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29/01/15

o que prova a PACC?

Em jeito de preâmbulo:

1. a apreciação de um professor universitário, em Novembro de 2013 (não inteiramente exacta na sua auto-classificação, e penso que propositadamente..)
https://www.facebook.com/jose.adelino.maltez/posts/10152022656671182

2. a questão n.º 6 da prova de código 1000 074 - 2014/2015 : aquela em que os professoress (78,9%) mais erraram (do Público)
O seleccionador nacional convocou 17 jogadores para o próximo jogo de futebol. Destes 17 jogadores, 6 ficarão no banco como suplentes. Supondo que o seleccionador pode escolher os seis suplentes sem qualquer critério que restrinja a sua escolha, poderemos afirmar: 
(a) que o número de grupos diferentes de jogadores suplentes é inferior ao número de grupos diferentes de jogadores efectivos; 
(b) superior ao número de grupos diferentes de jogadores efectivos; 
(c) igual ao número de grupos diferentes de jogadores efectivos; 
(d) não se relaciona com o número de grupos diferentes de jogadores efectivos"

Segundo o IAVE, esta primeira parte da componente comum da prova (32 itens de escolha múltipla, que correspondem a 80% da cotação) "visa avaliar a capacidade para mobilizar o raciocínio lógico e crítico, bem como a preparação para resolver problemas em domínios não disciplinares"
de R. Magritte
Ora bem, vejamos: a minha capacidade de "mobilizar o raciocínio lógico e crítico" diz-me, à partida, que esta questão está mal colocada -- e pergunto-me o que, sobre isto, terá dito (?) a Associação dos Professores de Português, já que é de uma questão de português que se trata, mais concretamente a exactidão e propriedade da linguagem usada: as hipóteses (a,b,c,d) referem "grupos diferentes de jogadores" (de entre os efectivos e os suplentes). Ora eu (...) não vejo, no texto introdutório, nenhuma referência, nem a outros "grupos" que não sejam os dos jogadores suplentes vs os efectivos 'tout court', nem a "diferenças" dentro de cada um dos grupos ...

Eu (...) não saberia responder a esta questão. Desde logo, irritar-me-ia a incongruência linguística apontada. Talvez bloqueasse depois desta questão. E não me considero, nem burra, nem ignorante. Sem modéstias de qualquer espécie, tenho, da língua portuguesa, um domínio infinitamente melhor que a maioria dos jornalistas ou dos políticos portugueses. Et pourtant ... (que, para quem não saiba francês, significa "e, no entanto" ..) eu (...) talvez tivesse "chumbado" nesta prova. Isso far-me-ia uma pior professora de inglês ou alemão (a minha área disciplinar)? I don't think so!

E pergunto-me (...) se os tais "domínios não disciplinares" serão assim tão determinantes no exercício da profissão docente ...

Pergunto-me (...) por que escusos interesses não se questiona habitualmente a "bondade" das provas do IAVE, as dos professores ou as dos alunos.. (Estão bem feitas? Estão mal feitas?) ... Como me pergunto quem são os "iluminados" que as elaboram, e por que preço fica a dita "iluminação" ...

Pergunto-me, ainda, (e não sou de filosofia, mas sei o que é a "dúvida metódica" de Descartes...) :
Um professor da área das ciências exactas precisa de dominar a língua portuguesa com absoluta correcção? Não, não precisa. Devia? Sim, absolutamente, como qualquer português detentor de um diploma académico, sobretudo de grau superior.
É isso relevante para a sua qualidade, enquanto profissional? - Sim e não.
É isso condição "sine qua non" para definir um bom profissional do ensino da matemática, da física, das ciências naturais? Definitivamente, não!

Em que é que um deficiente domínio da língua portuguesa afecta o desempenho de um professor da área das ciências? - Apenas nas tarefas burocráticas ou administrativas que é, cada vez mais, chamado a desempenhar: fazer uma acta, por exemplo. E, acreditem, sou de um tempo em que, nas reuniões de conselho de turma, se dispensavam de fazer actas alguns professores, porque o faziam mal.
Gostava? Concordava? Não e não!, sobrava trabalho para os outros. Achava eu que aquelas pessoas não tinham aptidão para a carreira docente? Oh, por quem sois, meus amigos!!, claro que não!  Respeitava-as pela sua incapacidade linguística? - Não, obviamente, tanto mais sendo eu da área das letras .. Respeitava-os nos seus conhecimentos científicos, nas suas capacidades humanas.
Equacionava a realização de uma prova seriativa? 
Ponderava a justeza da sua expulsão do sistema? 
- Não e não, que absurdo! Desejava, apenas, que lessem uns livros, se esforçassem por melhorar .. Que fizessem e corrigissem, ou pedissem ajuda. Que não dessem azo a críticas por parte de colegas, alunos, pais, direcção, tutela ...
Eu (...) professora de língua estrangeira ... preciso de raciocínio lógico? - Evidentemente. Não o tivesse, e os alunos "massacravam-me" nas aulas que não saberia dar ...
Preciso de comprovar que sou detentora desse raciocínio lógico através de sudokus e outros desafios do género? Ohhhhh pleeeeease!!!!! E saibam que faço contas de cabeça com mais facilidade que a maioria dos meus ex-alunos, resolvo facilmente equações necessárias ao exercício da profissão (só de 1º grau, sorry, não tive matemática depois do que agora é o 9º ano, das outras esqueci-me ...), mas aplico/aplicava com eficácia fórmulas complicadíssimas  para avaliação dos meus alunos - que o Excel (ou outro software - e é para isso que estes programas existem, como é por isso que eu e os restantes professores aprendemos a usá-los!) resolve!!

Para que serve, então, a PACC? (E suspeito que os que agora a ela se sujeitam serão os filhos dos que à PGA disseram não ...) Por que razão se insiste num modelo de seriação que todos (excepto o senhor Crato e a antecessora Milú) repudiam? Que o Concelho Científico do IAVE (o Instituto de Avaliação Educativa que promove a dita prova, vejam a incongruência..) "chumbou", por, entre outras razões, ser passível de induzir "um empobrecimento geral da formação dos professores"? (ver)
Pois, parece-me evidente, pelas razões apontadas pelo Professor Santana Castilho (ver aqui).

A malévola intenção deste ministro de opereta, cego e surdo (e que, pseudo-matemático ele -- e professor do ensino superior!! -- não sabe que não se somam alhos com bugalhos, como ficou demonstrado pelo descalabro na ordenação de candidatos à docência, no início do presente ano lectivo), a sua intenção, dizia, outra não é que a de despedir cada vez mais professores (e vá lá que não se morre nas escolas como nas urgências dos hospitais!), desacreditar (ainda mais) a classe, ultimately ... destruir a escola pública, transformar-nos a todos (professores, alunos, sociedade) em robots obedientes e acéfalos - mas capazes de resolver charadas, valha-nos isso!

E terminaria com um "a bem da nação", estivéssemos nós no tempo do famigerado Estado Novo.
Como, por enquanto!, ainda não, concluamos com um "a bem dos pobres de espírito" que, bem resolvendo charadas de interesse futebolístico, hão-de futuramente, docilmente, formar gerações e gerações de futuros cratos e passos e dar ao mundo uma boa carrada de novos-imbecis!

2 comentários:

edite disse...

Gosto-te, menina. Como, já fora do sistema, continuas a pensar, trabalhar, iluminar o que te rodeia. Viva-te. Viva a lucidez. Beijo.

AL disse...

Ohhhhhhhh, querida Edite! Obrigada! Também te gosto, menina! :)