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07/10/14

"Portugal: uma nesga de sol"

retirado do fb

por Amadeu Homem *

AO QUE NÓS CHEGÁMOS ! 


Folheemos as "Viagens na Minha Terra" , de Almeida Garrett. A descrição que aí é feita do Vale de Santarém é um verdadeiro hino à terra trabalhada, à paisagem verde, a uma agricultura que se desentranhava em vergéis e em frutos sazonados. Peguemos agora n' "A Cidade e as Serras" , de Eça de Queiroz. Estamos no Minho, em Tormes. E a portentosa linguagem do Autor, descobre o verde mais verde da paisagem nortenha, com as penumbrosas latadas a oferecerem aos visitantes as uvas bem maduras e os milheirais a erguerem-se em superfícies de sonho. 
de Luís Dourdil

Tudo isto se foi. É uma simples memória literária. O que nós temos aí é um mandarete da Merkel, chamado Láparo, a falar em Turismo enquanto eleva os impostos da hotelaria. 

No Século XIX, Oliveira Martins fixou-se numa pergunta crucial : «Portugal é uma granja e um banco. Onde está a oficina?». Venturoso era o Portugal daquele tempo, no qual ainda existiam granjas agrícolas, em perfeita sintonia com os cromossomas de um País de lavradores , analfabetos decerto, ignorantes das regras gramaticais, mas tudo sabendo dos arados, das sementes, das castas autóctones das videiras, do crescer das leguminosas e do rumorejar das águas de rega, pelas quais, se necessário, se batia e se matava. Também os bancos, naquele tempo, ainda não tinham aprendido as letras todas da "arte de furtar". Serviam uma burguesia nédia, mas ainda com um mínimo de orgulho nacional. 

Hoje, Portugal é isto e só isto : uma nesga de sol, para onde vêm as carcaças envelhecidas dos europeus transpirenaicos mais ricos, e meia dúzia de Láparos, impantes na sua importância auto-suficiente, a declarar que o nosso futuro está nessa Europa merdicosa, repleta de germanismo e de caquexia, porque está velha, porque já não presta, porque está preparada para se ver ultrapassada por tudo e por todos, e porque a única coisa que sabe fazer bem, é cuspir nos PIGS, que lhe ofereceram os descobrimentos marítimos, a música celta, a filosofia clássica e o eterno D. Quixote.

*  historiador e professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

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