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29/05/13

A crise da Europa é a crise da social-democracia

Quarta feira, 29 de maio de 2013
por Daniel Oliveira
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Na semana passada, no balanço de um ano de mandato, François Hollande defendeu um governo económico da Europa. O "governo económico da Europa" é como as "reformas estruturais". Dá para tudo e para o seu contrário. Dá para a defesa de uma verdadeira solidariedade económica entre os países para vencer a crise e dá para um reforço do poder da Alemanha sobre a União. Dá para uma democratização das instituições e dá para um reforço do poder dos burocratas que impõem um programa que ninguém sufragou. Dá para os eurobonds e dá para Tratado Orçamental. 

Diz o presidente francês que quer uma convergência das políticas sociais, por cima, na Europa. Aplaudo. Mas, ao mesmo tempo, pretende continuar a política de cortes nas despesas sociais francesas e a austeridade começada pelo seu antecessor. 

Hollande quer uma harmonização fiscal na Europa e um combate sem tréguas à evasão. Excelente ideia. Mas a sua tentativa de taxar as grandes fortunas e combater os paraísos fiscais acabou por chocar com o facto de ter como ministro destas bandeiras um homem que fugia aos impostos pondo a sua fortuna em offshores. 

Hollande defende um orçamento a sério para a zona euro. Mas de nada vale um orçamento da zona euro se a ele não corresponder a mutualização da dívida. Tudo o que se faça será inútil se a Europa continuar a deixar os países periféricos com uma moeda forte e única mas desprotegidos na sua relação com o mercado das dívidas soberanas. De nada serve uma excelente tripulação se o barco estiver cheio de buracos. 

Hollande defende a união política. Seria, há uns anos, uma boa ideia. Mas tenciona continuar a tratar de tudo isto com a Alemanha sem dar cavaco a mais ninguém, não contrariando a tutela do diretório sobre a União. Tutela que matou a confiança dos povos no projeto europeu e que impediu que a Europa reagisse a tempo ao início desta crise. 

Na realidade, Hollande tenta adaptar o seu discurso à chegada da crise a França e à sua própria impopularidade. Faz algumas propostas tendentes a contrariar a ortodoxia da austeridade. Mas parece ser incapaz de avançar com uma ruptura que permita que a Europa tenha uma política expansionista para contrariar a crise. 

Seguro e Hollande foram ao 150º aniversário do SPD. É um dos mais antigos partidos democráticos do Mundo e nasceu e cresceu no movimento operário alemão. Hoje é incapaz de apresentar uma proposta realmente alternativa a Merkel. Durante os últimos anos comprou a narrativa dos conservadores sobre a crise, ajudando à hegemonia do discurso que responsabiliza o endividamento dos países periféricos pelo Estado comatoso da Europa. Nos dias que correm, é quase impossível encontrar um alemão que não tenha interiorizado esta falsa ideia. É por isso que quase toda a gente aposta, caso os liberais do FDP não consigam entrar no parlamento, num governo CDU/SPD. Que não será menos insensível aos problemas dos países periféricos. 

Quem aposte na dilatação de prazos para as medidas impostas pela troika, esperando que entretanto alguma coisa mude na política alemã e francesa, vai ter grandes desilusões. Nem a França vai obrigar a Alemanha a mudar de rumo - nada do que Hollande tem feito aponta para uma posição firme -, nem o SPD vai, caso se venha a aliar a Merkel, mudar a política alemã. 

A aposta que eu faria é esta: tal como tem acontecido com a Grécia, as exigências vão sendo aligeiradas ou agravadas o suficiente para deixar os países intervencionados ligados à máquina. Nos mínimo dos mínimos. É o que tem acontecido com os gregos, é o que está, com as mudanças nos limites ao défice, a acontecer com Portugal. Um programa impossível de cumprir tem de ir simulando a sua própria viabilidade. 

Os políticos alemães sabem que se qualquer país sair do euro isso poderá ter um efeito de bola de neve que seria uma tragédia para Alemanha, que precisa da moeda única bem mais do que os seus parceiros parecem perceber. Mas nunca será feito nada para resolver os problemas dos países intervencionados. Porquê? Porque a opinião pública alemã e do resto do norte da Europa não aceitará, graças à retórica que lhes foi oferecida nos últimos anos, nenhuma decisão mais radical. O próximo perdão de dívida à Grécia pode mesmo criar uma crise política na Alemanha. 

As coisas poderiam mudar se a social-democracia tivesse um discurso relmente alternativo à austeridade. Mas não tem. Basta ouvir o elogio recente de Hollande às reformas laborais de Gerard Schroder, responsáveis pela contração salarial na Alemanha que a Europa está a pagar com um desequilíbrio das suas trocas comerciais, para perceber que o presidente francês, como o resto da social-democracia europeia, ainda não se livrou da "Terceira Via". Aquela que a tornou numa irrelevância ideológica. Porque se é para este serviço a direita é bem mais eficaz e decidida. 

A crise da Europa é a crise da social-democracia, que não só construiu, quando dominava os governos da maioria dos países europeus, Maastricht e esta moeda presa por arames, como, refém dos interesses financeiros, tem sido incapaz de liderar uma alternativa ao neoliberalismo que domina instituições europeias e os governos da maioria dos Estados membros. Ouvindo François Hollande, Peer Steinbruck ou António José Seguro temos razões para suspeitar que a refundação da social-democracia europeia não está para próximo. E sem ela, não há futuro para União Europeia. 

Ontem, Hollande disse que "a geração do pós-crise vai ajustar contas com os governantes de hoje". Está a ser otimista. A geração da crise está a ajustar contas com os que, nos governos ou fora deles, festejam os 150 anos do primeiro partido social-democrata do mundo no mesmo momento em que, por ação ou omissão, contribuem para destruir os três maiores legados que deviam defender: o Estado Social, os direitos dos trabalhadores e a democracia na Europa.

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pois se até já nos países ricos do norte..

Swedish riots rage for fourth night 

Police attacked and cars torched in Stockholm suburbs as unrest sparked by long-term youth unemployment and poverty spreads

A car burns in the Stockholm suburb of Kista: Sweden's capital has been hit by some of its worst riots in years. Photograph: Scanpix Sweden/Reuter:


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