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06/02/13

Ulrich, «latrinário de alma»


postado no facebook
por Amadeu Homem,

texto retirado daqui 

AUTÓPSIA DE UM PULHA 


A História não se repete. Mas a miseranda mentalidade dos crápulas, essa sim. Ela é uma constante de todas as épocas. Querem ver ? Falemos apenas de períodos não muito afastados. Nos fins do século XVIII, quando a França gemia de desvalimento e miséria sob a condução monárquica de Luís XVI, Maria Antonieta comentava assim as queixas populares frequentes , relativas à falta de pão : - “O quê? Eles reclamam que não têm pão ? Ora essa, que comam brioches” . 

Quando, pouco depois dos meados do século XIX, alguém confrontou o liberalão Fontes Pereira de Melo com o peso insuportável dos impostos, especialmente punitivo para os nossos “descamisados”, ele retorquiu: “O Povo pode e deve pagar mais”. 

São dois exemplos paradigmáticos, não apenas da incorrigível cegueira com que os grandes abordam as dificuldades e penúrias dos pequenos, mas também e sobretudo de sociopatias encobertas e de sadismos latentes. Estes episódios entraram nas narrativas históricas porque os seus protagonistas o justificavam. Maria Antonieta era Rainha e Fontes Pereira de Melo ocupou variadíssimas vezes o Poder, como primeiro responsável pela governação. 

Mas que um obscuro banqueiro, que nunca ficará nos anais das crónicas, que nunca será ninguém de especialmente relevante no contexto da portugalidade, se atreva a comentar , da forma como o fez, os apertos de uma crise tremenda, que está a levar famílias ao desespero e pobres à corda dos enforcados, declarando que “eles aguentam mais, ai aguentam, aguentam”, tal vómito já não exemplifica a singularidade de um Poder, para passar a ilustrar o desequilíbrio moral de um pulha. E é isto que a História guardará de certo Ulrich, banqueiro de profissão e latrinário de alma.

Amadeu Homem
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