04.06.2015
por Rafael Barbosa
Manter Portugal no “caminho certo”
Não é pouco o que o PSD e o CDS têm para oferecer aos portugueses, no caso de estes escolherem a coligação de Direita para mais quatro anos de Governo. Sobretudo porque o elogio ao “caminho certo” inclui o caminho percorrido. E o “caminho certo”, é bom recordar, não resultou apenas das imposições do programa de resgate e da troika. O tom agora adoptado de suave propaganda eleitoral não chega para fazer esquecer a violência do caminho, fosse ele certo (para as elites do PSD e do CDS), ou errado (para os portugueses que tiveram de pagar o preço), e ainda menos que ele foi traçado com gosto e arrogância.O “caminho certo”, é bom recordar, implicou que centenas de milhares de portugueses mergulhassem no desemprego, dentro ou fora das estatísticas oficiais, sendo certo que muitos deles não voltarão a trabalhar e que os restantes não conseguirão mais do que empregos mal pagos e precários.O “caminho certo”, é bom recordar, implicou e implicará cortar pensões de forma brutal, atingindo milhares de pessoas velhas, cansadas, incapazes de encontrar alternativa. E se o preço a pagar pelos reformados não foi ainda maior, isso ficou apenas a dever-se à intransigência do Tribunal Constitucional, que travou outros e maiores desmandos.O “caminho certo”, é bom recordar, foi o de incentivar novos e velhos a “sair da sua zona de conforto” e a emigrarem, o que se concretizou de facto, mais uma vez afectando centenas de milhares de pessoas, as que partiram e as que ficaram.O “caminho certo”, é bom lembrar, foi o de provocar uma hecatombe social, com o aumento dos índices de pobreza para níveis nunca vistos, sobretudo entre as crianças e os jovens, com efeitos implacáveis a curto e longo prazo.O “caminho certo” foi castigar os que conseguiram manter os seus empregos, com um aumento de impostos nunca visto, fosse através do IVA, fosse através do IRS, com mudanças definitivas e gravosas nos escalões de IRS, ou através da criação da sobretaxa, que mais não significou do que o confisco de parte dos salários. E se o preço a pagar por quem trabalha não foi ainda maior, isso ficou apenas a dever-se à fúria com que foi recebida a proposta de aumentar a taxa social única, que levou às ruas pelo menos um milhão de pessoas.O “caminho certo”, é bom lembrar, foi o de acentuar de forma abrupta e brutal a recusa dos jovens portugueses em ter filhos e que conduziu as portuguesas para a mais baixa taxa de fecundidade da Europa e para as consequências letais que daí advirão para a sobrevivência de um pobre país.fonte: blogue Cadernos de Opinião
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