Disse-te: uma casa.
Não falávamos há meses e isto
foi tudo o que te soube dizer:
uma casa, tenho uma casa.
Filipa Leal |
Arrumei primeiro os discos, depois os filmes,
só então os livros, as loiças.
Como quem se abrigasse da chuva,
pendurei os primeiros quadros.
Quatro: estrada, mar, mulher, coração.
Começou a chover quando me perguntaste
se te convidava para jantar.
Era desnecessariamente Julho
e dentro de casa chovia tanto.
Disse-to, confesso, sem esperança
- apenas porque uma casa
é muito grande para guardar na boca.
Filipa Leal
(«inédito», 2011, recolhido no site «Poems from the Portuguese» do Centro Nacional de Cultura» <http://www.poemsfromtheportuguese.org/Filipa_Leal»)
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