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02/04/12

Maria Teresa Horta

por Helena Vasconcelos [14.03.2012]
http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=302028

A luz incandescente de Maria Teresa Horta

Diante da sua nova antologia de poesia erótica, As Palavras do Corpo, Maria Teresa Horta recapitula uma vida inteira de risco e de exposição, de leitura e de escrita: “Para mim, escrever é voo e sobressalto, incêndio e desmesura”
Maria Teresa Horta, poeta, ficcionista, activista, feminista, é uma das mais importantes figuras da literatura portuguesa, conjugando na perfeição a luta feroz pelas causas que defende e o fulgor da escrita. Ao longo de uma vida apaixonante e apaixonada, Maria Teresa Horta conheceu o peso da ditadura e foi penalizada por ser mulher, livre e escritora. Com um vasto e diferenciado corpus literário que inclui poesia e prosa, a autora acaba de publicar uma antologia de poesia erótica intitulada As Palavras do Corpo (Dom Quixote), depois de ter ganho o Prémio D. Dinis - Casa de Mateus 2011 pelo romance histórico As Luzes de Leonor (Dom Quixote).

Fale-me da sua infância.

MTH
A minha infância foi arrebatada. Dividida entre a beleza da minha mãe e a inteligência do meu pai; entre o quarto da minha mãe e o escritório do meu pai. Protegida, defendida, compreendida por uma espantosa avó paterna que vivia connosco, a primeira mulher, aliás, que frequentou o liceu em Portugal. Sufragista, frequentava as reuniões feministas da histórica "casa-jardim", onde eu, menina pequena, ia com ela.

A minha infância foi a fundura do poço e o golpe de asa. O conhecimento do anjo e a queda. Uma espécie de história de fadas, com uma deslumbrante mãe abandonatória, um pai distante, gelado e inflexível, e uma madrasta como a da Branca de Neve, que me deu a comer várias maçãs envenenadas. A minha infância foi o começo exaltado e fulgurante da leitura e o início maravilhado do prazer da escrita; com o escritório do meu pai como paraíso proibido, onde me escondia, me perdia a olhar as lombadas dos livros nas prateleiras das estantes a que não chegava. Livros de que a minha avó me lia pedaços, a meu pedido, reclamando: "Mas não é leitura para a tua idade, não vais perceber nada..." E eu acabava sempre por lhe garantir no final: "Não interessa se não percebi, é tão bonito!"

Li, algures, que a Maria Teresa aprendeu a ler sozinha...

Digamos que sim, embora tivesse a ajuda da minha avó, que com uma imensa paciência sempre acedia quando lhe rogava para me ler esta ou aquela palavra, e repetir o nome de cada uma das letras que as compunham. Nessa altura as crianças só iam para a escola aos sete anos; ora, na altura em que isto aconteceu, eu deveria ter por volta dos quatro. Quando, pasmado, o mau pai se apercebeu de que melhor ou pior eu sabia ler, contratou uma professora para pôr ordem naquele meu saber bastante caótico e para me ensinar a escrever. Aí conheci outra das grandes paixões da minha vida: a escrita. E tudo mudou, tomou um rumo diferente e amotinado.       ------  (ler mais)
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