Não há menos desemprego. Acordámos com as notícias do desemprego,
em que cerca de 30 000 teriam emigrado e outros tantos estavam
desencorajados, não iam à procura de emprego entrando na categoria dos
inactivos disponíveis – deixam de fazer parte da população activa. São
os desempregados que saem das estatísticas porque para procurar emprego é
preciso dinheiro (para imprimir cvs, deslocar-se para ir a entrevistas,
ter acesso à internet ou jornais, telefonar); porque as hipóteses de
ter emprego aumentam se as pessoas têm saúde, dentes arranjados, estão
bem vestidas, etc; porque para procurar emprego é preciso ter iniciativa
e muita gente está paralisada pela depressão do desemprego; porque para
procurar emprego é preciso ter que enfrentar propostas salariais que
não justificam sair de casa como hoje é comum: um call center onde se
ganha 6 dias por semana, 9 horas por dia, 480 euros. Basta juntar a
alimentação e viver num subúrbio com um passe social de 70 ou 80 euros
para já não compensar trabalhar. Desencorajados é um eufemismo para um
modelo económico que, pese embora tudo o que se produz a mais e cada vez
mais facilmente, não garante às pessoas o mais básico direito, o
direito ao trabalho, ao pão, à sobrevivência. Quanto mais o direito à
poesia…
E por falar em poesia lembrei-me hoje de um dos nossos mais
combativos poetas, semi analfabeto, António Aleixo, homem humilde,
tecelão, servente de pedreiro, cauteleiro, encorajado.
Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo,
Calai-vos, que pode o povo
Qu’rer um mundo novo a sério.
.
António Aleixo
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