É, mas não pelas razões apontadas no parágrafo abaixo, não só, não necessariamente.
Sérgio Niza: «O professor dá uma lição, depois faz uma pergunta, escolhe um aluno para responder e avalia o trabalho substancial que é feito em casa. O principal problema da escola está neste modelo de não-comunicação em que o professor usa mais de três quartos do tempo da aula para falar sem que os alunos participem ou estejam envolvidos. Assim não há diálogo possível. Poderá algum jovem ou criança suportar isto?» -- ler mais
de Keith Haring, Characters |
Ora as coisas não se passam exactamente assim. Não sempre. Não em todas as disciplinas. A bem dizer e por orientação programatico-didáctica, não deveria passar-se assim em nenhuma disciplina.
É claro que a propalada diferenciação/individualização do ensino é uma treta, impossível de levar à prática em turmas demasiado grandes, sem professores nem horas de apoio disponíveis e/ou suficientes.
Apesar de tudo, é suposto o trabalho centrar-se no aluno, partindo de um qualquer material (um texto, por exemplo) que ele próprio explorará, com exercícios vários testando 'competências' várias. No caso de uma língua, por exemplo, testando a compreensão do que se lê ou ouve, a expressão escrita ou oral, os aspectos estruturais/funcionais.
Idealmente, os alunos trabalhariam sozinhos, em pares ou em grupo.
Idealmente, o professor circularia pelas mesas, sentar-se-ia com cada aluno, com cada par ou grupo que o solicitasse. Na prática, quase impossível. Um professor sentado, tentando prestar apoio individualizado, rapidamente tem a sala transformada num circo ou numa 'chatroom', o uso 'transgressor' do computador, sendo o caso, ou as conversas, as brincadeiras, as agressões, na proporção inversa da idade dos seus alunos.
É assim nas escolas por onde passei, o problema da indisciplina e do desinteresse generalizado agravando-se de ano para ano, estendendo-se a faixas etárias e níveis de ensino impensáveis desta passibilidade, anos atrás.
É claro que a propalada diferenciação/individualização do ensino é uma treta, impossível de levar à prática em turmas demasiado grandes, sem professores nem horas de apoio disponíveis e/ou suficientes.
Apesar de tudo, é suposto o trabalho centrar-se no aluno, partindo de um qualquer material (um texto, por exemplo) que ele próprio explorará, com exercícios vários testando 'competências' várias. No caso de uma língua, por exemplo, testando a compreensão do que se lê ou ouve, a expressão escrita ou oral, os aspectos estruturais/funcionais.
Idealmente, os alunos trabalhariam sozinhos, em pares ou em grupo.
Idealmente, o professor circularia pelas mesas, sentar-se-ia com cada aluno, com cada par ou grupo que o solicitasse. Na prática, quase impossível. Um professor sentado, tentando prestar apoio individualizado, rapidamente tem a sala transformada num circo ou numa 'chatroom', o uso 'transgressor' do computador, sendo o caso, ou as conversas, as brincadeiras, as agressões, na proporção inversa da idade dos seus alunos.
É assim nas escolas por onde passei, o problema da indisciplina e do desinteresse generalizado agravando-se de ano para ano, estendendo-se a faixas etárias e níveis de ensino impensáveis desta passibilidade, anos atrás.
Para pelo menos 99% dos alunos, as aulas são, à partida, uma maçada. São-no ainda antes de entrarem para a sala, o recreio, as conversas com os amigos que interrompem a contra-gosto. As aulas são uma maçada, como é uma maçada (talvez ainda maior) ler um livro.
Factores como o desvinculamento dos pais, a mediocridade dos meios de comunicação e uma cultura do facilitismo e do imediatismo veiculada e incensada pelas novíssimas tecnologias, entre outros, levaram a que, por exemplo na disciplina de inglês, a obra de leitura extensiva tenha, na última década e meia, passado de um romance de 200 ou 300 páginas para um conto de 10 que, ainda assim, a maior parte dos alunos não lê em casa. Que é dado na aula, trabalhado, supostamente anotado para eventual posterior consulta em teste que lhe avalie a compreensão. Pois nem assim. A maior parte dos alunos recusa fazer uma leitura dramatizada. A maioríssima parte não ouve as perguntas que o professor faz. Muitos (demasiados) não copiam nada do quadro, não tomam notas, não têm dúvidas nem põem questões. Grande parte dos alunos, pura e simplesmente, não quer saber.
Os alunos portugueses são tradicionalmente 'copiões'. Com o passar dos anos, desenvolveram técnicas de copianço (apoiadas sobretudo nas novas tecnologias e facilitadas pela tipologia de exercícios visando a avaliação de competências) tão eficazes como indetectáveis e que desafiam qualquer esforço de vigilância ou o recurso a diferentes versões do mesmo teste - ingénuo numa sala sobrelotada, implementado com relativo sucesso nos exames nacionais, com menos de metade dos alunos e o dobro dos professores.
O copianço é o 'desenrascanço' das nossas escolas. Alunos há que o praticam com afinco e êxito durante toda a sua escolaridade. Falham nas provas orais levadas a cabo no dia-a-dia, em testes periódicos ou nos exames finais, mas a avaliação das restantes competências dá-lhes muitas vezes a nota necessária para transitarem de ano. Empenhar-se nas aulas, estudar ... para quê? , se as artimanhas compensam, em prazer, facilidade e eficácia? Se, antes do teste ou do exame, entregam um telemóvel ou um iPhone e guardam outro no bolso ou nas cuecas?
Para mudar a ESCOLA, há que mudar a SOCIEDADE, não há volta a dar-lhe. Enquanto os pais permitirem que os seus filhos passem horas infinitas jogando num computador ou sistematicamente 'ligados' à TV ou a uma qualquer maquineta (inclusive à hora das refeições) , enquanto não os incentivarem a ler desde muito cedo, enquanto não lhes orientarem o uso dos tempos livres, nunca as aulas vão deixar de ser uma maçada.
Referi há tempos o relato de uma aluna que foi viver para a Suíça, de tempos a tempos vindo visitar a sua antiga turma. O que os ex-colegas se riram quando contou que os alunos suíços se levantavam mais cedo para ouvirem as notícias e que ocupavam os intervalos a ler ou a estudar; o que eles desacreditaram quando contou que não havia algazarra nas aulas, que se respeitavam os professores; que os 'chumbos' praticamente não existiam, tal era a vergonha da perspectiva, o controle dos pais para que os filhos 'cumprissem'.
É ... mundos estranhos onde se está com um objectivo. Onde o estudar, o aprender, são em si motivo de interesse, a motivação intrínseca. Mundos onde, talvez, a escola não seja uma maçada - não pelos malabarismos dos professores nas aulas, mas pelo diferente entendimento da sua existência, por parte dos alunos e respectivos encarregados de educação.
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