Pode a Amnistia ficar calada?
Por Teresa Pina
27/11/2012
27/11/2012
No passado dia 15 de Novembro, a secção portuguesa da Amnistia Internacional
(AI) emitiu um comunicado que gerou polémica. O comunicado dizia respeito à
manifestação de 14 de Novembro e tinha essencialmente quatro pontos:
- condenava o uso excessivo da força por parte da PSP;
- condenava os actos de violência de um grupo de manifestantes que arremessaram pedras e petardos contra as forças de segurança;
- alertava para o facto de haver testemunhos de detenções ilegais;
- solicitava ao ministro da Administração Interna que ordenasse a abertura de um inquérito.
Ao condenar o uso excessivoda força por parte da PSP, o
comunicado não criticava o facto de a PSP ter usado a força. Criticava, antes, a
forma como a PSP usou a força, considerando-a excessiva ou
desproporcional. Dito de outro modo, a AI admitia que, perante a violência
demonstrada por um grupo específico de manifestantes, a PSP acabou por não ter
alternativa senão usar a força, mas contestava que não tivesse havido
alternativa a uma carga policial que (segundo tudo indica) não deteve os
prevaricadores, atingiu inocentes, continuou muito para lá do local da
manifestação com recurso indiscriminado à bastonada e acabou em detenções
aleatórias que terão violado princípios elementares do Estado de direito. Das
alternativas a esta forma de actuação tem-se começado a falar nos últimos dias:
sem um inquérito, não se pode excluir que a PSP pudesse e devesse ter tentado
usar apenas a força mínima necessária para deter os manifestantes violentos logo
no início dos distúrbios (não só para lhes pôr cobro, mas também para proteger
os seus próprios agentes).
de Max Oppenheimer |
A AI é uma ONG de direitos humanos. Defende direitos e defende o Estado de
direito. Colabora há anos com instituições do Estado e já deu formação em
Direitos Humanos à GNR, PSP e a guardas prisionais. Já em Março se tinha
pronunciado contra o uso desproporcional da força policial nos protestos do
Chiado. Tem feito o mesmo em Espanha, na Grécia e em outros países onde as
manifestações têm sido reprimidas com uso excessivo da força.
Ora, segundo os
testemunhos sobre a manifestação de 14 de Novembro, a polícia espancou menores e
idosos, atingiu pessoas na cabeça e agrediu quem já estava no chão - quando, na
verdade, a praça ficou vazia poucos segundos depois de o corpo de intervenção
ter avançado sobre os manifestantes. Uma senhora de 65 anos escreve-nos o
seguinte: "O meu marido, de 79 anos, depois de ter caído, em resultado da
multidão em pânico, já estava no chão e um polícia deu-lhe com o bastão na
cabeça". Pode a AI aceitar isto como um "dano colateral" da carga policial? Pode
defender que este casal foi "cúmplice" do apedrejamento? Ou que eram "mirones" e
por isso haviam perdido o direito de usar livremente a via pública? Ou que foram
avisados por um megafone de que corriam o risco de ser espancados - quando esse
megafone é descrito por muitos como "inaudível"?
Os testemunhos sobre as
detenções não são menos preocupantes. Segundo se conclui, os detidos foram
impedidos de contactar os seus advogados, sujeitos a humilhações psicológicas
graves e libertados sem que lhes tenham sido passados autos a explicar por que
razão haviam sido presos. Nalguns casos, os detidos dizem ter sido coagidos a
assinar autos em branco. Pode a AI ficar calada perante tudo isto? Precisamos de
explicar por que motivo solicitamos a abertura de um inquérito.
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