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01/11/15

Pacheco Pereira em entrevista

entrevista de  
Nuno Ramos de Almeida
a Pacheco Pereira

no i online,


31/10/2015

- excerto:
(...)
P.P.: «Sou a favor da reestruturação da dívida, mas sou também favorável a que se tenha em conta que temos uma elevada dívida. Sempre achei que o dilema austeridade versus não austeridade é um falso dilema. Depende de como se faz a austeridade. Sou contra ela ser utilizada para fazer engenharia social: que sejam sempre os mais pobres e a classe média a pagar, e se destrua o equilíbrio nas relações laborais entre patrões e trabalhadores. O que se viu nestes últimos anos foi a destruição das classes médias. A classe média, um importante factor de modernização depois do 25 de Abril, foi destruída por uma política radical. E vivemos uma situação política extremada porque a classe média foi radicalizada: uma parte para a direita outra para esquerda. Porque é que há uma passagem de votos do PSD para o BE? E só não há para o PS porque ele se dirigiu para o lado errado: o PS fez uma campanha eleitoral para um centro que não existia. O PS dirigiu-se a um eleitorado que acha sempre que o PAF é o melhor para defender os seus interesses.» 
Está a falar do chamado programa Centeno? 
«O documento Centeno foi uma armadilha em que o PS se meteu. E quando quis corrigir pareceu muito mais radical do que era. O PS devia dirigir-se às pessoas que perderam a sua dignidade e as suas condições de vida. Devia dirigir-se às pessoas que nos últimos anos foram tratadas abaixo de cão. Dou sempre um exemplo, que não é muito popular, que é o caso dos trabalhadores reformados do metro. O que se lhes fez não é um mero problema de austeridade, o que se fez foi empurrar centenas de trabalhadores do metro para uma reforma antecipada porque isso interessava à empresa, e um ano depois retiraram aquilo que tinha sido livremente pactuado com esses trabalhadores. Isto para mim é um bom exemplo do que aconteceu nestes quatro anos: a perda da noção da boa-fé nos contratos de Estado. A perda de noção de que os contratos são para cumprir. O que aconteceu foi que os contratos com os mais fortes foram cumpridos e com os mais fracos foram violados à cabeça. O que aconteceu nos últimos quatro anos não foi apenas uma política económica, foi a aplicação, a partir de de 2012, de um projecto de engenharia social que faz com que no PAF e à volta da coligação haja uma fusão com interesses económicos como nunca houve na democracia portuguesa. Os mesmos empresários que andavam em cortejo com Sócrates, com Durão Barroso e com Cavaco têm hoje muito mais que um cortejo: têm uma fusão de interesses com Passos Coelho, Portas e Pires Lima, que lhes deram aquilo que eles nunca tinham conseguido.»
O Pacheco Pereira é militante do partido que faz essa fusão. 
«A pergunta que quer fazer é porque ainda estou no PSD, com quotas pagas e plenos direitos? Repondo-lhe: ainda tenho uma vaga, insisto na palavra “vaga”, esperança de que mude.» 
Não é apenas para os chatear? 
«Não. Contrariamente ao que se pensa, paga-se muito por ter uma posição como a minha, mesmo as companhias são conjunturais. Tenho um certo tipo de popularidade à esquerda, mas tenho a plena consciência de que isso é efémero, que se deve a eu dizer algumas coisas com alguma liberdade. Porque é que ainda estou no PSD? Porque acho que esse partido é importante na sociedade portuguesa, sou defensor de haver partidos com uma componente de centro, só que em 2015 não há centro. Não há neste momento um centro, a coligação é de direita. E não há esse centro e as vozes que podiam personificar esse centro, uma certa ala social-democrata no PSD, está dependurada no vazio, como Ferreira Leite, Bagão Félix e eu, aquilo a que chamo os “estranhos companheiros de cama”, usando a metáfora shakespeariana. Estas coisas têm de se equilibrar a prazo: temos de ter um centro político, mais soberanista e menos falsamente “europeísta”, que corresponda aos objectivos pelos quais o PSD foi criado.» 
Mas esses companheiros de cama divergem na avaliação de um possível governo de esquerda.
«As pessoas têm percursos de vida diferentes. É natural que reajam de forma diferente, mas os últimos comentários já são mais moderados.»
Nestas eleições sublinhou a importância da ligação do PCP a uma certa realidade social e de certa forma analisou o BE como um fenómeno mais virtual. Mas quem nestas eleições subiu para o dobro foi este último. Como analisa? 
«O Bloco de Esquerda subiu porque beneficiou da radicalização da classe média. É mais natural que essa radicalização torne mais fácil votar no BE que nos comunistas. O PCP é um partido de identidade forte, e com uma relação muito próxima com determinados sectores da sociedade. Mas ao mesmo tempo com fronteiras muito limitadas: as fronteiras do PCP são desenhadas a ferro e fogo, pela história, pela ideologia, pela linguagem. Eu, por exemplo, acho que o PCP se diminui a si próprio por usar uma linguagem muito estandardizada, como quando chamam “pacto de agressão” ao Memorando da troika. Esta linguagem pode ser importante para manter uma certa identidade em alguns sectores da sociedade portuguesa, mas não é boa para crescer. E num período de dissolução dos costumes, como é o que estamos a viver, é mais natural o voto no BE, é uma coisa mais moderna – com as “meninas”, como disse o Fernando Rosas, que parece que provocou alguma fúria nas feministas do Bloco –, dá uma dimensão mais aceitável. E tem um efeito poderoso na comunicação social do PCP. Os comunistas podem pôr 100 mil pessoas ou 200 mil pessoas na rua que só têm direito a uma pequena notícia de circunstância, porque ninguém quer saber dessas 200 mil pessoas: essa é a força do PCP e a sua fraqueza. A sua força é que quem está ali está para lavar e durar; a sua fragilidade é essa fronteira que o PCP não consegue ultrapassar e que é em grande parte criada pela comunicação social.»
(...)

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