Vi ontem o filme "12 anos escravo".
Óptimo, breathtaking.
O filme é de uma violência, de uma tensão permanentes, esmagadoras.
Comentei com o meu filho, quando saímos: "Ninguém tossiu" - Foi no cinema Fonte Nova, a sala estava cheia, havia muita gente mais velha do que eu. Ninguém tossiu, em nenhum momento = ninguém respirou profundamente, nunca. Um esmagamento de pulmões e de estômago, uma raiva que cresce e não encontra espaço de vazar.
Pesquisando agora, fico a saber que o realizador, Steven Rodney Mcqueen (que não conhecia), é inglês, nascido em Londres. Explicado o "toque" europeu do filme, a fotografia fantástica, a câmara que por vezes (se) pára e se fixa, (in)quieta, exterior ao drama dos personagens, como pondo-se de parte, fugindo. As paisagens deslumbrantes, idílicas, em profundo contraste com o inferno da h(H)istória.
Também não há música de fundo, as únicas vozes voluntárias, espontâneas, o coro dos negros, e lembro-me especialmente de um funeral. O único som existindo em dignidade, a única, assumida, verdade.
Tensão. Uma vontade de ter uma foice e matar de um golpe aqueles brancos todos, branca que sou, também. Gente que não é gente. Que impõe a leitura da bíblia à sua "propriedade". Que nela encontra justificações para a ignomínia mais ignóbil. Que diz coisas impensáveis, inconcebíveis: «uma refeição e descanso, e depressa esqueces os teus filhos!».
Vergonha pela dita "raça", vergonha pela humanidade toda.
Vergonha pela dita "raça", vergonha pela humanidade toda.
Como foi possível, isto?
Como foram possíveis esta, todas as atrocidades cometidas ao longo de séculos?
A tensão, a raiva, a dor.
O paralelismo que estabeleço com a (i)lógica dos nossos governantes-hoje.
O acreditarem eles numa qualquer teoria justificadora do horror, das medidas fratricidas, da iniquidade. E a arrogância de quem se julga superior, o convencimento mais auto-convencido!
A prepotência sobre o outro, seja ele de preferência o mais fraco - os negros ou os judeus de antes, os pensionistas, os velhos, os doentes, agora. Mercadoria, todos, Propriedade.
Sempre os "senhores de escravos" encontrarão perdão para o pecado (sin? What sin?!), sempre os destituídos de moral encontrarão bodes expiatórios, culpados estes de uma qualquer praga ou de uma qualquer ... crise?!... , divina ou não.
A culpa própria inexistindo, o estar-se acima de qualquer julgamento, de qualquer Justiça.
Assim é a história, a miséria desta condição chamada "humana".
2 comentários:
Excelente post, Al! Ainda não o vi mas agora ainda tenho mais vontade de ver este filme. E sim, o Homem é capaz das maiores glárias e das misérias mais miseráveis!
Obrigada, Anabela, querida Amiga. O filme é imperdível, sim, uma pedrada na nossa consciência colectiva ..
Beijinhos, bom ano para ti!
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