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30/09/13

a influência das hortas nos comportamentos eleitorais

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Ia vendo as projecções, ontem, o mapa deste norte-interior progressivamente descolorindo-se de laranja, azul-amarelo às vezes, tudo tão contrário à tendência generalizada de penalizar os partidos no governo, tudo parecendo tão à margem da involução das coisas, depreciando misérias: os desertos intensificando-se e os incêndios, o desemprego e os velhos de míseras pensões, os serviços que desapareceram e os jovens sem futuro, a nuvem de um 2º resgate.

Em contrapartida, o Alentejo, algumas zonas da grande Lisboa: a CDU reocupando - muito compreensivelmente! - lugares tradicionalmente seus.

Lembro os duros tempos do fascismo, a fome e a emigração em massa, as duas regiões mais miseráveis do país: a Beira-Alta e o Baixo-Alentejo, firmando-se agora, e desde a implantação da democracia em Portugal, em extremos ideológicos, uma "fascista", outra comunista. E pergunto-me: porquê esta diferença abissal, este extremar-se assim opostamente?

Recordo ter lido - visto? Ouvido? -- estórias de foragidos que demandavam o Alentejo escondendo-se da PIDE, refugiados políticos que, a troco de comida, ofereciam lições aos miúdos da casa, ensinavam letras e números. Terá sido esta alfabetização sui generis o gérmen de um pensar "de esquerda", de uma consciência política? Duvido, que ao tempo grassavam já, nessas planuras de além-Tejo, ideias igualitárias e "subversivas", razão, parece-me, de lhe terem demandado as paragens os perseguidos do norte, talvez do Porto, talvez Coimbra, Lisboa..

Depois pensei: não, a causa mais provável deste "colocar-se" político, PSD/CDS ao norte, PCP/CDU ao sul, mais não pode ser do que a Igreja, com o seu obscurantismo proverbial, os padres bradando impropérios do púlpito das aldeias tantas, esquecidos eles de inquestionáveis analogias, "somos todos iguais", "o que tiveres a mais dá-o ao teu vizinho".. A muito maior implementação da igreja católica em "Terras do Demo" e o seu imiscuir-se lá onde não devia, a influência nefasta na incultura das gentes, a sua omnipresença em terras beirãs e transmontanas, que não em plantios de trigo.

Ignorante que sou, apenas depreendo estar a igreja católica mais arredia das gentes do Alentejo, as igrejas que se multiplicam a norte reduzidas a sul pela escassez de povoações, se compararmos.

Embalada nesta convicção, assaltou-me uma espécie de "dúvida-metódica": serão as pedras? A dureza daquele granito e daqueles xistos mal-moldando carácteres, anquilosando pensamentos? Nada, que o refutam, desde logo, Homens assim grandes como o Aquilino ou o Torga!

Foi então que tive uma 'epifania'! As hortas, pá, as hortas!!!

Óbvio! Contrariando o monopólio das herdades imensas, os latifúndios que tudo absorviam e deixavam os pobres dos alentejanos à míngua, os expeditos dos beirões aproveitavam qualquer nico de terra, plantavam-lhe um pé de couve ou uma batata, mal a planta brotava sentiam-se proprietários. Proprietários rurais! As suas hortas!!

É, verdadeira e inequivocamente, este seu esboço de 'posse', tão essencial à sobrevivência, tão assim como um sentido de vida, que explica, mais do que as pedras, mais do que a pouca escolarização ou a acéfala obediência aos ditames religiosos, o serem as gentes do norte tão avessas a comunismos ou outras ideologias que lhes façam perigar a pequena propriedade, ainda que pseudo! "A minha couve ninguém ma tira! Bibó PSD! Bibó CDS e bibó senhor padre da minha paróquia!"

Isso, mais a arreigada convicção (que quase quarenta anos de convivência não abalaram!), de que os outros, esses a quem, depreciativamente, desconfiadamente como convém, continuam a chamar "comunas", comem mesmo criancinhas ao pequeno-almoço!
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