Passaram 42 anos sobre o 25 de Abril e (mais importante ainda, porque me diz directamente respeito ...) passaram 42 anos sobre mim.
O 25 de Abril apanhou-me em Lisboa, virgem de tudo. Eu, rapariga viseense que tinha aspirado aos horizontes largos da capital, onde, mal se chegava a Vila-Franca, se respirava melhor.
Eu, ignorante, olhos "wide-shut", tinha tido contacto com a bestialidade dos 'gorilas' na faculdade de Letras, no meu 1º ano fora de casa. Tinha visto como a polícia de choque disparava balas de verdade contra estudantes indefesos, que, reunidos na cantina, comiam... só comiam. Eu, que, finalmente, me tinha imiscuído nas teias da ditadura, à época, de Marcelo Caetano, o sucessor de Salazar. Inadvertidamente, inocentemente, desapercebidamente. Assim, só por ser aluna, só por estar lá, e o tanto que me lembro do Brasil, neste abafar cego dos direitos mais básicos, da mais básica aspiração à justiça e à liberdade ...
Ouvia e aprendia, eu, viseense. Eu, adolescente impreparada e protegida. Eu, ignorante. Um vizinho comunista que tinha, e de que se fazia segredo, nada mais.
Contássemos nós, apenas, com os homens e as mulheres de boa vontade, e nunca ...
Houve uma força que se adiantou, capitães de Abril. Uma força que foi o mote e a voz e o caminho. Sem eles, sem a sua iniciativa, nunca! E louvo a sua coragem libertária e os cravos que lhes espetaram nas espingardas, todos, "tão próximos e nus e inocentes", como dizia o Eugénio.
Louvo-os, ainda hoje, adulta e depois sénior e apesar disso tão utópica como nesses dias. Porque a cor da liberdade é o vermelho. A cor da igualdade É o vermelho. É vermelha a utopia e a esperança e a confiança de que, juntos, conseguiremos. Juntos, seremos melhores. Juntos, construiremos o mundo, um que o seja, digno dos nossos dias de juventude, do sangue derramado e da luta que tantos de nós só soubemos porque se escancararam "as portas que Abril abriu"!
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