DN, 8 de Maio de 2013
opinião
por VIRIATO SOROMENHO MARQUES
Cinquenta mil
Alguns dos documentos mais impressionantes da historiografia russa sobre o período das Grandes Purgas de Estaline, nos anos 30, são umas páginas breves redigidas pelo punho do ditador, e enviadas para as imensas organizações regionais da polícia política, indicando os números de "inimigos" políticos a liquidar. Cabia aos algozes locais traduzir as cifras de Estaline nos rostos concretos a sacrificar no altar do terrorismo de Estado.
Cinquenta mil. Eis a cifra de funcionários públicos a abater dos efetivos, por ordem do delegado-principal da troika em Lisboa. As vítimas a serem devoradas pelo minotauro da austeridade não resultam de nenhum estudo rigoroso sobre eficiência do aparelho administrativo do Estado, mas sim da simples convergência de vontades arbitrárias: as dos técnicos da "troika", que já deram provas de persistente ignorância, e dos fanáticos neoliberais indígenas que competem para ganhar as boas graças dos primeiros.
Serão os funcionários públicos mais frágeis, com laços mais precários, a serem submetidos a uma chantagem que os coloca entre a rescisão, com renúncia perpétua à função pública, ou o despedimento em piores condições. O argumento apresentado pelo delegado-principal da troika é a de que disso depende a permanência de Portugal no euro. Na sua imperturbável indiferença para com a realidade, ele parece desconhecer que por este caminho não só seremos o rastilho da implosão do euro como acabaremos por ter mais Estado do que é desejável para sociedades que queiram persistir na democracia.
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