na Visão
fonte
Machete purificado
________________________________________________________________
Se o Presidente da República mantém o cargo,
por que razão havia o MNE de se demitir?
________________________________________________________________
A mentalidade monárquica e a lógica de casta que ainda domina a política, em Portugal, explica muito bem a pressa com que Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa arrasaram com um obscuro secretário de Estado e o cuidado que colocaram na defesa de Rui Machete.
Para os barões do PSD, Machete é um "igual", "um dos nossos", enquanto Joaquim Pais Jorge é um arrivista. É bem provável que o caso Rui Machete/ BPN, mais por via do negócio das ações da SLN do que pelo cargo de presidente do Conselho Superior daquela sociedade, seja mais grave do que a venda falhada de swaps marados.
Mas o preconceito conta.
Machete, talvez o político que a mais conselhos de administração de empresas privadas ou organismos públicos pertenceu, é do clã.
O outro, um reles bancário, representa... o Bloco Central de interesses! (Marques Mendes dixit).
JPJ, img. daqui |
Quando o caso Pais Jorge rebentou, os dois comentadores do PSD exigiram, e bem, a demissão do governante.
Na mesma semana, porém, ficou a saber-se que Rui Machete comprou ações da SLN, por convite, tendo-as vendido com lucro de 150 por cento. Uma operação legal tal como a de Pais Jorge... mas que estava reservada, apenas, aos escolhidos do então presidente do BPN, Oliveira e Costa (as ações não estavam em bolsa). Neste ponto, ambos o
s comentadores defenderam o ministro, separando-o do caso Pais Jorge. O passado de Pais Jorge não o recomendava para um Governo que elegeu os swaps como um dos cancros da dívida pública.
RM, img. daqui |
No entanto, aqueles swaps nunca foram comprados pelo Estado e os portugueses não estão a pagá-los.
Já o dinheiro ganho por Rui Machete com as ações da SLN faz hoje muita falta aos contribuintes para pagarem o buraco do BPN, que se alargou, aliás, à conta de operações como esta.
Nessa mesma semana, ouvi, com curiosidade, na SIC Notícias, António Capucho responder a uma pergunta de Ana Lourenço sobre Machete. Mais do que Marcelo e muito mais do que Marques Mendes, Capucho é da casta, da geração e da trincheira política do ministro. Mas o antigo presidente da Câmara de Cascais marcou a diferença. E, embora com amizade e visível mágoa pessoal, disse o que tinha a dizer. Chapeau.
ESTA SEMANA, o Expresso revelou que, ao mesmo tempo que Rui Machete comprava, para si próprio, ações da SLN a 1 euro, a FLAD, instituição a que presidia, comprava-as a 2,2 euros. Uma discrepância tão difícil de explicar que, instado pelo jornal, o ministro não a explica. O que sabemos é que o então conhecido e correligionário partidário de Oliveira e Costa teve, se comparado com o investimento da FLAD, um "preço especial ". Nos comentários do fim de semana, Marques Mendes ignorou o tema. E Marcelo, em vez de o tratar como um dos assuntos a desenvolver, despachou-o no pacote das perguntas dos telespetadores, no início do seu programa, com um curto comentário de "advogado de defesa".
Esta pequena história, que podia ter-se repetido em qualquer partido ou, até, entre membros de partidos diferentes, desde que pertencentes à mesma casta... pode ajudar-nos a perceber como funciona o debate político. Mas há um outro pequeno pormenor que convém recordar: é que, se esmiuçassem o caso Machete, os nossos apreciados comentadores teriam de recordar o caso Cavaco Silva/ações SLN.
Ora, se o PR mantém o cargo, por que razão havia o MNE de se demitir?
Sem comentários:
Enviar um comentário