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15/05/14

Uma ideia de sociedade não solidária

retirado do fb,

por António Pinho Vargas

Hoje o Público inclui um artigo de Vanessa Rato sobre Cultura e o Estado (p.38-9)

Dentre os vários aspectos abordados - importantes - ressaltou-me uma intervenção no Parlamento de Catarina Martins (BE), de 3 minutos, sobre a qual se refere que "no breve tempo que demorariam as suas palavras Portugal teria gasto mais em juros da dívida pública do que aquilo que investe em criação artística em todo um ano".
Não deixa de ser impressionante. Algumas conclusões se podem tirar. 
  1. As instituições financeiras que regulam a dita ajuda não brincam em serviço. "Ajuda" e "ajustamento" no discurso; paguem os juros, se faz favor, na realidade. 
  2. O seu projecto de transferência de dinheiro dos pobres para os ricos - acolhido e celebrado por este governo e já levado a cabo - concretiza-se em muitas áreas: emprego/desemprego, pensões de reforma/cortes, impostos cada vez maiores, diminuição de apoios à actividade e à criação cultural até atingir os valores mais baixos de uma década. 
  3. Uma ideia de sociedade não solidária - incentivos discursivos às querela intergenacionais, novos contra velhos, pensionistas contra empregados, funcionários púbicos contra privados, etc - ciências de aplicação imediata - economia e gestão contra todas as chamadas Humanidades, História, Filosofia, Artes, etc, aspectos, aliás, em que grassa no próprio governo e em grande parte dos economistas e gestores, uma enorme ignorância. 
  4. Bem pode o governo vir agora com um discurso próximo do patético-eleitoral anunciar o "sucesso" e baixas putativas de impostos, ao mesmo tempo que se sabe, ou se pode prever que, como diz quem manda (a troika) que a austeridade é para continuar. Será preciso ser muito estúpido para acreditar neste discurso enganoso. Como bem disse a mesma Catarina Martins "a palavra do primeiro ministro não vale nada". 
  5. Da mesma CM a intervenção resume a importância da criação: "a criação é uma forma de conhecimento, uma forma de qualificação e uma forma de soberania, porque é uma forma de pensarmos sobre nós, de nos projectarmos e termos um lugar no mndo. Os cortes põem em causa a capacidade de o nosso país se pensar". 
  6. Não posso estar mais de acordo. Nem tudo deriva ou depende do apoio do Estado, nem todos os problemas estariam resolvidos com esse apoio - as suas formas podem e devem ser melhoradas e escrutinadas - mas a sua actual ridícula dimensão é o outro lado do espelho que favorece a infantilização da população - o titytainmnent - esse sim, o programa cultural do governo e em geral do capitalismo. Favorecer a autoridade, favorecer a passividade e a depressão perante as várias formas de poder do estado, das chefias das grandes empresas, das chefias dos bancos, de todas as formas de poder disseminado. A minha impotência face às dificuldades de colocar os CDs recentes simplesmente à venda (!) é apenas um mero grão de areia neste quadro geral muito mais vasto. 
  7. O voto nas próximas eleições apresenta, para mim, 4 possibilidades plausíveis de oposição de diversos graus e matizes: PS, PC, BE e Livre. Decidirei conforme decidir. 

Na Grécia há o Syrisa em disputa pelo primeiro lugar nas sondagens. Honra à lucidez e capacidade das esquerdas gregas. 

APV,
compositor; Professor na Escola Superior de Música de Lisboa

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