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17/10/12

afinal, o que é isso de 'classe média' ?



Na caricatura ao lado, lê-se: «Não chores, que os impostos só vão atingir da classe média para baixo!»

Ora, precisamente, a questão que se coloca: o que se entende, actualmente, por "classe média"?


A tal, e isto é apenas a definição da wikipédia, «possuidora de um poder aquisitivo e de um padrão de vida e de consumo razoáveis, de forma a não apenas suprir suas necessidades de sobrevivência como também a permitir-se formas variadas de lazer e cultura (...) » ?


Pesquisei. Fui ao site da Marktest e a outros.
Encontrei muita informação sobre o Brasil, muitos cartoons (os que aí ponho parecem-me elucidativos..), gráficos, 'indicadores' que supostamente dividem as classes sociais em escalões de A (a mais 'alta') a E (a mais 'baixa'): acesso à tecnologia e à cultura/informação, tipo de dieta (= preocupação com comer saudavelmente) , cuidados de saúde preventivos, possibilidade de/apetência por viajar, nível de escolarização.


A conclusão a que cheguei é que precisamos de redefinir estes termos todos: burgueses, operários, 'luta de classes'.

Quem é, hoje, afinal, a classe média em Portugal ? 

-- Os reformados com pensões de 1500 euros brutos? (v. ilíquido) ?- a quem o IRS anula reposição de subsídios, igualando-os (em escalão e sacrifícios) a outros que recebem dez (.?.) vezes mais?


-- Os médicos do SNS (Serviço Nacional de Saúde) que «podem ser contratados a 2 ou a 3 euros à hora» ? (uma mulher-a-dias ganha, em média, 6 euros/hora, só para comparar..)
  • um especialista em início de carreira no SNS, sem dedicação exclusiva (coisa que praticamente já não existe) com um salário (venc. líquido) de cerca de 1300 euros?
  • um Assistente Hospitalar Graduado (uma categoria de topo), com um salário real a rondar os 1600 euros?  -/fonte /..  

-- Os professores do ensino público não superior ? /fonte/
  • contratados, (com licenciatura/mestrado) - vencimento líquido de menos de 900 euros/mês?
  • com a 'benesse' - única - de 4,27 euros de subsídio de refeição por cada dia útil de trabalho?  

-- Os enfermeiros,

Todos, funcionários públicos sem direito a "carros de serviço" nem 'subvenções' - de deslocação, de residência, de nada. Que perderam até o direito aos subsídios de férias e de natal. Que há anos têm as carreiras 'congeladas'. Que não podem 'fugir' a pagar impostos. 
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Todos, profissionais que dedicaram muito trabalho, muitos anos da sua vida ao estudo, em cuja formação o Estado (que somos nós todos) investiu muito dinheiro (para não falar dos sacrifícios das famílias) - e que agora não têm outra alternativa senão emigrar [aqui ; aqui ; aqui]
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Estes - médicos, enfermeiros, professores, NÃO SÃO já a "classe média" em Portugal.
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E sei do que falo, que pertenço a um destes grupos profissionais (ainda assim com sorte, que o meu filho já é independente economicamente!) Com as prestações da casa para pagar, as contas da electricidade, da água, do gás, da farmácia, as contribuições, o condomínio, as despesas do meu velho Opel Corsa, pouco me sobra para comida - e cigarros (que, sei, podia dispensar não fossem eles um vício arreigado, praticamente o único - juntamente com o café - que posso ainda permitir-me).

 

Quem é hoje, então, a "classe média" em Portugal?

Segundo o gráfico ao lado,  os que têm telemóvel (os portugueses todos?), computador pessoal (metade dos portugueses?), ligação à internet (um terço dos portugueses?
Os meus alunos (escola pública, margem-sul do Tejo) sempre tiveram telemóveis de gama muito superior à minha (uns comprados, outros roubados..), às vezes dois, três.
Ao contrário de mim, e sobretudo depois da 'era tecnológica' de Sócrates, eram raros os que não possuíam pelo menos, um portátil,  i-pads, ipods, ... Nos vários anos em que perguntei, ninguém, para além de mim, tinha apenas um aparelho de televisão em casa: 4 era a média, em todas as turmas. As profissões dos pais, o respectivo nível de escolarização, do mais variado, no boletim de matrícula muitas vezes descritos, uma e outro, como "desconhecida/o"  ..  Assim sendo, serão os nossos alunos (com a sua panóplia de gadgets tecnológicos) a nova "classe média"?

Por outro lado, e não tendo agora em conta o acesso às novas tecnologias (+ 'know how' ou apetência para usá-las), todos sabemos quanto pagamos, por exemplo, a um electricista ou um canalizador, sempre que deles precisamos. A maior parte das vezes sem passarem um recibo, uma factura (e é quase uma indelicadeza pedir-lhas ..) , os 'operários-que-fazem-uns-biscates e/ou trabalham por conta própria, para além de se eximirem aos impostos, ganham, por hora, muito mais do que um professor, um enfermeiro, um médico (incluindo muitos que têm consultório privado).

Electricistas por conta própria, mecânicos, esteticistas, trolhas, massagistas, carpinteiros, costureiras (obviamente, sem qualquer desprimor para com nenhuma destas profissões!) - serão estes, agora, a dita "classe média"? Pelo poder de compra, acredito que sim, muitos deles. [Lembro-me de uma loja de roupa com preços proibitivos, aqui na Costa, e a dona garantindo serem as vendedoras de peixe (do mercado ao lado) as suas melhores clientes ..]

Mas depois entra o vector 'escolarização', escassíssima na maior parte dos casos, e que arrasta consigo quase todos os outros indicadores que 'estabelecem' a sua posição na 'pirâmide social'.

Mais: serão alguns dos acima listados tão 'operários' como os outros, os que trabalham (apenas) em fábricas, por exemplo? Com semelhante habilitação académica e formação profissional, ganhando eternamente o ordenado mínimo nacional, permanentemente sujeitos a despedimento, tantas vezes explorados por patrões que, depois de enriquecerem, declaram a falência das suas empresas? Ou há "operários-operários" e "operários-micro-empresários"?
 

Tudo muito confuso, como se vê. Tudo muito "de pernas para o ar", desarrumado, ferindo qualquer lógica expectável!

Tanto como, por exemplo, os hiper-ricos angolanos (e vale a pena ver o seu hino nacional..): ex-colonizados-explorados pelos brancos ou neo-colonizadores-exploradores dos pretos (e calculo que também de alguns brancos) seus conterrâneos?

Pois. As sociedades actuais revolveram uma série de conceitos a uma velocidade tal que já nada 'encaixa em nada'.


Mais que um acordo ortográfico, acho que precisamos de um acerto e uma revisão de termos. Urgentes, sobretudo, nos hinos que cantamos, o nacional e os outros: operários, burgueses, canhões e agora até a nação, façam o favor de se definir!

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a ler:
(no Brasil):

4 comentários:

AL disse...

recebi por e-mail, mas vou (abusivamente - sorry, Grazia Tanta), colocar aqui.. bjis!

«Isso é uma anedota, uma mistificação. É uma noção apenas topográfica para dizer que há uns tipos entre os indigentes e os ricos mas, que os políticos e a imprensa e os seus analistas gostam de de incluir na faladura
Se o meu vizinho do lado esquerdo nada tem para comer, o da direita tem duas cenouras e eu tiver uma, eu sou classe média,
Não brinquemos. Isso +e para nos fazer crer que vivemos acima das nossas possibilidades, que temos um padrão europeu e portanto, que há muito por one apertar

Há uma lógica genocida da parte deles contra nós todos, Há uns seis anos que alerto para isso mas os media e os partidos de "esquerda" não agarram a ideia. Eles querem que desapareçam 4 M de pessoas daqui e que os sobrantes trabalhem em jornadas de 10/12 h por uns 400 euros, um género de região especial chinesa.»

AL disse...

mais do Grazia Tanta, dois links para dois estudos seus sobre estas questões da classe-média:
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«Dá uma olhadela aos cálculos que fiz, aqui:»

http://www.slideshare.net/durgarrai/a-pulso-genocida-da-burguesia-portuguesa-a-actuao-da-mfia-socratide

http://www.slideshare.net/durgarrai/o-novo-fascismo-que-est-em-marcha

AL disse...

estou abusiva, mesmo ;)
este comentário estava no facebook, trouxe-o para aqui:

Hermínia Tomé
Isso ainda existe, Ana? Classe média seria antes a besta que carrega às costas todos os desvarios. Antes trabalhava como um desalmado para ficar rico, agora é para não ficar na miséria...

AL disse...


.. e este tb .. :)

Silvia Guedes :

Classe média é pobre metido a besta. ( definição brasileira)