- as imagens das colunas laterais têm quase todas links ..
- nas páginas 'autónomas' (abaixo) vou recolhendo posts recuperados do 'vento 1', acrescentando algo novo ..

20/01/16

Nuno Teotónio Pereira, R.I.P.

Prisão, tortura, fé, amor e arte: 

a vida preenchida de Nuno Teotónio Pereira


do DN-Artes: Nuno Teotónio Pereira fotografado em 1989

José Pedro Castanheira, Cândida Santos Silva (texto)

20.01.2016 no Expresso, http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-01-20-Prisao-tortura-fe-amor-e-arte-a-vida-preenchida-de-Nuno-Teotonio-Pereira 

Era um nome incontornável na resistência católica à ditadura e um dos arquitetos mais distinguidos do país. Nuno Teotónio Pereira só deixou de trabalhar no ateliê em 2008, quando um glaucoma lhe fechou os dois olhos em menos de uma semana. Oriundo de uma família monárquica e salazarista, evoluiu para o catolicismo progressista e, mais tarde, para o socialismo radical, antes de aderir ao PS do amigo Ferro Rodrigues. Depois de cegar, deu uma longa entrevista ao Expresso, saída em fevereiro de 2015 e que agora se republica. Nuno Teotónio Pereira morreu esta quarta-feira - faria 94 anos a 30 de janeiro

- A sua primeira experiência política foi aos 14 anos, na guerra civil de Espanha, no apoio a Franco... 

- É verdade. Integrei um comboio de camiões que levou géneros (farinha, arroz, etc.) para os nacionalistas do exército de Franco. Fomos até Sevilha, onde ficámos alojados em casa de aristocratas. 

- Foi a primeira vez que saiu de Portugal? 

- Sim. Voltei a Espanha ainda durante a guerra civil, quando o meu tio Pedro, que gostava muito de mim, foi nomeado por Salazar agente especial junto do Governo do Franco, em Burgos. Ele tinha um filho, o Pedrinho (mais novo que eu), e como achava que eu era uma boa companhia convidou-me várias vezes para ir ter com ele a Espanha. O corpo diplomático costumava passar as férias em San Sebastián, e em 1938 fomos os dois no Sud Express até lá. O meu tio recebeu um telefonema da frente da Catalunha, na altura da batalha do Ebro - a última grande contraofensiva do exército republicano -, a dizer que tinham morrido dois oficiais portugueses que se haviam oferecido como voluntários para integrar os Viriatos. Fomos de carro até Saragoça e depois ele seguiu para Portugal, para as cerimónias fúnebres. Voltei em 1940, na altura da ofensiva do Hitler sobre a França. Em Bordéus estava o cônsul Aristides de Sousa Mendes e havia muitos refugiados a passar a fronteira. O exército alemão já tinha chegado aos Pirenéus, e tenho fotografias de soldados fardados a passear ao domingo em San Sebastián como turistas.

Sem comentários: