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21/10/14

professoras agredidas, país impávido


H. Bosch, the last judgment
A notícia (extrato abaixo) é do Público de hoje.  
Nem mês e meio de aulas, e já foram agredidas, só neste ano lectivo, duas professoras, uma em Abrantes (ver aqui), outra no Porto (aqui)
.
«Pelas 13h a escola pedira ajuda à PSP. Uma docente de 43 anos tinha sido agredida durante a manhã. 
Tirara o telemóvel a uma aluna de 12 anos que o usava à socapa na aula de educação visual. No final, a aluna do 6.º ano exigiu o telemóvel de volta. A explicação da professora de que a regra era entregá-lo à direcção da escola não a satisfez. Tirou o telemóvel a um colega e ligou aos pais. Disse-lhes que tinha sido agredida pela professora. Foi o suficiente para os pais, feirantes, lá rumarem. 
Enquanto o pai falava com o director, a mãe descobriu a professora numa das salas de aula e “deu-lhe quatro bofetadas depois de lhe puxar os cabelos”, descreveu fonte da PSP do Porto. 
Mas no exterior a multidão indignava-se com a ausência de novidades sobre o ébola. “Eu acho que há aqui um engano qualquer”, disparava um polícia enquanto tentava controlar os pais que forçavam a entrada na escola. O esforço por explicar que o problema não era o ébola de pouco lhe serviu.»  - fonte

- Edificante! Inaceitável.
A agressão a professoras (sempre mulheres..) há muito que NÃO É motivo de indignação, a bem dizer, para ninguém. Não, pelo menos, uma que leve à acção:

- os pais ou avós acorrem à escola em polvorosa, mas por um boato espalhado ou qualquer outra ocorrência que lhes desperte indignação - não uma deste tipo!;
- os colegas protestarão na sala dos professores e envidarão esforços para que não lhes venha a calhar igual sorte;
-  o ministério da Educação ignora paulatinamente o assunto;
- a comunicação social dá-lhe um relevo q.b., enquanto, no destaque da notícia, subverte tempos e razões ;
- e os sindicatos ?! ... os sindicatos, nada!, ficam-se por uns tíbios comentários, se entrevistados a propósito. 
E que punição vai ter esta mãe pelo crime cometido, pergunto-me? Que castigo exemplar e amplamente noticiado, que previna futuras veleidades por parte de encarregados de educação biliosos e violentos?
Que sanções para o director(a) da escola, que não criou mecanismos que impedissem que a agressora "descobrisse a professora numa das salas"?
Que vai acontecer à menina, que desrespeitou, mentiu, incitou à violência?
A relação professor-aluno, na escola, dentro da sala de aula, é obviamente um reflexo da imagem social do professor, condicionada por factores vários, nomeadamente o ético. Antes do 25 de Abril de 1974 o professor era uma figura respeitada na sociedade (e não me parece que haja dúvidas sobre isso) - pelo carácter elitista de um ensino para muito poucos, mas também pela reverência - na altura inquestionável - devida aos mais velhos, aos pais, a figuras socialmente consideradas relevantes: o professor, o médico, o juiz, o padre.
Com a Revolução, alterou-se drasticamente a relação de forças entre professor e aluno, circunstância a que não terão sido alheios abusos de autoridade generalizados que se consubstanciavam, sobretudo na então chamada "escola primária", em agessões aos alunos, diga-se, muitas vezes sancionadas (exigidas!) pelos respectivos pais.
O ensino generalizou-se, tornou-se obrigatório, passou-se do oito (em que o professor tudo podia) ao oitenta, em que, aos alunos (e respectivos papás e mamãs..), tudo ou quase tudo passou a ser permitido, sem que a sociedade (direcções das escolas e tutela incluídas) se preocupasse com o rumo desgovernado que a situação ia tomando. 
E .. chegou Maria de Lurdes Rodrigues.
Quem, ao tempo, não estivesse na profissão (ou a ela ligado por relações familiares próximas) dificilmente compreenderá a medida real do poder destrutivo da sua acção governativa (e dos seus efeitos a longo prazo), relativamente à Escola Pública no geral e à classe docente do ensino não-superior, em particular. Dificilmente terá a noção de como ela levou tantos à ruptura e de como o seu mandato minou as relações interpessoais dentro das escolas, sem apelo e sem retorno.

A ministra que se gabava de "ter conquistado o país, perdendo os professores" sempre fez gala em os achincalhar, publicamente, sadicamente, sistematicamente. Ela, os seus secretários de Estado e os seus directores gerais. Hostilizaram-nos, deterioraram-lhes as condições de trabalho, transformaram-lhes a vida num inferno.
Foi Maria de Lurdes Rodrigues que escancarou a porta às agressões, verbais ou físicas, de basicamente toda a gente. Com ela - e depois dela - todos se sentiram no direito de questionar a formação, a competência, o trabalho, a dedicação, o carácter, da inteira classe docente deste país. Todos se sentiram legitimados para insultarem e atacarem os professores, dentro e fora da escola.
É ela (e os que, depois dela, se aninharam na cama que ela tão bem soube fazer) a responsável primeira pela desestruturação das escolas e o mau-ambiente que nelas se instalou inapelavelmente, pelo aumento da indisciplina em sala de aula e o decorrente insucesso escolar.
É ela a responsável primeira (e por isso devia ter sido julgada e condenada!) pelo burnout e os suicídios de professores, pelas reformas antecipadas e penalizadoras que tantos, para não se suicidarem também, se viram forçados a pedir.
Maria de Lurdes Rodrigues é, em 1ª análise, a responsável pelas agressões às professoras de Abrantes e do Porto. A maldade dela, o rancor manifesto pelos professores, o ataque cerrado e sistemático aos profissionais da Educação criaram raízes no terreno da ignorância e dos traumas não resolvidos, da ausência de valores, da incompetência que nos desgoverna; deram frutos que a tacanhez pátria e a raiva mal dirigida vão colhendo, perante a cumplicidade geral e a passividade e inoperância de ministros e directores de escola. 

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 -- a lembrar, ainda:
Foi MLR (acolitada pelo mentor JS) que dividiu os professores em 'titulares' e 'não-titulares'. Que congelou as carreiras. Que alonjou a idade para a reforma. Que pôs os professores a fazer tarefas insanas e lhes sobrecarregou os horários de trabalho. Que instituiu as aulas de substituição que o não eram. Que separou a 'componente lectiva' da 'não lectiva', nunca definida ou contabilizada. Que inventou um processo kafkiano de ADD e sujeitou as classificações de topo a regime de quotas. Foi ela que instituiu a figura do director, acabando com a gestão democrática das escolas. Foi ela a mãe dos mega-agrupamentos. Foi ela que empossou os conselhos gerais de escola, com poderes decisores e reduzidíssima representação de professores, o seu papel cada vez mais menorizado. NC é um reles aprendiz de feiticeiro, burro, atabalhoado. MLR escreveu a cartilha por que ele treslê.

----- das agressões a professores, ecos da imprensa:

Linha SOS PROFESSOR,
14 março 2010:
Desde 11 de Setembro de 2006 até 19 de Junho de 2009, a linha recebeu 353 contactos, dos quais 184 foram efectuados durante o ano lectivo de 2006/2007(...)
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26 março 2010
Professores enfraquecidos
Os portugueses assistem atónitos ao descalabro da escola pública. Há alunos de arma apontada à cabeça de professores. Há professores que se suicidam por causa dos ataques de que são alvo. (...)
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um artigo obrigatório, para avivar memórias: 
Forte ataque à dignidade profissional docente e resistência a políticas regressivas 

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os últimos 3 responsáveis pelo estado a que isto chegou: 

Maria de Lurdes Rodrigues: Março de 2005 - Outubro de 2009 
Isabel Alçada: Outubro de 2009 - Junho de 2011 
Nuno Crato: Junho de 2011 --

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