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05/01/14

breathless


Vi ontem o filme "12 anos escravo".

Óptimo, breathtaking

O filme é de uma violência, de uma tensão permanentes, esmagadoras. 

Comentei com o meu filho, quando saímos: "Ninguém tossiu" - Foi no cinema Fonte Nova, a sala estava cheia, havia muita gente mais velha do que eu. Ninguém tossiu, em nenhum momento = ninguém respirou profundamente, nunca. Um esmagamento de pulmões e de estômago, uma raiva que cresce e não encontra espaço de vazar.

Pesquisando agora, fico a saber que o realizador, Steven Rodney Mcqueen (que não conhecia), é inglês, nascido em Londres. Explicado o "toque" europeu do filme, a fotografia fantástica, a câmara que por vezes (se) pára e se fixa, (in)quieta, exterior ao drama dos personagens, como pondo-se de parte, fugindo. As paisagens deslumbrantes, idílicas, em profundo contraste com o inferno da h(H)istória.

Também não há música de fundo, as únicas vozes voluntárias, espontâneas, o coro dos negros, e lembro-me especialmente de um funeral. O único som existindo em dignidade, a única, assumida, verdade.

Tensão. Uma vontade de ter uma foice e matar de um golpe aqueles brancos todos, branca que sou, também. Gente que não é gente. Que impõe a leitura da bíblia à sua "propriedade". Que nela encontra justificações para a ignomínia mais ignóbil. Que diz coisas impensáveis, inconcebíveis: «uma refeição e descanso, e depressa esqueces os teus filhos!».
Vergonha pela dita "raça", vergonha pela humanidade toda. 
Como foi possível, isto? 
Como foram possíveis esta, todas as atrocidades cometidas ao longo de séculos?

A tensão, a raiva, a dor. 

O paralelismo que estabeleço com a (i)lógica dos nossos governantes-hoje. 
O acreditarem eles numa qualquer teoria justificadora do horror, das medidas fratricidas, da iniquidade. E a arrogância de quem se julga superior, o convencimento mais auto-convencido
A prepotência sobre o outro, seja ele de preferência o mais fraco - os negros ou os judeus de antes, os pensionistas, os velhos, os doentes, agora. Mercadoria, todos, Propriedade.

Sempre os "senhores de escravos" encontrarão perdão para o pecado (sin? What sin?!), sempre os destituídos de moral encontrarão bodes expiatórios, culpados estes de uma qualquer praga ou de uma qualquer ... crise?!... , divina ou não. 

A culpa própria inexistindo, o estar-se acima de qualquer julgamento, de qualquer Justiça. 
Assim é a história, a miséria desta condição chamada "humana".

2 comentários:

Anabela Magalhães disse...

Excelente post, Al! Ainda não o vi mas agora ainda tenho mais vontade de ver este filme. E sim, o Homem é capaz das maiores glárias e das misérias mais miseráveis!

AL disse...

Obrigada, Anabela, querida Amiga. O filme é imperdível, sim, uma pedrada na nossa consciência colectiva ..

Beijinhos, bom ano para ti!