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31/08/12

ainda o Ensino Profissional

no J. Negócios online
31 Agosto 2012 | 12:33
por João Quadros (*)





O Pior do Crato

O DN noticiou que, segundo fontes próximas do ministério de Nuno Crato, o Governo tem a intenção de tornar o ensino profissional obrigatório para alunos do ensino básico repetentes e que têm notas baixas.
O DN noticiou que, segundo fontes próximas do ministério de Nuno Crato, o Governo tem a intenção de tornar o ensino profissional obrigatório para alunos do ensino básico repetentes e que têm notas baixas. A ideia é permitir que estes estudantes aprendam profissões como cozinheiro, electricista, talhante, agricultor ou canalizador. O objectivo é arrancar com a experiência quando as aulas começarem no próximo ano.

Nos meus tempos, se tinha más notas na escola, diziam-me que, se não estudasse, o meu futuro seria como sapateiro ou ajudante de merceeiro. Eu sabia que me estavam a mentir, porque não conhecia nenhum ajudante de merceeiro com mais de dez anos. Se há um dom que Crato tem é o de nos fazer regressar ao passado. Com o matemático Crato, viajamos no tempo, de marcha atrás. É complicado analisar as decisões do ministro da Educação sem que surja a nostalgia dos tempos sem semáforos, estradas e escolas. Eu olho para o Crato e vejo um parto em casa, toalhas e bacias com água quente.

Há muitas formas de pegar nesta última ideia de Crato. O ministro da Educação demonstra o respeito que tem pelos cursos profissionais. Para ele, chumbar e ter más notas são as características de um bom electricista. O matemático acha que um canalizador é um indivíduo bruto, que chumbava muitas vezes no liceu e que não pode ser deixado sozinho com mulheres que têm problemas em casa, nos canos. Segundo Crato, faltam talhantes no Ultramar. E precisamos urgentemente de quem faça palmatórias.

Tudo vai mudar. Crato quer um sapateiro em cada esquina. O futuro está nos cursos de amolador e um talho é uma zona de conforto. Os maus alunos vão ver a carteira substituída por uma caixa de supermercado e vão ter um calendário escolar, só para eles, com mulheres nuas. Quem chumbar a Português vai para ajudante de mesa no Algarve, e quem tiver más notas a Religião e Moral vai para sacristão ou trabalhar para a Casa Pia. Os professores com má avaliação vão ensinar a fazer brigadeiros aos alunos que chumbam.

Uma coisa é certa, chumbar pode ser o primeiro passo para uma estrela Michelin: com 30 alunos por turma há mais hipóteses de haver dois ou três bons cozinheiros. O país precisa muito de cozinheiros para restaurantes com IVA a 23%.

Por mim, podiam juntar esta lei do Crato à outra do Pedro Mota Soares, e pôr os alunos que chumbam a lutar com a malta do RSI por um lugar de jardineiro -, mas sem estragar as rosas.

Crato teve uma ideia muito democrática que não faz diferença entre ricos e pobres - quem tiver más notas no liceu francês vai para professor de golfe. Já estou a ver o Martim de Bettencourt e Espírito Santo chumbar nos Salesianos e ter de ir estudar para um talho do BES.

Como em tudo, há sempre um lado positivo , e se a nova lei do Crato já existisse há muito, Passos Coelho, a esta hora, era cabeleireiro, e Relvas era… era… era exactamente o que é hoje. De uma forma ou de outra , com mais ou menos exigência, ele havia de lá chegar. Não há nada como a escola da vida. -- fonte


(*)  

Entrevista
por Vanda Marques , Publicado em 25 de Janeiro de 2010  
 
João Quadros. O homem por trás dos humoristas -- aqui

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