Escola Segura. 
Desde o início do comportamento de extrema violência, materiais foram destruídos, funcionários e docentes ameaçados de morte verbalmente e agredidos fisicamente. O esforço dos vigilantes em controlar tais atitudes foi imenso, mas não conseguiram evitar a destruição descontrolada de mesas, quadros, armários, cadeiras e os atos de ataque físico. Já na Direção Executiva, e perante o continuado comportamento violento, o vigilante Correia, manietando o aluno, manteve-se como pilar determinante na segurança física de outros elementos da comunidade educativa, que tentavam também intervir. Mais de dez pessoas tentaram, sem sucesso, conter o aluno!

Assim, perante uma violência física e emocional tão demorada e brutal, o vigilante Correia colapsou. 

De imediato foi assistido por professores e funcionários que lhe fizeram as manobras de reanimação (respiração boca a boca e massagem cardíaca) até à chegada do INEM, que prestou toda a assistência possível que, no entanto, se mostrou ineficaz para salvar o Sr. Correia.

Estamos profundamente abalados e consternados com o falecimento do colega em pleno exercício das suas funções, num local, por excelência, educativo, onde uma morte nesta situação é inaceitável. Estamos de luto, estamos perante algo que não conseguimos aceitar e, por isso, não sentimos capacidade de gerir emocionalmente uma situação tão dramática; estamos na escola sem darmos aulas, incapazes de pedagogicamente abordar o assunto junto dos restantes alunos. Todos os que se encontravam na escola ficaram em choque.

Como pode isto ter acontecido numa escola? Que ambiente se vive? Que aprendizagens se fazem quando há quem possa frequentá-la enchendo-a de ameaças e de violência? O contexto escolar do Agrupamento está pormenorizadamente descrito no Projeto Educativo. Todos os profissionais que nele trabalham estão conscientes do universo em que se movem e procuram por todos os meios ajudar a orientar crianças e jovens de um meio problemático, com fragilidades várias, com comportamentos difíceis de gerir. Temos uma equipa técnica preparada e muito ativa, no âmbito dos recursos TEIP. Lidamos com os problemas que vão surgindo e conseguimos muitos resultados positivos.

No entanto, há sempre um pequeno número de alunos, bem identificados na escola, que ultrapassam todos os limites do aceitável numa comunidade escolar, pois põem em risco os seus membros, a nível físico e psicológico, de forma sistemática: não aceitam a autoridade de ninguém, pelo que não cumprem as regras da escola, nem as mais básicas de convivência; ameaçam; aterrorizam; agridem. 
Em relação a estes alunos já tudo foi feito, desde as estratégias aplicadas pelos professores e pelos diretores de turma para motivar o aluno para a aprendizagem e para a socialização, passando pelas medidas previstas no Estatuto do Aluno, completamente ineficazes para estes casos. Tiveram a intervenção do SPO, GAAF, ADEIMA, CPCJ, Tribunal de Menores. Aos diretores de turma são pedidos relatórios, pareceres, esclarecimentos de todos estes organismos.
Enquanto isto acontece e durante anos, a situação destes alunos na escola mantém-se inalterada, até os jovens saírem da escolaridade obrigatória ou terminarem o ciclo de estudos. Isto é, embora várias instituições estejam envolvidas, a escola tem de manter os alunos ou transferi-los para outras escolas, deslocando o problema, não resolvido, para os outros. Estes continuam assim a ameaçar e a agredir colegas, funcionários e professores, continuam a impedir os colegas das turmas em que estão inseridos de poderem ter um ensino de qualidade, minando as aulas. Têm e criam um sentimento de poder e impunidade, de ausência de limites, que é o oposto do que lhes deveria poder ser ensinado. A escola regular não pode dar a estes alunos a resposta de que eles precisam. A tutela não está a cumprir o seu papel, que inclui o de resolver a situação destes alunos e o de proteger o direito à educação e à integridade física e psicológica de todos os outros e de quem trabalha nas escolas.

Por estes motivos, dirigimo-nos à Tutela, exigindo que, com a maior urgência, se debruce sobre este problema e o resolva eficazmente, criando acompanhamento adequado às crianças e jovens com comportamentos disruptivos, que põem em riscos elementos da comunidade escolar em que se inserem. Este acompanhamento terá de implicar o afastamento destes jovens das escolas regulares e a sua integração em ambientes controlados, específicos e preparados para este tipo de perfil psicológico.

Morreu o Sr. Correia, dizemos. Já tinha problemas de saúde, dirão. Nos olhos uns dos outros lemos «Mataram o Sr. Correia». 

Matosinhos e EB 2, 3 Professor Óscar Lopes, 31 de janeiro de 2013 

Assinatura de docentes e não docentes

27/02/12

sociedade doente e responsabilidade parental

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e vai outro, nos States, hoje :
Five students shot at Ohio high school  - A gunman is captured after opening fire in the cafeteria as students were eating (...)
Police have not yet confirmed if the gunman was a student at the school, but junior Heather Ziska told the Associated Press she recognized the shooter as a fellow student.  (ler mais)
.. e ainda:
(...) The two girls and seven onlookers (as duas raparigas e 7 'espectadores') went to an alley off campus after school on Friday, where they had planned to fight, according to Deputy Chief Robert Luna of the Long Beach Police Department. (...)Police are waiting for autopsy results to determine Ramos' cause of death.  -- (ler mais)


Bom ...  estes, pelo menos, não puseram a 'fight' no FB .. Irrelevante. O tiroteio no bar da escola, a luta entre as duas crianças e a posterior morte de uma delas, os colegas que assistem (calculo que impávidos, deliciados) - 'flagrantes' inequívocos de uma sociedade globalmente podre. Doente há demasiado tempo. 
Os sinais estão todos aí para quem os queira identificar, nos States, na Europa, na Ásia. Os professores, nas escolas, constatam-no todos os dias: a ausência de valores ou a sua absoluta desconstrução, tudo des-entendido, arrumado ao contrário nos meandros insondáveis de um cérebro em 'malconstrução': «já pensei engravidá-la, a ver se a câmara nos dá uma casa», diz-me um miúdo de 15 anos - dolorosos, delinquentes.
Fazemos reuniões atrás de reuniões, infrutíferas. Falamos com os alunos, contactamos os pais, convocamo-los à escola. Inútil, tudo. Nem já a expressão do "entra por um ouvido, sai pelo outro". Do lado dos pais, a desassumpção da culpa transformada em acusações. Os professores, claro. Que.. e que.. e que .. Do lado dos alunos (uma grande parte deles) , uma barreira inexpugnável, assim como uma vacina anti-diálogo. Mentem descarada, compulsivamente, não ouvem e muito menos ligam ao que se lhes diz, nas aulas, nos 'gabinetes de apoio'. Delinquentes ou não. Uma 'protective skin' desenhada pelos media, pelo sistema.
Uma ausência de medidas políticas, sociais, eficazes; de estudos absolutamente urgentes e vêm tarde, sociologias à margem da educação; e as pseudo-psicologias que tudo resumem a um diagnóstico facilitista: bipolares agora, todos os que antes eram hiper-activos, antes ainda simplesmente mal-educados, 'corrécios' às vezes. 
A preocupação com o acessório. O 'show off'. A estratégia da avestruz. Escolas que não sabem [nem deveriam ter de] resolver problemas que ultrapassam o seu âmbito.
Uma sociedade desagregada, alheada, cada vez mais desresponsabilizada - ainda que se faça agora representar nas Assembleias Gerais de todas as nossas escolas, agrupamentos. 
Famílias desestruturadas,  e o epíteto serve para explicar, desculpabilizar tudo, justificar inércias, inépcias.
Famílias que não querem nem saber, que acham tudo natural, próprio da idade (alunos de 11.º ano que atiram papelinhos e bocados de borrachas uns aos outros, nas costas do professor..). Mães, pais que acham graça às diatribes dos seus filhos des-educados, irresponsáveis, sem futuro. 
Uma sociedade doente e o limbo em que vivemos. 
Cidadãos que são autómatos obedientes, seres impensantes, irracionais, executam nem sabem bem o quê, para quê. Autómatos que, agora, ainda por cima, têm como único horizonte a sobrevivência física, a comida a pôr na mesa. 
Políticos, gestores, directores, opinadores, a quase toda nacional inteligentia que não sabe nem se interessa por fazer, agir, eles próprios, às vezes, pais e mães de filhos delinquentes. Delinquentes?!! Não, os professores, a escola, é que .. e que .. e que ..
Eu .. reflicto sobre o futuro destes jovens, desta sociedade. Triste, impotente. Cheguei a pensar que não era possível, pior que Sócrates. Foi. Pior que Coelho, mais que possível, previsível.
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O que é que falta, que está errado, que se podia fazer?
Falta responsabilizar as famílias, para começar. As famílias supostamente 'estruturadas'. Mandasse eu, obrigava os pais dos alunos indisciplinados, mal-educados, a sentarem-se na sala de aula ao lado dos seus rebentos - até que houvesse garantias de transformação de comportamentos lesivos. 
De resto, esta é uma prática existente nalgumas escolas (suponho que particulares) dos EU - sei-o através de um projecto e-twinning com uma escola sueca em 'parceria' com outra americana. Como julgo saber - e agora falo de famílias 'desestruturadas' - que na Suécia, por exemplo, há tutores  designados pelo estado para 'gerirem' a vida de quem provou não saber fazê-lo por si próprio. 
Mandasse eu, e não deixava que os alunos pudessem transitar sistematicamente reprovados a 3 disciplinas! Bem pode o senhor Nuno Crato impor exames atrás de exames. Nada mudará enquanto não se 'mexer' no sistema de transição. O que me custa realmente compreender é por que o não fizeram ainda, por que nenhum ministro da educação sequer fala nisso, por que não o exigem as associações de pais (para bem dos filhos de todos, da qualidade da educação que recebem, da disciplina na sala de aula.)
Mandasse eu, faria pagar propinas aos alunos que reprovam por faltas, sobretudo disciplinares. Propinas mais altas a cada reincidência. E, óbvio, acabava com a escolaridade obrigatória-porque-sim. Escolaridade acessível a todos, sim, mas não a qualquer preço. Não para alunos que, ano após ano, impõem o terror a colegas, professores, funcionários. Que desrespeitam tudo e todos. Que fazem da escola o seu campo de batalha particular. Que, como último possível recurso, são expulsos de uma e levam o seu inferno para outra.
O que é que falta, que está errado, que se podia fazer?
Tenho a memória difusa de alguma eficácia por parte de assistentes sociais, aqui em Portugal. Deixei de os ver nas escolas - a eles, aos psicólogos. Médicos escolares que existiam quando era aluna, eu. Dinheiro que se poupa, sem dúvida. Falta pensar (e muito a sério!) no que se gasta a médio, longo prazo..
Já houve em Portugal as chamadas 'escolas de correcção', daí a palavra corrécio. Poderia optar-se por uma solução semelhante, agora, corrigindo os aspectos negativos do passado. É, deixemo-nos de eufemismos, assobios para o lado, discursos do politicamente correcto: há alunos que são delinquentes, ponto. Que destroem equipamento escolar, agridem e ameaçam professores, funcionários, outros alunos. Que levam uns e outros ao suicídio. Que não deviam estar numa escola "normal" - para bem de todos, a começar talvez por eles próprios .. Deixou de estar na ordem do dia falar do bullying nas escolas. Saiu da ribalta, que não das escolas. Sorte que a venda de armas, por cá, não seja tão generalizada como na América. Apenas uma coisa nos separa do horror da notícia acima: a menor acessibilidade.
O que é que falta, que está errado, que se podia fazer?
Havia, nos tempos do fascismo, escolas 'comerciais e industriais' e 'liceus' - uma separação à altura elitista, baseada quase sempre em factores económicos, mas cujo conceito poderia ser recuperado, agora com critérios de "des-apetência". Na Alemanha que presentemente tudo decide fazem-no no fim do equivalente ao 2.º ciclo. Aos 12 anos os alunos são compulsivamente distribuídos pelos vários tipos de escola de acordo com evidências de capacidades, aptidões específicas, apetência pelo estudo.
Nas fichas que preenchem para o director de turma, a imensa maioria dos alunos portugueses escreve que gosta de andar na escola, mas que não gosta de estudar. Apesar disso, mais de 90% escolhe, no 10.º ano, frequentar um curso de formação geral, de prosseguimento de estudos.. que os levarão, eventualmente, à universidade, quando, confessadamente, não gostam de estudar!!
Retomando-se a divisão das escolas por tipos e, sobretudo, dando-se maior crédito (e poder de decisão) ao Conselho de Turma do 9.º ano (professores que, regra geral, conhecem os alunos há 3 anos) - relativamente ao tipo de curso/escola mais adequado para cada caso,
  1. potencializava-se um ensino exigente e de qualidade àqueles que realmente querem aprender - e que, tenho-o constatado ao longo dos meus mais de 30 anos de serviço, não são predominantemente os filhos de 'famílias-bem'
  2. acabava-se com a indisciplina nas escolas - resultante, precisamente, da falta de apetência pelo estudo por parte da maioria dos alunos; do abjecto sistema de transição que os leva a pôr de parte 2 ou 3 disciplinas ab initium; de currículos indiferenciados e basicamente teóricos para todos: os que gostam de estudar e aprender e os que fazem da sala de aula uma extensão do recreio, às vezes uma arena de circo.
  3. garantia-se uma profissão com futuro a boa parte da população com insucesso escolar.  Com um currículo de 'teoria orientada' [e escusam de me vir com acusações de elitismo, a maior parte dos alunos das nossas escolas públicas não liga nada às disciplinas de formação geral (muito menos as estudam!), sejam elas o português, a língua estrangeira, matemática, filosofia...] e muitas disciplinas práticas voltaríamos a preparar bons electricistas carpinteiros canalizadores mecânicos costureiras sapateiros soldadores - agora tão escassos como incompetentes e desleixados, desconhecedores do seu ofício, pagos a peso de ouro, quase sempre isentos de impostos
  4. dava-se emprego a 'mestres' e artesãos, perpetuando um saber de experiência feito que, pelo andar da carruagem, morrerá quando morrerem eles. Que nos levou, já, a deitar fora tudo o que se avaria por inexistência de quem o conserte ou pelo custo exorbitante da reparação; que nos obrigará a importar cada vez mais aquilo que poderíamos ser nós a produzir, e com qualidade
É ..  O estigma das profissões ditas 'menores'. Os pais que querem os filhos 'doutores' à viva força, mas que não lhes lêem um livro, não os levam a um museu, um teatro, uma exposição.
Pais que não lhes incutem hábitos de trabalho, muito menos valores como a auto-responsabilização.
Que os querem bem longe de modo a garantirem os seus embrutecedores-programas-de-TV-sem-interrupções.
Pais que lhes oferecem iphones e ipods e toda a espécie de 'brinquedos' - não um livro! - para que os deixem a eles em paz, miúdos fechados no quarto, horas e horas de jogos de computador, facebook e sabem lá eles mais o quê.
Pais que autorizam os seus jovens filhos a sair à noite, 13, 14 anos de beber até cair, desacatos tolerados, noitadas permitidas, fins-de-semana de voltar para casa às 4, 7 da manhã, toma lá mais um brinquedinho, uns ténis da moda, filho, filha ..
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imagens: Hieronymus Bosch
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