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03/09/15

Refugiados

retirado daqui
Posted on 2015-09-02 

por Marisa Matias

As notícias sobre refugiados não são de hoje, a crise dos refugiados também não. Mas hoje e amanhã, e depois de amanhã, nas semanas e nos meses que passaram somos levados pela secura atroz do que vamos lendo e vendo.

Um dia afunda-se um barco no Mediterrâneo, morrem 400 pessoas. Noutro dia morrem 700. Um dia outro soltam-se as imagens de mulheres, crianças, homens a enfrentar muros de segurança, a tentar saltar muros reais, a furar cercas de arame farpado. Num outro dia qualquer são as bastonadas, as pessoas encontradas mortas em contentores, os que jogam a sorte agarrados a camiões de transporte de mercadorias. A dureza e secura das imagens e das histórias que se acumulam é atenuada pelo anonimato, pela ausência de nomes, de histórias de vida, de trajectórias. É gente que deixou de ser vista como gente e que aparece como ilustração nos discursos xenófobos dos altos responsáveis por essa Europa fora que tão preocupados estão em garantir a “segurança” dos seus. O que é claramente uma luta pela vida é tratado como ameaça colectiva. É preciso ter medo, alimentar o medo, descaracterizar as vidas que estão em jogo porque dizem que esta gente é bem capaz de nos invadir e de pôr em causa os “valores europeus”. Tamanha contradição. Tamanho cinismo.

Quem é responsável por tudo isto? Os cínicos gostam de cultivar a ideia de que são “os próprios” os responsáveis. Há que combatê-los, portanto. Podem ser também responsáveis os regimes dos países de onde se foge, que atacam os seus e não lhes deixam alternativas. Mas responsabilidades nossas, essas nem pensar. Ora bem, é de crimes que estamos a falar, quem deveria ir a julgamento por estas mortes, por estes maus tratos, são os governantes – todos – que se envolveram na guerra miserável que está em curso na Líbia, ao arrepio de qualquer Direito Internacional, incluindo o da péssima decisão, há muito ultrapassada pelos acontecimentos, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e que agora nada têm a ver com isso. Mais longínquos vão ainda os tempos em que eram todos amigos. Eram ditadores, diriam os líderes europeus, mas eram os nossos ditadores. Muitas das pessoas que aqui estão ainda se lembrarão da tenda montada para receber Khadafi em Lisboa e a forma pitoresca como tudo foi noticiado. Nessa altura era tolerável perdoar todas as criatividades a Khadafi, como a Ben Ali, como a Mubarak. Dava jeito. Ter uma polícia de fronteiras fora das fronteiras europeias, um “outsourcing” para os trabalhos sujos de contenção de populações em fuga da guerra fazia jus ao “longe da vista, longe do coração” que tanto jeito dá nestas coisas. Os que passavam e chegavam a Lampedusa eram “poucos”. Ia dando para ignorar e era suficiente para perdoar qualquer excesso autoritário que houvesse.

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