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13/02/12

«E falam-me de revisão curricular?»


recebido via e-mail:

E falam-me de revisão curricular?
Um dia cinzento…professor... Para mim um dia triste, coberto de indignação, revolta, medo,  impotência e desolação.
M. Duchamp, descending a staircase
Ontem, em frente à Escola EB 2/3 Padre António Luís Moreira, nos Carvalhos – Vila Nova de Gaia, um Professor de Matemática, de 63 anos, foi violentamente agredido por três indivíduos de etnia cigana. Não. Não agrediu nenhum aluno. Não foi incorrecto com ninguém, nem tão pouco falou mais alto. O exemplo de civismo, educação, correcção e profissionalismo é a descrição deste nosso colega. Apenas mandou que uma aluna de etnia cigana se retirasse da sala onde entrou sem autorização e sem educação. Motivo este bastante para que a aluna comunicasse com os familiares que de forma selvagem se encarregaram do “ajuste de contas”.

Sou professora e tenho também alunos de etnia cigana. Terei provavelmente princípios de educação e civismo semelhantes aos da maior parte dos professores, como este colega. Corrijo todos os dias os comportamentos e atitudes que considero despropositados. Trato todos os alunos de igual forma, tendo como principio a igualdade de que todos falam com a “boca cheia”. Igualdade essa de direitos, mas também de deveres. Sim, porque não pensem que a igualdade só serve para ter direitos! O cumprimento das regras de civismo e respeito também fazem parte. E se um dos meus alunos achar que “cuspir em cima das secretárias” é um direito que ele tem? Isso vai contra o meu entendimento de respeito e educação e, como tal terei de informá-lo da necessidade de limpar a secretária que é de todos. Se a moda pega, terei com toda a certeza de pedir protecção policial para sair da escola.

Cada vez que tento visualizar a situação de agressão a que foi sujeito este professor, fico completamente de rastos, desmoralizada e sem motivação alguma para continuar a fazer aquilo que escolhi há muitos anos.

E falam-me em revisão curricular??
Podem fazê-las todas e todos os anos! Não é aí que se encontra o “cancro” da Escola/Educação. Podem aumentar as cargas horárias todas que quiserem! Os alunos não vão saber mais por isso. É o mesmo que tentar tratar o doente com a medicação errada.

A indisciplina grassa em grande escala e em percurso crescente na maior parte dos estabelecimentos de ensino do nosso país. É mais ou menos camuflada, numas ou noutras escolas, por interesses vários, desde directores a ministros. Mas está instaurada e cada vez com maior número de aderentes. A nós pouco nos resta fazer. Tentamos de todas as formas, nunca infringindo a lei ou ferindo os tão apregoados direitos do aluno, proteger os poucos que sabem para que serve a Escola, o Professor e a Educação. Mesmo correndo algum risco de, segundo os entendidos, traumatizar as crianças, ainda elevamos o tom de voz ou castigamos um ou outro aluno, na tentativa, quase inglória, de “salvar” mais um.

Sabendo que a missão primeira de educar compete aos pais e sabendo que poderemos ser verbalmente e fisicamente agredidos, arriscamos e transmitimos, sempre que achamos premente, os valores e princípios que os nossos alunos não trazem de casa, corrigimos atitudes, somos pai e mãe sempre que necessário. Recebemos mensagens escritas dos encarregados de educação revelando uma falta de respeito, educação e desconhecimento atroz, porque cansamos o seu educando com os trabalhos de casa. Somos ameaçados pelos pais e familiares dos alunos a quem dizemos que é necessário um caderno e uma caneta para escrever e que esse material é muito mais importante numa sala de aula do que um telemóvel…

E falam-me em revisão curricular??…

Não aguento mais medidas sem sentido e de nenhum efeito. Um médico não receita sem saber qual é o mal de um doente, ou não deveria fazê-lo.

Então como se quer tratar a Escola/Educação sem antes perceber, analisar, verificar onde está realmente o grande, imenso problema?

  • É urgente e inadiável impor a disciplina nas escolas portuguesas.
  • É urgente e inadiável que se percebam as diferenças de direitos e deveres entre um adulto e uma criança.
  • É urgente e inadiável que um professor possa ensinar quem quer realmente aprender.
  • É urgente e inadiável que o medo deixe de ser uma sombra permanente sobre as cabeças dos docentes do nosso país.
  • É urgente e inadiável que possamos intervir assertivamente e no imediato em situações que estão no limiar do humanamente suportável.
  • É urgente e inadiável que o respeito e educação que exijo aos meus filhos, possa exigir da mesma forma aos meus alunos.

E falam-me de revisão curricular??

É inadmissível que o professor seja obrigado a engolir os insultos de um aluno que tem mais ou menos a idade dos seus filhos quando em sua casa isso não é minimamente tolerável.

Não pensem que quero “a menina dos cinco olhinhos”. Não. Apenas penso que fomos exactamente para o outro extremo. Quase que me apetece dizer que se vive uma anarquia nas escolas. Gritar fere a sensibilidade das crianças, mas falar baixo não resulta pois estas não sabem estar caladas. Uma bofetada ou puxão de orelhas? Completamente desadequado. Isso só com os nossos filhos surte efeito. Aos nossos alunos traumatiza e marca para toda a vida. Talvez seja por isso, por tantos traumas destes, que a nossa geração cresceu, formou-se, trabalha e não espera que nenhum subsídio seja criado e nenhuma casa lhe seja oferecida.

Os meus vinte e cinco anos de serviço não me ensinaram a viver uma escola em que importa apenas que as crianças sejam muito felizes e acreditem que a vida é super fácil; que o trabalhar é apenas para os “totós”, pois a preguiça compensa e de uma forma ou de outra todos conseguirão fazer a escola; que independentemente de cumprirmos as regras teremos sempre direitos; que pudemos ofender de todas as formas possíveis e agredir sempre, pois o pior que poderá acontecer são uns dias de “férias” em casa; que de uma forma ou de outra, a culpa é sempre do professor.

O nosso colega está em casa, depois de uma tarde nas urgências do hospital, com cortes no rosto e muitos hematomas. Tenho o estômago embrulhado e um nó na garganta. Uma vida inteira dedicada a ensinar e a formar um futuro melhor para o nosso país é desta forma agraciada quase no fim da sua carreira. E quem está a ler e a sentir-se da mesma forma que eu perguntará: “ E a escola não age?” E eu digo-vos qual é a resposta: “Foi fora do recinto escolar.” Gostaram? Conseguem imaginar como será o estado de espírito deste professor de matemática? Já não falo das marcas físicas e das dores que deve ter, pois foram muitos pontapés e murros covardemente dados por três homens na casa dos vinte anos. Covardemente por serem três a agredirem um senhor de sessenta e três anos. Falo na dor psicológica, uma dor que não passa com analgésicos, que vai lá ficar muito tempo. Será a recordação mais viva que terá da sua longa carreira que está quase no final. Aqui fica a medalha de “cortiça” que recebe pela sua dedicação e entrega à escola e aos alunos. No final apenas fica o amargo de boca de quem tem consciência de que fez o melhor trabalho que pode, que entregou a melhor parte da sua vida e juventude aos seus alunos, que exerceu com toda a dignidade a sua profissão, respeitando sempre todos, engrandecendo o conhecimento de muitos.

Resta-me dizer que este dia cinzento tem toda a razão de ser e todos os professores se sentirão exactamente neste cinzento que porventura será a cor que melhor define os sentimentos de quem neste momento consegue imaginar-se no lugar deste professor.

Maria do Rosário Meireles Cunha
Professora na Escola EB 2/3 de Olival

27/10/11

a irrazoabilidade do impensável

nota: «Menos de 24 horas depois (da situação abaixo descrita) , Paulo Pedro, professor na Escola Secundária Braancamp Freire, na Pontinha, Odivelas, era agredido a murro e pontapé por um aluno que havia expulsado da sala de aula»- notícia aqui

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Pais agridem professora dentro de sala de aulas em Sesimbra

antes da notícia (bastante mal escrita, diga-se de passagem), começo por transcrever um comentário que se lhe seguia:
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Anónimo , Algures na Beira. 26.10.2011
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É de esperar!
Ainda há dias, um qualquer órgão de comunicação social referia que nas Astúrias um encarregado de educação tinha sido condenado a três anos de prisão por agredir um professor. Na mesma altura fazia a comparação com Portugal e referia a " bandalheira" que é a nossa justiça. Enquanto continuarmos assim, o que esperam? Pela minha parte, que sou um "serrano" professor há trinta e cinco anos, só espero que nunca me aconteça algo parecido, (...)

*
a notícia:
26.10.2011 - 15:32 Por Lusa - aqui

Situação arrasta-se há dois anos

Uma professora da Escola Básica n.º 3 da Quinta do Conde, em Sesimbra, foi agredida dentro da sala de aula pelos pais de dois alunos, confirmou hoje à agência Lusa fonte da GNR. “Foi apresentada queixa à Guarda e a situação está a seguir os trâmites”, disse a mesma fonte.

quadro de Malevitch
Em declarações à Lusa, o director do agrupamento escolar da Quinta do Conde, Eduardo Cruz, explicou que “os pais de dois alunos [um rapaz e uma rapariga] dirigiram-se ontem [terça-feira] à sala e agrediram fisicamente a professora com estalos na cara em frente a toda a turma”.

Segundo o responsável, esta é uma situação que se arrasta há dois anos e que já tem motivado reuniões com os pais em causa, com a Escola Segura (da PSP), com o coordenador da área educativa e com o gabinete de segurança do Ministério da Educação.
Contudo, esta é a primeira vez que estes pais agridem fisicamente um funcionário da escola.
“Qualquer brincadeira que envolva algum contacto físico com o filho motivava a ida do casal à escola para tirar dividendos da situação, mas das outras vezes insultavam as pessoas”, explicou Eduardo Cruz.
Hoje de manhã, o director do agrupamento escolar esteve reunido com pais que “bloquearam o acesso à escola”, pelo que não houve aulas, mas à tarde a situação já está normalizada. O responsável adiantou à Lusa que alguns pais exigem a expulsão dos irmãos, mas assegurou que esse é um cenário “impensável”.
“A escola é um direito que assiste às crianças e não é por aí que vamos”, afirmou.
Para já, Eduardo Cruz accionou os “meios disponíveis para garantir a segurança na escola”, através da Escola Segura e do gabinete de segurança do Ministério da Educação, e apresentou queixa junto do Tribunal de Sesimbra.

A GNR esteve hoje de manhã na escola para evitar desacatos, mas a situação esteve “pacífica e ordeira”.

*
Ora eu tenho algumas perguntas:
  1. Como foi possível aqueles pais chegarem à sala de aula? Que raio de segurança existe naquela escola? (pergunto, ainda que saiba a resposta; ainda que o mesmo já tenha acontecido na escola onde trabalho eu..)
  2. O que aconteceu à professora, depois desta sevícia de que foi vítima? Vai continuar a dar aulas a esta turma? Enfrentar as duas queridas-crianças-a-quem-tanto-direito-assiste? Aturar o rapazinho que, a "qualquer contacto físico" chama os papás (aparentemente muito desocupados..) para que vão à escola "tirar dividendos", "insultar pessoas"?
  3. Que atitude tomaram os outros professores? Que solidariedade 'efectiva' houve por parte dos colegas da mesma escola, das outras pertencentes ao agrupamento?
  4. Quem "serve" o senhor director com a sua postura de avestruz, os seus 'pachinhos quentes', a sua balofa protecçaozinha dos direitos todos/deveres nenhuns? «A escola é um direito que assiste às crianças»? E que direito assiste aos seus 'funcionários'?
  5. Que fez/fará a Associação de Pais (que este agrupamento de escolas certamente terá), para garantir que a situação não se repete, proteger os seus professores, o resto dos alunos? Que medidas irá tomar o órgão máximo-Conselho Geral para moralizar e dignificar a escola, limpar esta inaceitável mancha?
.....

Pois é, senhor director: se expulsar os dois alunos é um cenário “impensável”; se, depois desta gravíssima ocorrência, o senhor não tem uma ideia que seja para resolver o problema; se a única medida que lhe ocorre é accionar os mesmíssimos meios a que há dois anos vem recorrendo e cuja eficácia ficou agora amplamente demonstrada .. não acha que está na altura de se demitir?
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Quanto aos restantes professores, espero que, em solidariedade para com a colega agredida, se tenham, pelo menos, recusado a dar aulas enquanto o assunto não seja seriamente, definitivamente resolvido. Os pais dos outros alunos "bloquearam o acesso à escola". Os professores desse agrupamento têm obrigação de fazer outro tanto e mais, muito mais. Se assim não for, se se tiverem encolhido todos como carneiros a caminho do matadouro, então espero sinceramente que vos venha a "acontecer algo parecido" com o que a vossa colega sofreu. É que vocês merecem!
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