H. Bosch, the last judgment |
Nem mês e meio de aulas, e já foram agredidas, só neste ano lectivo, duas professoras, uma em Abrantes (ver aqui), outra no Porto (aqui)
«Pelas 13h a escola pedira ajuda à PSP. Uma docente de 43 anos tinha sido agredida durante a manhã.
Tirara o telemóvel a uma aluna de 12 anos que o usava à socapa na aula de educação visual. No final, a aluna do 6.º ano exigiu o telemóvel de volta. A explicação da professora de que a regra era entregá-lo à direcção da escola não a satisfez. Tirou o telemóvel a um colega e ligou aos pais. Disse-lhes que tinha sido agredida pela professora. Foi o suficiente para os pais, feirantes, lá rumarem.
Enquanto o pai falava com o director, a mãe descobriu a professora numa das salas de aula e “deu-lhe quatro bofetadas depois de lhe puxar os cabelos”, descreveu fonte da PSP do Porto.
Mas no exterior a multidão indignava-se com a ausência de novidades sobre o ébola. “Eu acho que há aqui um engano qualquer”, disparava um polícia enquanto tentava controlar os pais que forçavam a entrada na escola. O esforço por explicar que o problema não era o ébola de pouco lhe serviu.» - fonte
- Edificante! Inaceitável.
A agressão a professoras (sempre mulheres..) há muito que NÃO É motivo de indignação, a bem dizer, para ninguém. Não, pelo menos, uma que leve à acção:
- os pais ou avós acorrem à escola em polvorosa, mas por um boato espalhado ou qualquer outra ocorrência que lhes desperte indignação - não uma deste tipo!;- os colegas protestarão na sala dos professores e envidarão esforços para que não lhes venha a calhar igual sorte;- o ministério da Educação ignora paulatinamente o assunto;- a comunicação social dá-lhe um relevo q.b., enquanto, no destaque da notícia, subverte tempos e razões ;- e os sindicatos ?! ... os sindicatos, nada!, ficam-se por uns tíbios comentários, se entrevistados a propósito.
E que punição vai ter esta mãe pelo crime cometido, pergunto-me? Que castigo exemplar e amplamente noticiado, que previna futuras veleidades por parte de encarregados de educação biliosos e violentos?
Que sanções para o director(a) da escola, que não criou mecanismos que impedissem que a agressora "descobrisse a professora numa das salas"?
Que vai acontecer à menina, que desrespeitou, mentiu, incitou à violência?
A relação professor-aluno, na escola, dentro da sala de aula, é obviamente um reflexo da imagem social do professor, condicionada por factores vários, nomeadamente o ético. Antes do 25 de Abril de 1974 o professor era uma figura respeitada na sociedade (e não me parece que haja dúvidas sobre isso) - pelo carácter elitista de um ensino para muito poucos, mas também pela reverência - na altura inquestionável - devida aos mais velhos, aos pais, a figuras socialmente consideradas relevantes: o professor, o médico, o juiz, o padre.
Com a Revolução, alterou-se drasticamente a relação de forças entre professor e aluno, circunstância a que não terão sido alheios abusos de autoridade generalizados que se consubstanciavam, sobretudo na então chamada "escola primária", em agessões aos alunos, diga-se, muitas vezes sancionadas (exigidas!) pelos respectivos pais.
O ensino generalizou-se, tornou-se obrigatório, passou-se do oito (em que o professor tudo podia) ao oitenta, em que, aos alunos (e respectivos papás e mamãs..), tudo ou quase tudo passou a ser permitido, sem que a sociedade (direcções das escolas e tutela incluídas) se preocupasse com o rumo desgovernado que a situação ia tomando.
E .. chegou Maria de Lurdes Rodrigues.
Quem, ao tempo, não estivesse na profissão (ou a ela ligado por relações familiares próximas) dificilmente compreenderá a medida real do poder destrutivo da sua acção governativa (e dos seus efeitos a longo prazo), relativamente à Escola Pública no geral e à classe docente do ensino não-superior, em particular. Dificilmente terá a noção de como ela levou tantos à ruptura e de como o seu mandato minou as relações interpessoais dentro das escolas, sem apelo e sem retorno.
A ministra que se gabava de "ter conquistado o país, perdendo os professores" sempre fez gala em os achincalhar, publicamente, sadicamente, sistematicamente. Ela, os seus secretários de Estado e os seus directores gerais. Hostilizaram-nos, deterioraram-lhes as condições de trabalho, transformaram-lhes a vida num inferno.
Foi Maria de Lurdes Rodrigues que escancarou a porta às agressões, verbais ou físicas, de basicamente toda a gente. Com ela - e depois dela - todos se sentiram no direito de questionar a formação, a competência, o trabalho, a dedicação, o carácter, da inteira classe docente deste país. Todos se sentiram legitimados para insultarem e atacarem os professores, dentro e fora da escola.
É ela (e os que, depois dela, se aninharam na cama que ela tão bem soube fazer) a responsável primeira pela desestruturação das escolas e o mau-ambiente que nelas se instalou inapelavelmente, pelo aumento da indisciplina em sala de aula e o decorrente insucesso escolar.
É ela a responsável primeira (e por isso devia ter sido julgada e condenada!) pelo burnout e os suicídios de professores, pelas reformas antecipadas e penalizadoras que tantos, para não se suicidarem também, se viram forçados a pedir.
Maria de Lurdes Rodrigues é, em 1ª análise, a responsável pelas agressões às professoras de Abrantes e do Porto. A maldade dela, o rancor manifesto pelos professores, o ataque cerrado e sistemático aos profissionais da Educação criaram raízes no terreno da ignorância e dos traumas não resolvidos, da ausência de valores, da incompetência que nos desgoverna; deram frutos que a tacanhez pátria e a raiva mal dirigida vão colhendo, perante a cumplicidade geral e a passividade e inoperância de ministros e directores de escola.
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-- a lembrar, ainda:
Foi MLR (acolitada pelo mentor JS) que dividiu os professores em 'titulares' e 'não-titulares'. Que congelou as carreiras. Que alonjou a idade para a reforma. Que pôs os professores a fazer tarefas insanas e lhes sobrecarregou os horários de trabalho. Que instituiu as aulas de substituição que o não eram. Que separou a 'componente lectiva' da 'não lectiva', nunca definida ou contabilizada. Que inventou um processo kafkiano de ADD e sujeitou as classificações de topo a regime de quotas. Foi ela que instituiu a figura do director, acabando com a gestão democrática das escolas. Foi ela a mãe dos mega-agrupamentos. Foi ela que empossou os conselhos gerais de escola, com poderes decisores e reduzidíssima representação de professores, o seu papel cada vez mais menorizado. NC é um reles aprendiz de feiticeiro, burro, atabalhoado. MLR escreveu a cartilha por que ele treslê.
----- das agressões a professores, ecos da imprensa:
Linha SOS PROFESSOR,
14 março 2010:
Desde 11 de Setembro de 2006 até 19 de Junho de 2009, a linha recebeu 353 contactos, dos quais 184 foram efectuados durante o ano lectivo de 2006/2007(...)
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26 março 2010
Professores enfraquecidos
Os portugueses assistem atónitos ao descalabro da escola pública. Há alunos de arma apontada à cabeça de professores. Há professores que se suicidam por causa dos ataques de que são alvo. (...)
Professores enfraquecidos
Os portugueses assistem atónitos ao descalabro da escola pública. Há alunos de arma apontada à cabeça de professores. Há professores que se suicidam por causa dos ataques de que são alvo. (...)
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um artigo obrigatório, para avivar memórias:
do SPN,
EDUCAÇÃO 2000-2010
Forte ataque à dignidade profissional docente e resistência a políticas regressivas
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os últimos 3 responsáveis pelo estado a que isto chegou:
Maria de Lurdes Rodrigues: Março de 2005 - Outubro de 2009
Isabel Alçada: Outubro de 2009 - Junho de 2011
Nuno Crato: Junho de 2011 --
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