Sexta feira, 26 de abril de 2013
por Daniel Oliveira
Quando, há 39 anos, um conjunto de oficiais
de baixa patente, apenas munido dos mais rudimentares conceitos
ideológicos e sem qualquer experiência política, derrubou um regime que
já mal se aguentava de pé, prometeu, num programa genérico, três coisas:
descolonizar, democratizar e desenvolver Portugal.
Pior ou melhor, a descolonização tardia foi feita. A democracia, depois de um período conturbado mas pacífico quando comparado com outras revoluções, foi aceite por todos. E o desenvolvimento, a mais difícil das três tarefa, superou as melhores expectativas.
Em menos de meio século, Portugal deu um salto
assombroso. Um país atrasado, isolado, miserável e semianalfabeto chegou
rapidamente ao restrito clube do primeiro mundo. Pobre entre os ricos, é
verdade. Mas em tudo um contraste com o seu passado.
- O saneamento básico e a eletricidade chegaram a todo o território.
- Foram construídas infraestruturas.
- A segurança social foi generalizada.
- Acabou-se com trabalho infantil.
- As barracas foram praticamente erradicadas.
- A pobreza e a desigualdade, que subsistem, não são comparáveis à miséria em que vivia grande parte da população.
- Passámos de um País de emigrantes para um País de imigrantes.
- Nasceu um Serviço Nacional de Saúde gratuito e universal.
- Os nossos indicadores de mortalidade infantil passaram dos piores para os melhores da Europa.
- O analfabetismo é hoje marginal e a nova Escola Pública formou a geração mais bem preparada, culta e instruída que Portugal conheceu em toda a sua história.
Os três d's não eram três partes de um programa. Eram todos a mesma coisa. Não seria possível desenvolver Portugal e ter um Estado Democrático se teimássemos na guerra colonial. Num país tão atrasado e desigual, o desenvolvimento só foi possível porque os portugueses o exigiram no uso da sua liberdade. E a construção da democracia, numa nação que nunca a conhecera realmente, só prevaleceu porque trouxe bem estar. E o Estado Social foi o mais poderoso motor desta democratização tardia.
Quem acredita que a democracia vingaria no meio
da miséria julga que ela se impõe pela sua indiscutível bondade. Que a
história é justa e os povos sábios. Não, ela só resiste se conseguir garantir as condições materiais para o seu exercício.
Nenhuma democracia sobrevive à destruição da classe média e ao empobrecimento geral da população. Nem à completa instabilidade social, imprevisibilidade pessoal e insegurança laboral. Nenhuma democracia sobrevive sem a confiança dos cidadãos no Estado e essa confiança depende, pelo menos em Portugal, do Serviço Nacional de Saúde, da Segurança Social e da Escola Pública. Nenhuma democracia sobrevive a um discurso castigador do poder, à ausência de esperança, a uma intervenção externa sem fim à vista e ao discurso da inevitabilidade, que torna as eleições numa mera formalidade sem conteúdo.
Quando se diz que os valores do 25 de Abril estão em perigo constata-se uma evidência: se o nosso caminho é empobrecer, temos de nos preparar para viver sem liberdade.
Porque uma nação é como uma cidade: se à nossa volta só houver a
miséria e o caos, até os mais ricos estão condenados a viver cercados
por muros.
Sobre o esclarecedor discurso de Cavaco Silva no Parlamento escreverei na edução de amanhã do Expresso.
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