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16/10/11

para o Che

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GUEVARA

Havana, Fev. 2001
Não choro, que não quero
Manchar de pranto
Um sudário de força combativa.
Reteso a dor, e canto
A tua morte viva.

A tua morte morta
Pelo próprio terror em que ficaram
À sua frente
Aqueles que te mataram
Sem poderem matar o combatente.

O combatente eterno que ficaste,
Ressuscitado
Na voluntária crucificação.
Herói a conquistar o inconquistado,
Já sem armas na mão.

Quem te abateu, perdeu a guerra santa
Da liberdade.
Fez brilhar na manhã do mundo inteiro
Um sol de redentora claridade:
O teu rosto de Cristo guerrilheiro.

11 de Outubro de 1967 in Diário, X volume
Miguel Torga, in “10 Poemas para Che Guevara” (Ed. O Oiro do Dia, 1.980, Porto, Portugal)

 *

A FACE SUBMERSA

Gastaram-se as promessas da sempre morte viva
Das sílabas do teu rosto novas palavras surgem

Sob as palavras as sílabas se reúnem
Outras palavras sob as palavras nascem

A face submersa ressurge das raízes
Sempre ou nunca mais de cada vez e sempre

Um rastro se propaga, rasga as superfícies
Um perfume silvestre desempesta as cidades

As sílabas reúnem-se
Uma bondade antiga retempera a revolta

Gastaram-se as promessas
A face submersa ressurge das raízes

Outras palavras sob as palavras nascem

António Ramos Rosa, in “10 Poemas para Che Guevara” (Ed. O Oiro do Dia, 1980, Porto, Portugal)
-
poemas retirados daqui

*

Elegia das Águas Negras para Che Guevara

Atado ao silêncio, o coração ainda
pesado de amor, jazes de perfil,
escutando, por assim dizer, as águas
negras da nossa aflição.

Pálidas vozes em prado procuram
O potro mais livre, a palmeira
mais alta sobre o lago, o barco talvez
Ou o mel entornado da nossa alegria.

Olhos apertados pelo medo
aguardam na noite o sol do meio-dia,
a face viva do sol onde cresces,
onde te confundes com os ramos
de sangue do verão ou o rumor
dos pés brancos da chuva nas areias.

A palavra, como tu dizias, chega
húmida dos bosques: temos que semeá-la;
chega húmida da terra: temos que defendê-la;
chega com as andorinhas
que a beberam sílaba a sílaba na tua boca.

Cada palavra tua é um homem de pé;
cada palavra tua
faz do orvalho uma faca,
faz do ódio um vinho inocente
para bebermos contigo
no coração em redor do fogo.

de Eugénio de Andrade em Poemas a Guevara (selecção e tradução de Egito Gonçalves - colecção Os Olhos e a Memória - Editora Limiar - 1975)

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