Sexta feira, 5 de abril de 2013
por Daniel Oliveira
Alguém avise o governo que já morreu
O dia da demissão de Miguel Relvas foi decidido pelo governo. Se Nuno Crato manteve na gaveta o relatório que incriminava Relvas, durante semanas, a decisão de o desengavetar por estes dias só pode ter sido política. Na despedida, Relvas fez questão de recordar a Passos Coelho que este lhe deve a liderança do partido. Como se dizia noutra agremiação, "tu sabes que eu sei que tu sabes que eu sei". E Relvas sabe muito e é capaz de não estar satifeito por ter sido afastado no momento mais humilhante para ele.
O governo poderá ter tomado esta decisão, neste tempo, por considerar que seria melhor matar este assunto antes do anúncio do acórdão do Tribunal Constitucional, das consequentes medidas de austeridade e da remodelação do governo. Assim, o tema Relvas morreria num dia em vez de se acumular ao descontentamento e de dar a ideia de um governo em desintegração. Ou, pelo contrário, para ofuscar o que hoje vai ser anunciado.
Com o buraco que, ao que tudo indica, terá, a partir de hoje, de resolver, virão mais medidas de austeridade. Um governo em frangalhos dificilmente as conseguirá impor. E engana-se Passos Coelho ao pensar que Relvas, decisão do TC e remodelação, por acontecerem em dias diferentes, não formarão a tempestade perfeita que lhe retirará toda a autoridade para apresentar uma única medida que agrave a austeridade. Ainda mais, quando esperou pela 25ª hora para se livrar de Miguel Relvas.
Não sei até onde vai o descaramento de Passos Coelho. Não sei até onde resiste quando, evidentemente, as condições para continuar a governar se esgotaram. Pela forma como ficou, durante um ano, com um cadáver político num dos ministérios mais importantes, julgará que tudo pode continuar como antes. Mas, continuando em São Bento, criará um problema à democracia portuguesa. O seu tempo acabou. Se não se demitir esta semana, Passos Coelho viverá os piores meses da sua vida política. E arrastará o País na sua agonia.
Claro que se Passos Coelho não retirar as devidas conclusões da situação em se meteu, a queda de um governo que já não pode governar depende de duas pessoas: Paulo Portas e Cavaco Silva. Um está agarrado ao pote, o outro entretem-se falar de como ficou de barriga cheia de produtos nacionais no meio de uma monumental crise. "Hoje, não falo de política", disse o senhor que vive em Belém e que se transformou na jarra do regime. Se depender destes dois, a democracia bem pode ir apodrecendo. Eles tratam de si.
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