por Carlos Matos Gomes
A propósito dos atentados de Bruxelas (mas podia ser sobre os de Paris, ou de Londres, ou dos que se seguirão). Oiço: os jovens terroristas radicalizaram-se nas mesquitas da Europa. Radicalizar quer dizer: tornaram-se terroristas religiosos. Nunca ouvi perguntar pelas razões porque vieram os pais dos terroristas para Paris, para Londres, para Bruxelas…
A resposta não é agradável para os políticos europeus e americanos do pós guerra fria, do pós colapso da União Soviética. Um pequeno e pouco rigoroso exercício de memória:
Nos anos oitenta, nos países de onde vieram os pais dos terroristas religiosos, os tais que se radicalizaram, existiam regimes laicos – não eram democracias ocidentais, mas as mulheres andavam de cara descoberta, de perna ao léu, ouvia-se música ocidental, aprendia-se inglês, ou francês, dançava-se. O regime sírio de Hafez el-Assad era tolerante em termos de religião e de costumes. Assim como no regime de Saddam Hussein, no Iraque. Na Pérsia (agora Irão), o Xá da Pérsia, Reza Pahlevi tinha uma mulher toda práfrentex – Farah Diba – depois de se divorciar de outra também muito igual às ocidentais das revistas cor-de-rosa, a triste Soraya. Bebia-se e dançava-se em Teerão. Os ayatollahs eram considerados uns grunhos, tipo cardeal Torquemada da Inquisição. No Egito de Nasser e de Sadat as mulheres tomavam banho de bikini, bebia-se, ouvia-se música, viajava-se. Discutia-se. Na Turquia dos continuadores de Ataturk o mesmo, um ambiente aberto ao mundo. No Afeganistão até existiu uma República Democrática de 19778 a 1992 – não foi assim há tanto tempo, que o génio visionário de Ronald Reagan substituiu pelos mujahideen governo republicano e liberal que tinha sido instituído por Zahir Saha, porque era pró-soviético. Reagan e os seus cabeças de dólar preferiram o Ben Laden e a Alqaeda! Bela escolha! Na Líbia, Khadafi não era flor de estufa, mas tomava conta da porta da África negra e dos islamitas radicais – o Ocidente (a França e a Inglaterra) matou-o.Todos os regimes que, com mão mais ou menos pesada, mantinham os fundamentalistas religiosos em respeito foram derrubados pelo Ocidente e pelo Ocidente substituídos por bandos chefiados por clérigos fundamentalistas, assassinos, traficantes avulso que são a base do Estado Islâmico, do Daesh ou de como queiram chamar aos nazis islâmicos. Isto em nome da democracia, que os treinou e armou para destituir o Assad da Síria que impede o assalto das petrolíferas aos poços do Irão! Na realidade esses regimes laicos foram derrubados e substituídos para o Ocidente e as suas empresas petrolíferas e de armamentos agirem e explorarem à sua vontade os recursos desses países. Escapou a esta limpeza petrolífera, em nome da democracia, o ninho da serpente: a Arábia Saudita!A destruição dos regimes mais ou menos laicos do médio oriente e da bacia do Mediterrâneo para as petrolíferas ocidentais e as empresas de armamento fuçarem sem restrições provocou uma vaga de emigrantes, que a Europa recebeu deixando-os à vara larga, em autogoverno, à margem das leis locais. O Ocidente chamou globalização e mercado livre ao saque das suas companhias feito sobre as riquezas locais. Chamou democracia ao governo de cúmplices locais. Chamou multiculturalismo à irresponsável demissão de vigilância sobre o comportamento dos parias que acolhia. Os Estados do Ocidente entregaram a sua estratégia aos seus mercadores, demitiram-se de defender internamente os seus princípios civilizacionais e agora admiram-se que, depois de admitida a poligamia, a violência sobre as mulheres, a imposição de leis à margem das leis nacionais e da cultura dos países de acolhimento, os jovens radicalizados entendam que o Ocidente é uma terra de infiéis. Têm razão: somos infiéis à nossa cultura e aos nossos princípios.
Os atentados de Paris e de Bruxelas e os que se seguirão devem-se à criminosa ausência de princípios, e à ganância de políticos com nome: Reagan, Tatcher, Bush, Blair, Kissinger, Zbigniew Brzezinski e, mais perto, Sarkozy, Hollande, Cameron…
Os mortos de hoje merecem uma reflexão para prevenir o futuro. É a melhor forma de os respeitar.
(Nas fotos: Ben Laden com Zibgniew Brzezinski e Bush com o amigo saudita)
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