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10/01/12

a crise longe - impressões de Neuchâtel


Pelo natal estive na Suíça, fui ver o meu filho. A cidade chama-se Neuchâtel, é pequena, acolhedora, tem casas antigas bonitas, bem conservadas, telhados que me encantaram, uma harmonia na arquitectura, as coisas pensadas. Há um enorme lago, barcos parados, veleiros e o que aqui seriam cacilheiros, gaivotas, corvos, patos, montanhas nevadas em frente, lindo. Faz frio, chuva de neve, vento, às vezes um insuficiente sol e gente sentada cá fora onde ele aquece, as poucas esplanadas abertas em dias feriados, o domingo que transportam para a segunda. É assim, por lá. Dão-se coisas às pessoas, pequenos ou grandes carinhos, um dia de folga reposto que seja.
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Talvez por isso a cidade é tão calma, tão silenciosa. Em quatro dias que lá estive não ouvi uma ambulância, uma sirene da polícia, bombeiros. Há dois hospitais, número de habitantes não sei, calculo-os poucos. Na cidade as pessoas passeiam-se sem pressas, novos e velhos alguns de bengala, canadianas, caminham. Há pais empurrando carrinhos, crianças que não choram, não fazem birras. E cães.  Que não ladram, não andam à solta. Que têm uma espécie de aulas de civismo, contaram-me. Que por isso podem entrar em todo o lado, museus, restaurantes.
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É véspera de Natal e não se vê o corropio nas lojas, o frenesim nas ruas, as caras fechadas de cá, o trânsito louco. Só à noite a cidade embarulhece, grupos de jovens cá fora fumando e bebendo, os bares cheios, as bebidas que se servem até à uma da manhã. À noite vêem-se carros desgovernados, alcoolizados, jovens todos eles, nativos, imigrantes de todas as nacionalidades, muitos portugueses. Ainda assim, nem brigadas de trânsito, controle anti-álcool, buzinadelas. Só uma velocidade inusitada, garrafas partidas pelo chão, transgressões varridas bem cedo na manhã seguinte, a ordem, a placidez reencontradas.
O silêncio.
As pessoas que não falam aos gritos, os telemóveis discretos, escassos.
Os cafés, os restaurantes cheios, mesa só com reserva. Os preços, a quantidade de comida, excessivos.
A crise que não há, as pessoas calmas, bem dispostas, simpáticas. Cumprimentam-se quando entram nos comboios.
Pena o frio, o sol só às vezes.

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