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16/07/13

«Salvação, disse ele»

 15/07/13 00:05 | 


O homem que tem como principal responsabilidade assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas decidiu inovar e optou por uma terceira via: a do irregular funcionamento das instituições. 

Na comunicação da passada quarta feira, Cavaco optou por ignorar o elefante na sala - a atual crise política é uma consequência e não uma causa dos problemas do país - e reafirmou a sua falta de cultura democrática. 

Com o governo em acelerada decomposição, e ante uma remodelação mal-amanhada, em que Portas, depois da estrepitosa demissão de Gaspar, assumiria, de facto, o cargo de primeiro ministro, Cavaco tinha duas hipóteses: ou aceitava o único acordo com apoio maioritário que o atual parlamento é capaz de produzir ou dissolvia o parlamento e devolvia a palavra aos portugueses. Mas o homem que tem como principal responsabilidade assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas decidiu inovar e optou por uma terceira via: a do irregular funcionamento das instituições. 

Para Cavaco, o país não precisa de pôr termo ao processo de destruição em curso, nem precisa de ouvir os portugueses e saber o que estes querem para o seu futuro. Nada disso. O que Portugal precisa, diz-nos Cavaco, é de gente séria que cumpra (custe o que custar) o que o atual governo acordou com a troika, isto é, Portugal tem de manter e reforçar o desastre dos últimos dois anos e avançar, rápido e em força, para o corte de 4700 milhões de euros em salários e pensões - o tal corte que Gaspar entendeu não ter condições para concretizar, o tal corte que explica a atual crise política, o tal corte que, de acordo com um estudo do Banco de Portugal, será mais recessivo do que tudo o que foi feito nos últimos dois anos. Em suma: Cavaco entende que devemos caminhar todos, de mãos dadas, para o abismo. 

Deficitário de cultura democrática, Cavaco acha que esta escolha só não é patrioticamente assumida pelos partidos porque estes estão mais empenhados na intriga política, não porque seja social, económica e politicamente insustentável fazê-lo. Perante isto, Cavaco optou por pôr o atual (des)governo sob tutela presidencial, forçando-o a prosseguir a agenda que levou à sua implosão, e quer arrastar o PS para esse compromisso de desastre nacional. 

Para seduzir o PS, Cavaco promete eleições antecipadas em 2014. Mas, como não dá ponto sem nó, o Presidente de uma parte dos Portugueses (Bloco e PCP não entram nas contas) diz que só convocará eleições se estiver previamente assegurado, mediante um acordo de médio prazo entre os partidos do ‘arco da governação', que estas não servem para nada. 

Se o PS se comprometer a não alterar uma vírgula à política da atual maioria, então Cavaco convocará eleições. Não para que os portugueses escolham o que quer que seja, mas para que todas as escolhas que verdadeiramente importam não estejam ao dispor dos cidadãos e da democracia. Cavaco, que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, tem um plano, acontece que esse plano não é compatível com a democracia. E não poderá salvar Portugal.

* deputado do PS

http://economico.sapo.pt/noticias/salvacao-disse-ele_173418.html

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